Carros elétricos ficam imprestáveis depois que a bateria perde a vida útil?
Um dos fatores que inibem a escolha por um carro elétrico é o medo do acontecerá com o veículo quando a bateria chegar ao fim de sua vida útil. O temor é justificado, já que são os itens mais caros nesse tipo de automóvel e, alguns anos atrás, chegavam a custar mais do que o valor de mercado do carro. O custo da tecnologia vem barateando, mas será que, de fato, o negócio vale a pena?
Wanderlei Marinho, integrante da Comissão Técnica de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE BRASIL, afirma que o preço da bateria não é barato, mas vem caindo com o passar do tempo. Ele explica que, em 2010, a média era de US$ 1 mil por kWh. Considerando que a bateria dos carros atuais têm entre 30 e 100 kWh, todos os módulos poderiam custar entre R$ 145 mil e R$ 480 mil, aproximadamente.
Atualmente, segundo o especialista, o valor está na casa de US$ 110 por kWh, uma redução gigante, que faz com que o pack custe entre R$ 16 mil e 53 mil, a depender da marca e da capacidade, é claro. Segundo Marinho, a expectativa é que caia para US$ 80 o kWh em poucos anos, deixando o custo da troca completa entre R$ 11,5 mil e R$ 39 mil.
Mas a realidade é que, na prática, em vez de trocar toda a bateria do veículo de uma vez, a substituição é feita por módulos, ajustando apenas o que está danificado, o que reduz o preço da manutenção.
"A bateria do veículo elétrico entrega dois parâmetros: um é autonomia e o outro é potência. É isso que ela vai perder com o passar dos anos, mas demora até que o usuário tenha essa percepção. Em oito anos de uso, por exemplo, o tempo que as montadoras costumam dar de garantia, normalmente, ela ainda não dá sinais de deterioração", explica.
Para o integrante da SAE, o caminho natural é que, com o tempo, as montadoras passem a aceitar a bateria usada como parte do pagamento da nova, uma vez que elas possuem valor de revenda e outras serventias além de tracionar um veículo.
Leonardo Celli, da Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei), é proprietário de um BMW i3 há sete anos. O modelo foi um dos primeiros carros elétricos à venda no país. Nesse tempo, ele rodou quase 150 mil km, uma média aproximada de 20 mil km por ano - quilometragem maior do que a de um brasileiro médio, é bom registrar.
Segundo Celli, o veículo começa a dar sinais de desgaste da bateria, mas ele estima que a troca só seja necessária em 10 anos. "Quando era novo, ele rodava entre 130 e 140 km com facilidade, agora, não chega mais a 110 km. É uma perda de cerca de 25% da capacidade. Na prática, não teve perda de potência, só preciso recarregar mais vezes. Lembrando que meu carro tem uma capacidade energética pequena, é mais antigo, são 18 kWh. Ainda assim, acredito que a troca só será imprescindível, de fato, em 10 anos", avalia.
Leonardo explica que acompanhando a experiência de outros membros da associação de proprietários de veículos elétricos, percebe que os carros mais novos tendem a ter uma degradação menor, porque, com mais autonomia, a quantidade de ciclos de recarga é menor. "Os carros têm vida útil maior quando trabalham entre 30% e 70% de carga, para isso ser viável, precisam de uma autonomia maior."
Bateria de segunda mão
David Noronha, fundador e CEO da Energy Source, empresa que remanufatura, repara, reutiliza e recicla baterias, explica que, se for utilizada corretamente, uma bateria pode durar cerca de 15 anos em um veículo elétrico. Depois disso, ela pode seguir por alguns caminhos: ser útil por, no mínimo, mais sete anos em seu segundo ciclo de vida, como bateria estacionária; ser remanufaturada e vendida entre 60% e 70% do valor de uma nova ou ser reciclada para uso dos metais em outras indústrias.
"Em alguns anos, quando os carros elétricos vendidos hoje precisarem substituir a bateria, possivelmente as pessoas vão vender ou, o mais provável, usá-la como parte do pagamento de uma nova, como acontece na bateria de chumbo dos veículos convencionais", afirma.
O cenário futuro parece favorável aos elétricos: a bateria deve baratear, haverá opção de peças remanufaturadas no mercado, custando 60% do valor, e ainda será possível vender o seu equipamento usado. Mas a realidade é que promessas sobre o que virá sempre causarão insegurança em quem vive no presente. A escolha por um carro elétrico, ao menos por enquanto, não deve ser feita na ponta do lápis, pensando puramente na viabilidade econômica, pois a resposta ainda não é definitiva.
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