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Carro popular: por que está tão difícil financiar a compra de um veículo?
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Desde que o governo anunciou medidas para incentivar as vendas de automóveis zero-quilômetro, um problema ficou evidente para quem foi às concessionárias: a taxa de juros do financiamento automotivo está altíssima.
De acordo com dados do Banco Central, as alíquotas do crédito automotivo pré-fixado variaram de 13,38% a 60% ao ano na primeira semana de junho. Os números assustadores são impeditivos para muitos colocarem um carro na garagem, ainda que os preços continuem em baixa. Afinal, o que está acontecendo?
As taxas impeditivas são um conjunto de dois fatores: a alta da Selic, fixada pelo Banco Central em 13,75%, e da inadimplência nos financiamentos de veículos. Para se ter uma ideia, em março de 2023, 5,5% dos contratos estavam sem pagamento há 90 dias. O menor índice dos últimos cinco anos foi de 3%, em 2020, de acordo com a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras.
O consultor automotivo Cássio Pagliarini explica que a inadimplência é problemática porque o prejuízo dos bancos nesses contratos são compensados nos acordos futuros.
"Quando você está pagando juros há o custo do empréstimo do dinheiro. Ou seja, aqueles 5% de veículos que não foram pagos são colocados dentro do custo dos outros contratos. Então, além de baixar a taxa de juros básica, é preciso acelerar o processo de recuperação de veículos cujos contratos não são pagos". Dessa forma, segundo o especialista, as instituições não precisariam repassar o débito, pois recuperariam o bem.
Para o presidente da Anfavea - associação de montadoras -, Márcio de Lima Leite, a situação da taxa de juros está tão crítica que atrapalha mais a compra e venda de veículos do que os próprios preços dos automóveis.
"Hoje, o problema real chama-se taxa de juros. Não adianta ter uma medida ou outra, o mercado hoje precisa de crédito acessível, há dois anos, a gente vendia 70% dos carros a crédito, neste mês, vão ser menos de 30%. Isso significa que o consumidor médio saiu desse mercado e não está comprando o veículo. O preço é uma variável importante, mas o crédito é mais", afirmou durante uma entrevista coletiva em um evento de descarbonização promovido pela entidade.
E a Selic?
Quem acompanha o noticiário já deve ter percebido que o governo federal está travando uma guerra contra a alta da taxa Selic, fixada pelo Banco Central. Essa é a taxa básica de juros, que influencia todo crédito oferecido no país, inclusive o automotivo. Enquanto o BC dá indícios de que só promoverá cortes em setembro, o Planalto acredita que não há mais motivos para mantê-la a 13,75%.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, no encerramento do seminário de descarbonização promovido pela Anfavea, afirmou que tem convicção de que haverá uma queda da Selic.
"Queria chamar atenção porque o juro não está parado em 13,75%, o juro real está subindo, porque à medida que a inflação cai e a taxa se mantém igual, nós estamos aumentando o juros real sem ter inflação que demanda", pontuou.
O economista Igor Lucena explica que o aumento da Selic visa controlar a inflação e equilibrar a economia.
"Durante a pandemia, observou-se um desbalanceamento na economia, com o maior conjunto de medidas fiscais e tributárias da história. Com a retomada das atividades econômicas, houve um aumento na demanda por serviços, gerando um desequilíbrio entre oferta e demanda em diversos setores, aumentando o preço dos produtos. Esse cenário inflacionário e incerto demanda que o Banco Central adote medidas como o aumento da taxa de juros para controlar a inflação", explica.
Segundo ele, o governo gasta muito, sendo o maior tomador de crédito no Brasil, o que acaba impactando toda a economia. Como resultado, as pessoas têm que competir com o governo pelo crédito, levando a um aumento nas taxas de juros.
Apesar da inflação em baixa, de acordo com o economista, na análise do Banco Central, ainda há incertezas, como a espera da aprovação do arcabouço fiscal - que pode frear os gastos do governo - e a reforma tributária, que deve atrair investimentos e alavancar a economia.
"Não estamos com uma taxa de 13,75% aleatoriamente, é para o governo conseguir controlar a inflação a longo prazo. Trata-se de uma análise técnica. Mas, agora, existe um espaço real para a queda da taxa de juros, talvez em agosto comecem quedas leves", opina o especialista.
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