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Paula Gama

REPORTAGEM

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Por que dois homens em uma moto viraram o terror do brasileiro

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

22/03/2023 04h00

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As motos viraram uma verdadeira febre no Brasil. Em 2022, 1,3 milhão de motos novas foram vendidas, um volume 17,7% superior ao do ano de 2021. Facilidade para fugir do trânsito, baixo custo de aquisição e manutenção e menor consumo de combustível estão entre as vantagens do veículo, mas não são apenas as pessoas de bem que perceberam isso.

Junto com o aumento de motos transitando nas grandes cidades brasileiras também cresceram os crimes sobre duas rodas. Assaltantes estão aproveitando a facilidade de disfarce - devido ao capacete - e maior versatilidade para fuga para fazerem das motocicletas uma grande aliada para o crime. Não à toa, se deparar com "dois homens em um moto" em uma rua deserta virou um grande pesadelo para os brasileiros.

A aposentada Maria Mendonça conta que a insegurança trouxe a sensação ruim de desconfiar de todos. "Fui assaltada por dois criminosos que me abordaram de moto. Resultado, não posso nem ouvir um barulho de moto que me arrepio toda. Sei que os motociclistas e outros trabalhadores que usam o veículo como meio de locomoção não têm nada a ver com isso. Mas é quase involuntário", lamenta.

UOL Carros pediu à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo dados sobre os assaltos a duas rodas, para saber se o número de crimes cometidos com ajuda da motocicleta realmente aumentou, mas não recebeu os números até o fechamento desta reportagem.

O órgão respondeu que "trabalha para interromper o ciclo de crimes realizados por criminosos utilizando motocicletas e realiza análise das ocorrências georreferenciadas, que são compartilhadas com as forças policiais para a distribuição do efetivo em locais estratégicos e intensificação de investigações de ocorrências com o mesmo modus operandi".

Também afirmou que, desde o começo do ano, o policiamento foi reforçado pela Operação Impacto, com o objetivo de ampliar a ação ostensiva, potencializar a percepção de segurança e reduzir os indicadores criminais. Desde o dia 11 de janeiro deste ano, até o último domingo (29), foram 778 detidos, 54 armas de fogo retiradas das ruas e mais de uma tonelada de drogas apreendida na Capital e na Grande São Paulo pela operação citada.

Apesar de a Secretaria de Segurança não apresentar números, o especialista em segurança pública Raphael Pereira afirma que existe um aumento claro nesse tipo de abordagem.

"Tem se observado que a moto se tornou um modal logístico facilitador para o criminoso. Primeiro de tudo, pela facilidade de fuga. O criminoso entra em vielas, muda de direção no trânsito e foge com muito mais fluidez, já que as viaturas não conseguem acompanhar. Outra questão é que é mais fácil se disfarçar em meio a outros veículos e também esconder a placa. Os truques são inúmeros", explica o especialista.

Segundo o profissional de segurança pública, a força policial tem investido em agrupamentos e policiamento ostensivo de moto para coibir esses crimes nas principais cidades brasileiras. A razão é que uma moto tem mais capacidade de alcançar a outra em perseguições policiais.

Dois homens em uma moto

Meme dois homens em uma moto - Reprodução - Reprodução
Meme dois homens em uma moto
Imagem: Reprodução

Como o brasileiro faz piada até mesmo com as piores tragédias, memes sobre "dois homens em uma moto" assustarem mais do que qualquer filme de terror se espalharam pelas redes sociais. De acordo com Raphael Pereira, essa é a principal característica do roubo sobre duas rodas: ser cometido em dupla.

"Normalmente, um está armado e o outro é responsável pela fuga. Às vezes, eles saem em dupla para roubar outras motos. Nesse caso, o da garupa dirige o veículo roubado. Para não sair desconfiando de toda moto que passar, a dica é prestar atenção ao comportamento dos indivíduos. Se eles passam mais de uma vez por você, escondem a placa ou passam olhando demais, procurando bens de valor, é importante se afastar", alerta Pereira.

Outra orientação do especialista em segurança pública é não circular em vias públicas, principalmente as pouco movimentadas, com bens de valor e dinheiro à mostra. "O celular na mão é um dos principais chamarizes para os criminosos. Ainda mais em um crime sobre a moto, quando fica fácil fugir", finaliza Raphael Pereira.

Estigmatizados

O motoboy Leandro Oliveira lamenta que o crime sobre duas rodas torne a profissão ainda mais estigmatizada. "A cada notícia sobre um assaltante de moto, é mais um olhar torto que recebemos nas ruas. Entendo que as pessoas estão apavoradas, mas também espero que a segurança pública consiga dar um jeito nisso, pois somos trabalhadores dignos mal vistos pelo mau comportamento dos outros. Às vezes, além de tudo ainda temos nossa moto roubada para cometerem crimes", reclama.