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Paula Gama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Carro por assinatura: por que contrato de anos pode ser uma grande furada

Carro por assinatura poupa motorista de lidar com IPVA, vistoria, licenciamento e seguro, mas paga mais caro por isso - Foto: Shutterstock
Carro por assinatura poupa motorista de lidar com IPVA, vistoria, licenciamento e seguro, mas paga mais caro por isso Imagem: Foto: Shutterstock

Colunista do UOL

14/03/2023 04h00

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A vida do brasileiro que sonha com um carro zero-quilômetro não está fácil. Além da alta do preço do veículo, seguro e IPVA também subiram proporcionalmente. É nesse momento que um contrato de assinatura, pagando apenas a mensalidade, sem se preocupar com entrada e análise de crédito, pode parecer um excelente negócio. Em alguns casos, a assinatura realmente é vantajosa, mas é preciso atenção antes de passar anos pagando por ela.

Como a renda do brasileiro não teve alta proporcional ao preço do carro, é de se imaginar que, para boa parte da população, o orçamento da família não comporta mais a compra de um carro zero. Com o crédito negado ou grana apertada para a entrada, a assinatura vem a calhar. Paga-se um valor mensal, semelhante ao da parcela do financiamento, incluindo seguro e documentação. É o que explica Cássio Pagliarini, consultor automotivo.

"Definitivamente, está mais difícil comprar um veículo novo, principalmente para quem precisa financiar: o preço e as taxas de juros subiram e o crédito está mais escasso. Esse é um dos motivos de estar crescendo a procura por assinatura de veículos, pois a pessoa usufrui sem contrair a dívida e não precisa de aprovação de crédito, mesmo que pague mais caro por isso", opina.

Para quem tem o valor para dar uma entrada, o consultor da ADK Automotive, Paulo Roberto Garbossa, avalia que o carro próprio ainda é mais vantajoso.

"Se em caso de necessidade você precisar se desfazer do carro, pode até perder dinheiro, mas se livrar daquela conta extra que você tem, ou caso esteja quitado, até fazer dinheiro. No caso do veículo por aluguel, em caso de rompimento do contrato, as multas chegam a até metade do valor restante do contrato.

Alugar por anos não vale a pena

Em quatro anos de assinatura do Kwid, o contratante gasta mais do que o valor do carro zero - Divulgação - Divulgação
Em quatro anos de assinatura do Kwid, o contratante gasta mais do que o valor do carro zero
Imagem: Divulgação

Se a família precisa de um carro na garagem e a compra de um modelo zero não é uma opção, é importante entender se o cenário é temporário ou deve durar por anos. Se for o segundo caso, é mais vantajoso avaliar um usado.

A microempreendedora Lorena Vasconcellos explica que o carro por assinatura foi uma luz no fim do túnel de um momento difícil, mas com o passar dos anos a situação se complicou.

"Eu dei perda total em um carro sem seguro. Fiquei sem dinheiro para a entrada, sem carro, um sufoco. Como trabalho atendendo ao público a domicílio, parti para assinatura. A questão é que, como a parcela não é barata, não estou conseguindo juntar o valor da entrada de um carro próprio. O que era para ser temporário já tem três anos, já paguei quase um carro zero de mensalidade", pondera.

Para fazer uma simulação, usamos como exemplo o Renault Kwid, o modelo mais barato do Brasil, também escolhido por Lorena. Para a compra, a versão Zen custa R$ 68.190. No Renault On Demand, serviço de assinatura da Renault, tem uma mensalidade de R$ 1.949 no contrato de um ano, com uma franquia de 1.000 km rodados por mês. No maior contrato, de 48 meses, ou quatro anos, a mensalidade cai para R$ 1.589.

Se tivesse comprado o Kwid, por ano, Lorena teria um gasto de R$ 4,3 mil (cotação Youse) com seguro para o veículo, além de 4% do valor do carro com o IPVA. Como não há como prever o valor no Kwid nos próximos quatro anos na Tabela Fipe, vamos considerar R$ 68 mil, seu preço de partida. Nesse caso, um gasto de R$ 2,7 mil por ano com o imposto.

Em quatro anos, a contratante da assinatura terá desembolsado R$ 76.272. Caso tivesse comprado à vista, teria gastado, no mesmo período, R$ 96.190 - somando o carro, seguro e IPVA. A diferença é que quem compra tem o bem em seu nome, para usar por mais tempo ou vender. No caso da assinatura, ao fim do contrato, a microempreendedora não terá nada.

Comprar à vista não era uma possibilidade para Lorena, assim como investir o dinheiro que seria direcionado ao carro em uma aplicação. Mas a título de avaliação, de acordo com o simulador da BTG Pactual, em um cenário conservador, é esperado que em quatro anos, um montante de R$ 68 mil suba para R$ 103.878,95. Considerando o gasto com a assinatura, sobraria R$ 27.606 do montante.

Se tivesse comprado o carro à vista, o proprietário teria gastado R$ 96 mil no total, mas estaria com um bem para revender. Vale lembrar que os veículos, mesmo os seminovos, tiveram grande valorização nos últimos anos. Em março de 2018, o Kwid Zen zero-quilômetro saía por R$ 36,7 mil. Hoje, essa mesma unidade custa R$ 42,7 mil como seminova, de acordo com a Tabela Fipe - uma valorização de mais de 16%.

Para quem pode investir o valor do veículo, o cenário muda e a assinatura pode compensar se for considerada a comodidade de não contratar seguro e também não se preocupar com a revenda, mas financeiramente, continua não sendo a melhor opção.