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Ônibus sem parada promete viagem rápida, mas acende alerta sobre segurança
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Quem utiliza ônibus intermunicipais frequentemente no estado de São Paulo já deve ter visto anúncios de linhas que "vão direto", ou seja, não fazem paradas no caminho, com a promessa de economizar até 30 minutos no tempo de viagem. A novidade é consequência da decisão da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (ARTESP) de revogar uma portaria que estabelecia a obrigatoriedade de parada para viagens acima de 170 km, e aumentar o limite para 350 km.
A portaria em questão é a nº 01 de 30 de janeiro de 2013, que foi substituída pela nº 61 de 2022. No entanto, o limite de 170 quilômetros já havia sido estabelecido em 2005 pela ARTESP. À coluna, a agência que regula as linhas de ônibus intermunicipais do estado de São Paulo informou que a mudança considera o limite do tempo de viagem contínua dos motoristas no transporte rodoviário de passageiros a, no máximo, quatro horas, com pausa de meia hora.
"A determinação é estabelecida pela Lei Federal nº 13.103, de 2 de março de 2015 [conhecida como Lei do Motorista]. A Federação dos Usuários de Transportes Coletivos Rodoviários, Ferroviários, Hidroviários, Metroviários e Aéreos do Estado de São Paulo (FUSP) também foi consultada sobre a mudança e se mostrou favorável", afirmou por meio de nota. Também procuramos a entidade citada pela ARTESP, mas não encontramos nenhuma federação com esse nome.
Novas viagens ultrapassam 4 horas
A Viação Cometa, que atua no estado de São Paulo, já começou a atuar dentro das novas regras com a campanha "Vai Direto" que, segundo a empresa, economiza até 30 minutos no tempo total da viagem.
Ao UOL Carros, a viação afirmou que "no Estado de São Paulo, as rotas intermunicipais da modalidade Vai Direto são inferiores a 350 km e têm, em média, menos de 4 horas de duração, portanto o revezamento de motoristas não é necessário. A Viação Cometa reforça que, visando a segurança de seus profissionais e passageiros, não pretende alterar este processo".
No entanto, entre os quatro trajetos que a empresa faz na modalidade, dois deles duram mais de 4 horas, de acordo com informações do próprio site. A viagem mais curta entre Campinas e Franca vendida no site da companhia dura 4h50, já para o percurso entre Ribeirão Preto e São Paulo, a previsão da Cometa é de 5 horas.
Especialistas questionam decisão
O médico Marco Túlio de Mello, que há mais de 10 anos trabalha com fadiga de motoristas profissionais e membro titular da Câmara Temática de Saúde e Meio Ambiente do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), afirmou ao Estradas que a regra anterior era mais segura do ponto de vista de segurança dos passageiros e motoristas.
"A regulamentação anterior da ARTESP era correta, inclusive nós fomos consultados na época que foi estabelecido os 170km. Para segurança viária é preciso parada a cada 2h30 (aproximadamente 170km) ou no máximo 3 horas de direção e 9 horas de jornada. Já do ponto de vista da empresa, eles estão olhando os passageiros pela perspectiva de entrega. Deixa eu entregar rápido os passageiros e usar esse ônibus para trazer mais gente. Esquecem que os passageiros precisam da parada por questão de saúde e segurança", opina.
Rodolfo Rizzotto, coordenador da entidade de vítimas Trânsito Amigo e do SOS Estradas, também não concorda com a nova modalidade.
"Depois de duas horas de direção contínua o motorista começa a perder os reflexos, a partir de quatro horas, começa a ter sintomas de motorista alcoolizado, com aumento considerável da perda de atenção. Além disso, temos que pensar nos passageiros, um idosos não tem condições de ir até o banheiro com o ônibus em movimento, nem de segurar a urina por tantas horas, por exemplo", questiona.
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