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Paula Gama

REPORTAGEM

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Por que vendas de carros caíram em junho mesmo com descontos do governo

Colunista do UOL

27/06/2023 04h00

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Apesar de o programa de incentivos para a compra de carros zero-quilômetro ser considerado um sucesso pelo Governo Federal, até a última parcial, no dia 22, o mês de junho está sendo de queda de 15,15% na média diária de vendas de veículos. Os números são da base de dados Fenabrave/Senatran reunidos pela Cavalcante Consultoria.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o volume usado dos R$ 500 milhões destinados ao segmento de automóveis leves já passou de 90%, mas não é o suficiente para as vendas superarem o mês de maio, que já foi considerado ruim para o setor.

Primeiramente é importante lembrar que há carros vendidos que não aparecem nas estatísticas por ainda não terem sido faturados e emplacados. Mas a principal razão da queda é que, desde que o benefício foi anunciado, em meados de maio, as locadoras, principais clientes da indústria automotiva, deixaram de comprar carros à espera dos descontos. Sozinhas, elas compram cerca de 40 mil veículos mensalmente.

O consultor automotivo Marcelo Cavalcante de Lima explica que o varejo vendeu, até o dia 22, 57.333 unidades, ficando estável em relação ao mês de maio, com um crescimento de apenas 0,09%. Já o atacado vendeu 35.509 veículos, e registra uma queda de 32%. O detalhe é que maio já foi considerado um mês ruim, pois os clientes adiaram suas compras para aproveitarem os descontos.

"A queda nas compras das grandes frotistas, somada à postergação da última semana do mês de maio, é preocupante. O desajuste dos estoques das montadoras tem a tendência de provocar paralisações na produção, principalmente, nas marcas que têm maior penetração no setor de locação", opina.

O especialista destaca que as marcas que mais alocaram recursos no programa continuam registrando quedas. É o caso da Fiat e da Jeep que, juntas, são responsáveis por R$ 190 milhões dos recursos autorizados pelo governo, mas assistem as vendas caírem em 25% e 20%, respectivamente, devido à redução de compras das locadoras.

Locadoras querem os benefícios

Em entrevista à coluna, Paulo Miguel Júnior, conselheiro da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), afirmou que desde que o programa foi ventilado na imprensa, em maio, as locadoras suspenderam suas compras de veículos de até R$ 120 mil para aguardar pelos descontos.

Ele disse que, além dos benefícios do governo, o grupo esperava mais descontos das próprias empresas, já que as compras seriam feitas em grande volume.

"A gente ainda não tem uma tabela ou preço sugerido desses carros para locadoras. Ainda não sabemos se haverá mais descontos, mas há expectativa, porque são compras de volume. Sempre há uma diferença quando se compra no atacado", avalia.

Apesar da animação, na última quarta-feira (21), dia em que as locadoras poderiam começar a desfrutar dos benefícios, já que as regras iniciais direcionaram os primeiros 15 dias apenas para pessoas físicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prorrogou o prazo para mais 15 dias. A Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA) disse que recebeu a mudança com surpresa.

"A prorrogação impede exatamente o principal cliente das montadoras, responsável pela compra de 30% dos automóveis e comerciais leves vendidos no país - e que assim contribui diretamente para a estabilidade da indústria automotiva, de participar do programa que também foi criado para que as montadoras pudessem vender estoques parados", afirmou.

A ABLA disse ainda que "caso a medida ainda venha a contemplar todos os compradores, PJ e PF, em um cenário em que o incentivo se torne isonômico e não discriminatório, aí sim alcançará o objetivo de também ampliar a produção, o que é fundamental para a efetividade da MP e o fomento aos empregos na indústria automotiva".

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