Por que Espírito Santo é o estado que mais importa carros no Brasil
Apesar de São Paulo ter a maior frota de veículos do Brasil, é o Espírito Santo, menos populoso estado do Sudeste, que tem o título de principal importador de veículos do país. Mas qual seria a explicação para que isso ocorra?
Entre janeiro e setembro desde ano, o volume de carros trazidos pelo estado chegou a US$ 1 bilhão, valor que representa o segundo maior volume comercial deste século. Para se ter uma ideia, Minas Gerais, segundo colocado do ranking de importações, ainda não alcançou os US$ 700 milhões no mesmo período.
O estado tem uma renda per capita relativamente alta em algumas regiões em comparação com outras partes do Brasil, o que pode resultar em um maior poder aquisitivo e, consequentemente, maior demanda por veículos importados. Mas essa não é, nem de longe, a principal razão. O grande segredo está na infraestrutura portuária e na legislação que incentiva a importação.
Quem importa pelo Espírito Santo tem vantagens na alíquota do ICMS, que é de 4%, e não de 17%, como nos outros estados. O benefício tem efeito cascata, já que impostos como PIS/COFINS e IPI importação utilizam o ICMS como base de cálculo, tornando o negócio ainda mais vantajoso.
Prefeito de Vila Velha, cidade que abriga os portos que são a principal porta de entrada de veículos do país, Arnaldinho Borgo explica que apesar de o Espírito Santo representar apenas 2% da frota de carros de passeio no Brasil, os portos de Vila Velha já respondem por 27% de todo o volume financeiro das operações de importação de carros. O que significa que a maioria dos carros importados chegam pelo estado, mas são distribuídos para o todo o país.
"Essa liderança é impulsionada pela eficiente infraestrutura portuária da nossa cidade e pela sua localização estratégica no mapa logístico brasileiro. É claro que a possibilidade de reduzir alíquotas de ICMS para apenas 4% nas operações de importação ajuda a tornar o Espírito Santo um destino ainda mais competitivo para os importadores nacionais", explica.
A maior parte dos veículos que chegam ao Brasil vem da Argentina (43%), seguida por China (14%), México (11%), Alemanha (8,8%) e Eslováquia (5,7%). No Espírito Santo, no entanto, o cenário é diferente. Nos três primeiros trimestres de 2023, a chegada das montadoras chinesas ao país impulsionou o setor de importações do estado. Comparando com o mesmo período de 2022 - quando as importações totalizaram US$ 444 milhões -, o volume de importações teve um aumento de 225%.
Tanto a BYD quanto a GWM usam os portos capixabas para trazerem veículos ao Brasil. "Em 2012, a Coreia do Sul liderava as importações de automóveis pelo Espírito Santo, seguida pelo Reino Unido, China e Alemanha. Entretanto, em 2023, a China tomou a liderança absoluta deste segmento, com 41% das importações no período de janeiro a setembro, seguida pela Alemanha e pelos Estados Unidos", afirma Borgo.
De acordo com o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Carlos Eiras, apenas no primeiro semestre deste ano, mais de oito mil veículos vindos da China já entraram no mercado nacional pelo porto de Vila Velha, que é atendido por uma importante rede intermodal de transportes.
"A estimativa é trazer, até o fim do ano, 15 mil veículos chineses, principalmente das marcas GWM e BYD, ao complexo portuário de Vila Velha. Daqui, esses carros serão distribuídos a importadores de todo o Brasil. É neste ponto que Vila Velha se destaca, pois sua localização geográfica na Região Sudeste do país é considerada estratégica. A cidade fica em um raio de mil quilômetros de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Salvador: os maiores mercados consumidores da América Latina", explica Carlos Eiras.
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Reportagem
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