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Carro popular: por que proposta de modelos de R$ 50 mil pode ser inviável
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Na última semana, o governo Lula demonstrou que uma das incumbências mais urgentes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, é resolver a ausência de carros populares à venda no Brasil.
Com o modelo mais barato chegando perto de R$ 70 mil, a pasta pretende apresentar, em breve, um plano para redução do preço dos veículos envolvendo ajuste da carga tributária e medidas para baratear o crédito. Qualquer ajuda, de fato, será bem-vinda. No entanto, é pouco provável que os novos modelos cheguem a R$ 50 mil, como é a expectativa de muitos.
O valor de "R$ 50 mil a R$ 60 mil" veio à tona após o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) entregarem ao poder executivo um estudo apresentando soluções para aumentar o acesso do brasileiro ao carro zero-quilômetro.
Entre as propostas, incentivo à produção de veículos com maior grau de nacionalização, revisão de alíquotas e criação de linhas de crédito mais barato e de longo prazo - a contrapartida seria dar mais garantias aos bancos, como o uso do Fundo de Garantia.
Na prática, o valor ventilado na imprensa pelas entidades, de R$ 50 mil a R$ 60 mil, abre brechas para muitas análises. Vou usar como exemplo o Renault Kwid, um dos modelos mais baratos do país, que custa R$ 68.900. A carga tributária (ICMS, IPI, Cofins e PIS) representa cerca de 30% do valor do carro. Isso significa que para o modelo chegar a R$ 50 mil (27,4% a menos), o governo precisaria abrir mão de, basicamente, todos os impostos - o que não deve acontecer. Para chegar a R$ 60 mil, o valor do veículo precisa ser achatado em 12,9%, algo mais real, mas ainda assim pouco provável.
A montadora pode reduzir a margem de lucro para ganhar no volume, é claro, mas é importante ressaltar que, devido ao aumento do preço dos insumos e falta de componente, os carros de entrada já não são tão lucrativos como em outrora. As margens ficaram tão apertadas que muitas marcas desistiram de continuar brigando por espaço nesse mercado, apostando apenas em modelos mais caros.
O que as montadoras podem fazer?
Certamente, a redução de impostos não deve ser a única estratégia para a redução dos preços dos carros, mas mesmo que as montadoras entrem na jogada, produzindo carros menos equipados, chegar aos R$ 50 mil ainda é um desafio imenso.
"Considerando toda a legislação que temos hoje, com exigência de mais itens de segurança e menos emissões, é impossível reduzir o preço do carro a R$ 50 mil retirando equipamentos. O que as montadoras podem fazer é retirar as calotas, não usar para-choques pintados e produzir um carro sem frisos e outros itens considerados supérfluos, mas isso reduziria até 3% do custo de produção. Se for além disso e retirar ar-condicionado e direção hidráulica, ninguém vai comprar", avalia o consultor automotivo Cássio Pagliarini.
O sócio da Bright Consulting explica que os modelos mais baratos do país, Renault Kwid e Fiat Mobi, já utilizam muitos recursos para redução de custos, portanto, resta pouco para tirar.
"O que vejo como possível é a redução de 3% no custo do carro, por parte das montadoras, e redução de 3% na carga tributária. Unindo isso à oferta de financiamento com taxas menores, e garantia de crédito para os bancos, tem-se uma estratégia viável", afirma.
Com essas medidas, que reduziram o preço inicial do carro de entrada para cerca de R$ 65 mil, de acordo com Pagliarini, seria possível aumentar o volume de vendas de veículos em 200 mil a 300 mil em um ano. "Para chegarmos a R$ 50 mil, só se o carro fosse menos seguro, mais poluente, mais gastão e menos equipado - coisas que o cliente não quer", pontua o consultor.
Solução completa
Segundo o consultor da Bacellar Advisory Boards, Ricardo Bacellar, o caminho para aumentar o acesso da população ao carro zero-quilômetro passa por uma reforma tributária ampla, que não esteja restrita ao setor automotivo, para aumentar o consumo geral.
"É fundamental adotar ações que recuperem o poder de compra dos brasileiros. Não basta baratear o produto, mas também aumentar a renda média do consumidor, gerar empregos, movimentar a economia e investir em capacitação", afirma o especialista.
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