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Paula Gama

REPORTAGEM

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Por que vendas de carros caíram mais de 50% em Minas Gerais em junho

Colunista do UOL

28/06/2023 04h00

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O número de carros comercializados nos primeiros 20 dias de junho no estado de Minas Gerais caiu 53% em relação a maio, mês em que as vendas já haviam caído 5,6% em todo o país. Os números, da base de dados Fenabrave/Senatran e reunidos pela Cavalcante Consultoria, mostram a importância das locadoras para o emplacamento de veículos no estado.

O cenário poderia ser ainda pior, já que cerca de 70% dos veículos emplacados no estado são destinados a aluguel.

"Minas Gerais é um estado grande que deve quase todo seu emplacamento de veículos às locadoras. Tudo começou há algumas décadas, quando as locadoras passaram a pagar um IPVA menor no estado, o que fez com que várias empresas do ramo fixassem sua sede por lá", explica o consultor automotivo Marcelo Cavalcante.

O incentivo fiscal não é exclusivo de Minas, vários estados seguiram o mesmo caminho quando a iniciativa foi considerada bem sucedida. Foi então que o Departamento de Trânsito mineiro apostou em mais benefícios, como simplificação do processo de transferência de veículos para locadoras, sem a necessidade de vistorias.

Por que as locadoras pararam de comprar?

Desde que o programa de incentivos do Governo Federal para compras de veículos novos foi divulgado, as locadoras, que adquirem cerca de 40 mil carros por mês, decidiram adiar suas compras de veículos de até R$ 120 mil para aproveitar o benefício.

Inicialmente, as empresas ficariam de fora do programa nos primeiros 15 dias, mas o presidente Lula aumentou o prazo exclusivo para pessoas físicas para 30 dias. A decisão acabou adiando ainda mais as compras das locadoras, o que impactou o número de vendas de carros em todo o país, principalmente em Minas Gerais.

"As locadoras jogaram um xadrez para mostrar o seu valor ao Governo. Adiaram as compras o quanto puderam, o que fez as vendas de carros caírem, apesar do programa de incentivo. Mas é fato que em algum momento precisarão repor seus estoques. É importante lembrar que estamos falando do principal cliente da indústria, que comprou 30% dos carros vendidos no ano passado", lembra Cavalcante.

Para o consultor automotivo, o retorno dessas empresas às compras de carros de até R$ 120 mil deve acontecer ainda nesses últimos dias do mês, mas não na quantidade represada. Ele explica que as locadoras compram porque precisam dos carros, e que não vão conseguir segurar por muito tempo.

"Ainda que elas retornem às compras, o mês de junho será de vendas aquém do esperado, mesmo quando todos os veículos vendidos forem, de fato, emplacados. Isso porque todos esperavam crescimento do varejo e que o atacado, ao menos, se mantivesse estável. Mas com a decisão do governo de afastar as locadoras do benefício, houve uma queda de um lado que não superou a subida do outro", pondera.

A Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA) deixou claro que não ficou satisfeita com a decisão do presidente Lula de adiar a participação de empresas no programa.

"A prorrogação impede exatamente o principal cliente das montadoras, responsável pela compra de 30% dos automóveis e comerciais leves vendidos no país - e que assim contribui diretamente para a estabilidade da indústria automotiva, de participar do programa que também foi criado para que as montadoras pudessem vender estoques parados", afirmou.

A ABLA disse ainda que "caso a medida ainda venha a contemplar todos os compradores, PJ e PF, em um cenário em que o incentivo se torne isonômico e não discriminatório, aí sim alcançará o objetivo de também ampliar a produção, o que é fundamental para a efetividade da MP e o fomento aos empregos na indústria automotiva".

Montadoras queriam locadoras no jogo

O presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, deixou claro que as montadoras gostariam que as locadoras usufruem do benefício. "Desde o primeiro momento, foram dados 15 dias para que os consumidores [pessoa física] pudessem ter acesso ao seu carro e, na sequência, a pessoa jurídica entraria. Nós lembramos que para os fabricantes é fundamental que as pessoas jurídicas também participem desse programa, pois são esses clientes que mantêm nossas fábricas em funcionamento".

Na análise de Lima Leite, se não fossem as locadoras, provavelmente as fábricas teriam parado mais vezes nos últimos meses. "Nós tivemos 14 paradas de fábricas neste ano, não fossem as locadoras, o número seria muito maior, talvez 20 ou 25", pondera.

A Volkswagen foi uma das montadoras que sentiu a queda nas vendas. Na última terça-feira, a marca anunciou a suspensão temporária da produção em suas três fábricas (São Bernardo do Campo-SP, São José dos Pinhais-PR e Taubaté-SP) devido à estagnação do mercado automotivo.

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