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Por que os motoboys continuam fazendo o que querem no trânsito
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Quem circula por uma grande cidade brasileira como São Paulo flagra a todo momento motociclistas, principalmente a trabalho, cometendo todo tipo de atrocidade no trânsito. A qualquer hora do dia, são centenas, e por que não milhares, de motos costurando perigosamente entre os carros, circulando na contramão e até mesmo nas calçadas e passarelas. A sensação é que não há leis para eles. Afinal, o que está acontecendo?
A situação vem sendo denunciada pelo UOL Carros e por toda a sociedade há meses e não há como o poder público, associações e contratantes dizerem que não perceberam.
Para se ter uma ideia, o momento é tão crítico que mesmo as motos representando apenas 15,7% dos veículos em circulação na cidade de São Paulo, os motociclistas são maioria em número de mortes no trânsito. Em 2021, segundo um estudo da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), morreram 363 motociclistas, 286 pedestres, 130 motoristas/passageiros e 44 ciclistas na Capital. No mesmo período, foram registrados 4.671 feridos em sinistros em que as pessoas estavam em motocicletas.
Os números apontam para um verdadeiro caos. Mas por que os motociclistas continuam a agir como se não houvesse amanhã, arriscando a própria vida diversas vezes em um dia?
Presidente da Associação de Motofretistas de Aplicativo do Brasil (AMA-BR), Edgar Francisco da Silva, conhecido como "Gringo", não nega e nem concorda com o comportamento de boa parte de seus colegas. Para ele, a principal razão é a falta de exigência para quem exerce a profissão.
"Estamos falando de uma profissão de risco, uma das que mais sequela e leva a óbito no Brasil. A situação piora quando pessoas que só usavam a moto para deslocamento viram motociclistas profissionais sem nenhum tipo de preparo ou capacitação. Se a Lei 12.009/09 fosse cumprida, eles só poderiam conduzir profissionalmente após um curso que deixa bem claro o risco de sair por aí feito um louco", diz o presidente da entidade.
Para Gringo, a mistura de expectativas de ganhos maiores, falta de educação no trânsito e imprudência está deixando um custo muito alto a ser pago pela sociedade.
"Estamos vendo pessoas morrerem na flor da idade, no alto de sua capacidade produtiva. As plataformas seduzem os profissionais. Quando chove, por exemplo, e o motofretista decide ir para casa, eles oferecem bônus por corridas, o que faz as pessoas correrem ainda mais, em momento ainda mais críticos. E tem outro fator: eles trabalham muito para ganhar pouco, estão no trânsito sem ter paciência para mais nada", afirma.
A Lei citada pelo presidente da associação realmente exige um curso especializado para a prática do motofrete de passageiros e cargas, além disso, é obrigatório que o profissional tenha mais de 21 anos, possua habilitação há, pelo menos, dois anos, e esteja vestido com colete de segurança com dispositivos retrorrefletivos.
A grande questão é que a sanção é para a pessoa natural ou jurídica que contrata o condutor, mas o texto não foi atualizado para a realidade atual, já que os entregadores não são exatamente contratados das plataformas de delivery, mas considerados "parceiros".
A questão já foi levada para uma CPI da Assembleia Estadual de São Paulo e a regulamentação da profissão também está sendo discutida por um Grupo de Trabalho com membros do Governo Federal, sindicatos e plataformas. Se a proposta dos sindicatos vencer, os entregadores passarão a ser funcionários via CLT, então a Lei se aplicará, se as plataformas conseguirem emplacar sua vontade, eles serão autônomos, um tipo de MEI a ser regulamentado. Então, possivelmente, continuaremos na mesma?
Minoria capaz de causar grande estragos
Fundador da Trânsito Amigo e do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, afirma que apesar de muitos, os motociclistas imprudentes são uma minoria, mas é necessário atenção para que esse grupo não cresça.
"É uma sensação de absoluta impunidade, que vai se firmando cada vez mais. A maior parte dos motociclistas respeita a lei, não gosta desse tipo de comportamento, mas estamos dando a uma minoria o poder de não respeitar. Outros vão percebendo a impunidade e acabam fazendo também, assim esse grupo cresce."
Segundo Rizzotto o que agrava o problema é a falta de punição e exemplo das autoridades. "Não existe educação no trânsito sem punição. Estamos deseducando sobre regras que demoramos anos para trazer conscientização. Precisamos intensificar a punição porque o problema é multifatorial: além da preservação de vidas - que é primordial - há uma grande questão econômica por trás dos acidentes de trânsito", explica o especialista.
O que dizem as plataformas
A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa as principais plataformas tecnológicas que atuam na intermediação da prestação de serviços de entregas entre consumidores, estabelecimentos comerciais e entregadores, afirma que a segurança viária é uma das prioridades de suas associadas.
"[Elas] incentivam por meio de campanhas e comunicações constantes a importância do respeito às leis de trânsito, oferecem cursos de capacitação sobre segurança de forma permanente e utilizam a tecnologia para incentivar a condução segura dentro das velocidades permitidas nas vias", disse por meio de nota.
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