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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A MotoGP 2022, como previsto, sem dominadores. Viva!

Largada do GP Argentina da MotoGP - Dorna/divulgação
Largada do GP Argentina da MotoGP Imagem: Dorna/divulgação

Colunista do Uol

06/04/2022 18h04Atualizada em 06/04/2022 18h44

Disputado no final de semana passado, o Grande Prêmio da Argentina, 3ª etapa da temporada, confirmou o que escrevi aqui um mês atrás, antes de o campeonato começar. Os trechos mais relevantes reproduzo abaixo:

"... você que curte a MotoGP, prepare-se para assistir não apenas a maior temporada de todos os tempos..., mas também a mais disputada desde sempre." "O equilíbrio entre motos de diferentes marcas chegou a um estágio nunca visto..."

Vidente, gênio... Nada disso! Apenas um velho observador que, como tantos outros, percebeu que este ano todas as motos estão ótimas e piloto ruim não há. Comprova isso o fato de que em três corridas, nenhum nome se repetiu nos degraus do pódio, resultando nove felizes e diferentes sorrisos, dois deles - os de Bastianini e Aleix Espargaró - vitoriosos na categoria máxima pela primeira vez. Que beleza!

MotoGP - Dorna/divulgação - Dorna/divulgação
Rins, Aleix e Martin na Argentina, mais três pilotos diferentes a pisar no pódio em três corridas.
Imagem: Dorna/divulgação

E mais: a Aprilia venceu pela primeira vez na categoria MotoGP, e nenhuma das seis marcas participantes do campeonato deixou de estar representada nos pódios de 2022, com o placar favorecendo Ducati e KTM (dois pódios e uma vitória cada!) seguidas pela também vencedora Aprilia e pela Suzuki, Honda e Yamaha. Detalhe importante é que as marcas japonesas, as mais poderosas e tituladas da motovelocidade, ainda não venceram.

Alguém mais afoito diria que, visto terem sido apenas motos europeias a vencer, a bússola tecnológica agora estaria apontando para o velho continente, o que não é fato, e repito o que já disse: este ano as motos, de todas as marcas, estão em um nível de excelência extremo. A comprovação vem do estreito tempo que separa quem faz a pole-position de quem larga lá atrás, tendo sido comum nos treinos ver até 20 pilotos empilhados em um mesmo segundo.

MotoGP22 - Dorna/divulgação - Dorna/divulgação
Muitos pilotos, e motos, com potencial para vencer é a característica da MotoGP 2022
Imagem: Dorna/divulgação

Comparei esta realidade com a da atual Fórmula 1, que neste ano teve dois GP disputados. Nos treinos que determinaram o grid de largada do GP do Bahrain, o número de pilotos dentro de um mesmo segundo foi de seis, e no GP da Arábia Saudita, oito. Se tal análise comparativa for estendida ao resultados das corridas, a comparação fica ainda mais malvada para a F1, onde depois de o vencedor cruzar a linha de chegada passaram apenas mais dois carros em um arco de dez segundos, enquanto na MotoGP passaram, em média, sete competidores.

"Ah, Agresti mas não dá para comparar F1 com MotoGP, são dois mundos bem diferentes!", dirá um de vocês. Eu concordo. O atual mundo da F1 é chato, o da MotoGP é excitante. Mas, sem querer polemizar (e já polemizando), volto a equilibra temporada da MotoGP, que no domingo que vem terá uma corrida no Texas, mais precisamente em Austin, pista onde foram realizadas oito Grandes Prêmios da MotoGP, e onde Marc Márquez ousou vencer sete deles. Independentemente do que possa ocorrer domingo, creio que o domínio escancarado de um único piloto é algo que não veremos em 2022. E é exatamente essa provável pulverização de potenciais vencedores o que torna a temporada 2022 imperdível. Márquez está confirmado para o GP de Austin, pomposamente denominado de GP of the Americas (porquê o plural?). Vai pegar leve? Vai fazer só figuração? Duvido...

Ter o talentoso Márquez de volta é esplêndido, mas ele mesmo sabe que os tempos são outros, que o atual estágio da MotoGP 2022 pode ter soprado para longe, e de maneira definitiva, os anos em que ele empilhava vitórias sobre vitórias com sua poderosa Honda RC 213V. Porém, para nossa sorte, é bem melhor sentar no sofá e não ter a menor ideia de quem vai vencer e com qual marca de moto do que ver o domínio absoluto de um único piloto, realidade que marcou diversas eras do Motociclismo, a saber: a era Márquez, a era Rossi, a era Doohan. Era, palavra que além de significar tempo, período, época, também é o passado imperfeito do verbo ser. Faz sentido diante da realidade atual.

MotoGP22 - Dorna/divulgação - Dorna/divulgação
Diogo Moreira, mais uma vez protagonista da Moto3
Imagem: Dorna/divulgação

PS: Diogo Moreira fez seu terceiro GP na categoria Moto3 e, como demonstrou nos anteriores, é uma fera indomável. Na Argentina brigou com os ponteiros durante toda a corrida e chegou em sexto, repetindo o resultado da estreia no Qatar. É um palpite bem pouco arriscado cravar que Diego vencerá um Grande Prêmio em seu ano de estreia, como fez um certo Valentino Rossi na antiga classe 125, em 1996. Veremos.