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Paula Gama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Febre das picapes: por que novas queridinhas mostram que Brasil não vai bem

Fiat Strada é utilizada para trabalho, mas também como carro de passeio - Divulgação
Fiat Strada é utilizada para trabalho, mas também como carro de passeio Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

01/03/2023 04h00

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Nos dois últimos anos, o veículo mais vendido do Brasil foi uma picape, a Fiat Strada, que parte de R$ 100 mil. Em uma primeira análise, a informação pode dar pistas falsas, indicando que a economia brasileira vai muito bem, já que um modelo de seis dígitos é o preferido do mercado nacional. Mas a realidade é inversa: a situação é tão crítica que, percentualmente, os carros mais caros estão se sobressaindo, já que os compradores de veículos de entrada estão sem poder de compra.

Em 10 anos, a venda de picapes zero-quilômetro saltou de 12% do mercado para 17%, enquanto isso, os SUVs pularam de 8% para 35%. Já os hatches e sedãs (tradicionalmente mais baratos que outros segmentos) caíram de 49% e 24% para 28% e 16%, respectivamente. Os dados foram apresentados pela Chevrolet durante o lançamento da Montana, que chega para concorrer, simultaneamente, com dois sucessos de vendas: Strada e Toro.

Para o consultor automotivo Ricardo Bacellar, o sucesso das picapes é uma continuação da onda que elevou as vendas dos SUVs.

"O fenômeno mostra a mudança de percepção de valor dos brasileiros, que buscam um carro maior, com posição elevada de dirigir e que deem uma sensação de poder, como picapes e SUVs. As picapes não estão sendo tratadas apenas como veículo de trabalho, mas com um apelo de lifestyle. Isso, certamente, demarca novos tempos", explica.

Lembro que as picapes têm uma vantagem em relação aos SUVs: enquanto nos utilitários esportivos o porta-malas é um calcanhar de Aquiles, nelas, sobra espaço para a bagagem na caçamba.

A Strada, considerada uma picape compacta, teve 112.456 unidades vendidas em 2022. Enquanto isso, a Fiat Toro ficou em 16º lugar na lista de modelos mais emplacados no ano, com 49.567 exemplares comercializados. Em seguida veio a Hilux, em 17º, com 48.606.

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Os números provam que a tendência de alta está em segmentos diversos de picapes: compactas, intermediárias e médias. Até mesmo as caminhonetes grandes como Ram 1500, que custam mais de R$ 400 mil, estão ganhando espaço: a Ford chegou ao mercado com a F-150 e a Chevrolet prometeu a Silverado.

Reflexo da crise dos semicondutores

As divisórias de caçamba da Montana deixam claro a proposta "lifestyle" da picape - Foto: Chevrolet | Divulgação - Foto: Chevrolet | Divulgação
As divisórias de caçamba da Montana deixam claro a proposta "lifestyle" da picape
Imagem: Foto: Chevrolet | Divulgação

O aumento da oferta de carros mais caros, como picapes e SUVs, que impactou na redução de modelos de entrada à disposição do consumidor, é um reflexo, segundo Bacellar, da crise dos semicondutores pela qual o mercado automotivo passou em 2021 e boa parte de 2022.

"Para se manterem rentáveis, as montadoras precisaram fazer escolhas estratégicas, como dar preferência para a produção de veículos de maior valor agregado, que são mais lucrativos para a marca. Esse cenário veio ao encontro da queda de poder de compra do brasileiro, já que carros mais caros atendem a uma fatia de mercado que não sentem tanto a crise. Quem sente mais a dor no bolso recua da compra de um carro", esclarece o especialista.

Também tem outro detalhe que torna as picapes um carro mais interessante para o consumidor: elas são mais baratas do que um veículo de passeio correspondente, pois a alíquota de IPI é menor.

Para se ter uma ideia, a Chevrolet Montana recolhe um IPI de 5,2%, enquanto o Tracker, com o mesmo motor 1.2 turbo, recolhe 9,7%. Enquanto a picape custa entre R$ 116 mil e R$ 140 mil, o SUV, que tem a mesma plataforma, mas é menor, varia de R$ 120 mil a R$ 160 mil.

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