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Paula Gama

REPORTAGEM

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Profissão sem lei? Por que motoboy parece não respeitar regras de trânsito

Motociclista tenta encontrar espaço em meio ao trânsito carregado de São Paulo - Ernesto Rodrigues/Folhapress
Motociclista tenta encontrar espaço em meio ao trânsito carregado de São Paulo Imagem: Ernesto Rodrigues/Folhapress

Colunista do UOL

31/08/2022 04h00

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Apesar de as motos representarem 14,45% da frota de veículos que circulam pela cidade de São Paulo, apenas 5,35% das multas aplicadas pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP) são direcionadas a motociclistas. Mas o que se vê nas ruas é exatamente o contrário: a sensação é a de que o número de condutores em duas rodas que ignoram as leis de trânsito vem aumentando. Não é difícil flagrar quem anda acima da velocidade, ignora a sinalização e até mesmo transita pelas calçadas.

Edgar Francisco da Silva, conhecido como "Gringo", presidente da AMABR - Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil, afirma que a forma de contrato dos entregadores de aplicativo é uma das grandes causadoras do festival de infrações no trânsito.

"A gente acredita que essa bagunça no motofrete vem da falta de capacitação da galera. Tanto o estado de São Paulo quanto o Brasil tem leis que regulamentam a profissão, exigindo um curso de aulas práticas e teóricas que preparam o profissional e alertam para os riscos da profissão. Mas essas empresas contratam qualquer pessoa que tenha CNH", opina.

Para Gringo, os motofretistas que praticam atrocidades no trânsito não entendem o risco da profissão e acabam se deixando levar expectativas de ganhos maiores.

"As plataformas seduzem os profissionais. Quando chove, por exemplo, e o motofretista decide ir para casa, eles oferecem bônus por corridas, o que faz as pessoas correrem ainda mais, em momento ainda mais críticos. E tem outro fator: eles trabalham muito para ganhar pouco, estão no trânsito sem ter paciência para mais nada", afirma o presidente da associação.

Em 2021, a produção de motocicletas no Polo Industrial de Manaus cresceu 25,9%, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). No acumulado do ano, saíram das linhas de montagem 1.118.790 unidades. Os modelos mais procurados foram os de entrada e de baixa cilindrada, muito utilizados como instrumentos de trabalho e transporte de baixo custo.

O cenário aponta para mais motos na rua, mas, ao menos em São Paulo, o crescimento da frota não foi o suficiente para o aumento da fiscalização. De acordo com a CET, "a fiscalização basicamente é por equipamentos eletrônicos e, portanto, independe da frota. Está mais sustentada pelos pontos de fiscalização".

Os imprudentes não são a maioria

Fundador da Trânsito Amigo e do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto afirma que os motociclistas imprudentes são uma minoria, mas é necessário atenção para que esse grupo não cresça.

"É uma sensação de absoluta impunidade, que vai se firmando cada vez mais. A maior parte dos motociclistas respeita a lei, não gosta desse tipo de comportamento, mas estamos dando a uma minoria o poder de não respeitar. Outros vão percebendo a impunidade e acabam fazendo também, assim esse grupo cresce", comenta.

Segundo Rizzotto o que agrava o problema é a falta de punição e exemplo das autoridades. "A começar pelo presidente, que circula de moto sem capacete ao lado de guardas municipais e policiais rodoviários. Não existe educação no trânsito sem punição. Estamos deseducando sobre regras que demoramos anos para trazer conscientização. Precisamos intensificar a punição porque o problema é multifatorial: além da preservação de vidas - que é primordial - há uma grande questão econômica por trás dos acidentes de trânsito", explica o especialista.

Em 2020, último ano analisado, 79% das indenizações pagas pelo Seguro DPVAT foram destinadas a vítimas de acidentes de moto. Foram cerca de 175 mil indenizações por invalidez permanente. Além disso, cerca de 52 mil pessoas foram indenizadas para pagamento de despesas médicas e outras 17 mil famílias receberam pela morte de algum parente. A maior parte das vítimas tinha entre 18 e 34 anos, no auge da capacidade produtiva.

O que dizem as plataformas

A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa as principais plataformas tecnológicas que atuam na intermediação da prestação de serviços de entregas entre consumidores, estabelecimentos comerciais e entregadores, afirma que a segurança viária é uma das prioridades de suas associadas.

"[Elas] incentivam por meio de campanhas e comunicações constantes a importância do respeito às leis de trânsito, oferecem cursos de capacitação sobre segurança de forma permanente e utilizam a tecnologia para incentivar a condução segura dentro das velocidades permitidas nas vias", disse por meio de nota.

Já o Rappi afirmou que trabalha para estimular o tráfego correto dos entregadores independentes nas vias públicas e não compactua com infrações de trânsito.

"Desta forma, amparado em sua tecnologia, o algoritmo da plataforma atua de forma a identificar o entregador disponível mais próximo, logo após receber um pedido do usuário, levando em conta o menor deslocamento possível para a realização da entrega. O Rappi, enquanto empresa de tecnologia de dados, leva em consideração o tempo de preparo dos alimentos, quando o pedido for feito em um restaurante, e o tempo de picking e packing, quando é um pedido de outros tipos de estabelecimentos. O objetivo é que os entregadores possam trafegar normalmente, sem excesso de velocidade ou cometer infrações, sendo que o tempo de entrega é assegurado a partir da tecnologia da plataforma", disse a empresa em comunicado.

O Rappi disse ainda que, em atenção aos entregadores parceiros e prezando pelo cumprimento das leis de trânsito, oferece, dentre outros pontos, suporte em tempo real, capacitação online, informativos com dicas de segurança no trânsito, botão de emergência para situações de risco de saúde ou segurança e seguro para acidente pessoal, invalidez permanente e morte acidental.

"Além disso, o programa Sou Rappi engloba uma série de ações voltadas aos entregadores parceiros, que são frequentemente melhoradas. Regularmente, a empresa organiza campanhas de distribuição de itens de segurança ou vestuário, incluindo camisa UV para proteção contra sol, casaco para frio/corta-vento, capas de chuva e jaquetas", finaliza.

O iFood foi procurado pelo UOL Carros, mas não se posicionou sobre o tema até a publicação da reportagem.

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