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Paz entre motos e carros virá com respeito, não com proibições; Grupo Izzo encerra atividades

Motos avançam pelo corredor em via paulistana - Rafael Hupsel/Folha Imagem
Motos avançam pelo corredor em via paulistana Imagem: Rafael Hupsel/Folha Imagem

Roberto Agresti

Colunista do UOL

12/10/2012 10h46

Quem faz uso diário da motocicleta nas grandes cidades, em vez de usar automóvel ou transporte público, sabe que tal escolha traz consigo uma série de pontos a favor e outros tantos contra.

Um grande ponto favorável vem da incomparável agilidade que tal meio de transporte oferece. A capacidade de se esgueirar entre as filas de veículos proporciona a quem opta pelo guidão uma considerável redução de tempo nos trajetos. A invejável vantagem acaba tornando possível desconsiderar os piores horários do trânsito, uma vez que com ou sem congestionamentos, as distâncias serão cobertas em tempo semelhante.

Boa parte da disseminação da moto em nosso país se deu por conta desta agilidade, todavia, nuvens negras pairam ciclicamente no horizonte, quando surgem tentativas de proibir a circulação das motocicletas entre os carros, no chamado "corredor".

Artigo proibindo esta prática constava da reformulação do Código Nacional de Trânsito, que entrou em vigor no começo de 1998, mas foi vetado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Porém, como se trata de tema polêmico, legisladores sempre voltam à carga tentando reabilitar o dispositivo que simplesmente mataria a mais evidente vantagem do uso de motos.

A VOZ DAS RUAS
O cerceamento da agilidade da motocicleta tem como justificativa recorrente a contenção do número de acidentes. É fato que a proliferação dos veículos de duas rodas motorizados em todo o Brasil vem causando uma escalada de vítimas, que alarma a sociedade como um todo. O cidadão que se vê impotente face ao problema também percebe o Estado inexperiente para lidar com a questão.

Na raiz da questão, mais do que onde a moto circula -- corredor de grandes avenidas, rodovias, estradas vicinais ou ruas de bairro -- está "como" a moto circula. É típico de nosso país o processo que, identificado um problema, se tenta resolvê-lo na base da letra da lei, que neste caso se converteria em efetiva letra morta.

Por diversas razões, que vão da própria incapacidade e/ou impossibilidade de fiscalização séria e contumaz ao surreal e antidemocrático impedimento da melhor capacidade do veículo de duas rodas, a mobilidade pode perder seu elemento compensador da série de evidentes desvantagens face ao carro -- maior exposição ao risco e à intempérie, além do conforto reduzido.

Ouvir ambos os lados da questão seria adequado. A voz dos motociclistas revelaria um panorama de grande contrariedade a qualquer ação que lhes roubasse a maior vantagem da opção pelo guidão. Já pela boca de quem está em seu carro paralisado no engarrafamento, ou se movendo a velocidades ridículas por vias chamadas de "expressas", a passagem da pequena e veloz moto a centímetros de seu veículo não estaria certamente catalogada como sensação agradável.

EDUCAR, NÃO PROIBIR 
Injusto proibir, impossível deixar do jeito que está. O que fazer? 

O bom senso e pensamento equilibrado será, no caso, o melhor recurso: tolher a mobilidade das motos seria antidemocrático, e paralisaria ainda mais o já lento trânsito das grandes metrópoles brasileiras. Porém, relativizar o risco e inconveniência de cada vez maior número de motos passando em velocidade incompatível por um estreito corredor de menos de um metro de largura não pode ser aceitado como normal.

A solução vem da educação, conscientização e espírito de colaboração. É um delírio imaginar que a simples proibição de uma conduta disseminada e arraigada consiga eliminar a conduta sem algum ônus. O problema não é a moto circular no corredor, mas sim a excessiva velocidade, mau hábito de alguns motociclistas que, quando associado ao mau hábito de outros motoristas, como mudar de faixa sem a devida sinalização, é a causa maior dos acidentes.

Nesta pororoca entre imprudência e desatenção, na maioria das vezes ao motorista cabe o dano material, ao motociclista o físico. E se nada de pior ocorrer, ambos voltam para casa com uma dor de cabeça de ordem legal: quem tinha razão, quem não tinha, quem paga o que.

Associações de fabricantes, o Estado, órgãos de trânsito e entidades civis fazem efetivamente pouco em favor da educação e conscientização do motociclista e motorista brasileiros. Pesa contra os usuários de todo tipo de veículo uma já comentada (releia a coluna publicada em 1º de junho) má formação prática e teórica, além de fatores decorrentes da falta de sinalização adequada nas vias e devida conservação do pavimento.

Neste empurra-empurra de responsabilidades, há muito jogo de cena, mas pouquíssima substância. O que dá margem a atitudes arbitrárias e pirotécnicas, que pretensiosamente almejam, com um golpe de caneta, acabar ou diminuir problemas que exigiriam um enfoque mais sério, planejamento, investimento consistente e, acima de tudo, um pacto de não beligerância entre quem está com o guidão nas mãos versus quem nelas tem um volante.

MOTONOTAS

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+ Inocêncio de Oliveira, deputado federal por Pernambuco, é autor do mais recente projeto de lei, atualmente em fase de análise na Câmara, que veta aos motociclistas a "passagem entre veículos de filas adjacentes", ou seja, pelo chamado corredor. Pelo texto do PL (Projeto de Lei) 3626/12, "condutores de motocicletas, motonetas e ciclomotores deverão circular exclusivamente pelo centro da faixa de rolamento do trânsito". 

  • Divulgação

+ O Grupo Izzo encerrou suas atividades comerciais. Representante das marcas KTM e Ducati no Brasil -- e no passado de Harley-Davidson, Aprilia, Husqvarna, Triumph, MV Agusta e Benelli entre outras -- a nota endereçada as clientes dá conta que a empresa manterá ações administrativas e decide "compactar e encerrar as atividades comerciais". Deixa um grande rastro de clientes insatisfeitos.

+ Gabriele Del Torchio, principal executivo da Ducati (agora pertencente ao Grupo Audi) fez saber desde Colônia (Alemanha), onde se realizou o Salão de Motos (Intermot), que apesar da dissolução do acordo com o Grupo Izzo (ao que consta em esfera judicial) os planos de montar as Ducati em Manaus estão mantidos.

+ A KTM também "discute a relação" com o Grupo Izzo em âmbito legal, desde os primeiros meses de 2012, tendo por conta disso abortado seus pretensiosos planos de produzir motos no Brasil.

+ Harley-Davidson e, ao que parece, também a Husqvarna (marca do Grupo BMW) são outras empresas que tiveram que recorrer a acordos via advogados para cortar seus laços como Grupo Izzo.