Paula Gama

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Por que carros usados estão ficando mais caros mesmo com queda nas vendas

Entre 2020 e 2023, a falta de peças para produzir carros zero-quilômetro causou uma verdadeira revolução no mercado de usados e seminovos. De uma hora para outra, proprietários começaram a vender seus veículos com dois ou três anos de uso por preços semelhantes e até maiores do que compraram.

O tempo passou e os preços começaram a despencar, voltando a patamares mais próximos da "realidade", e deixando muitos no prejuízo. Agora, os números frios apontam para outro cenário curioso: enquanto as vendas caem, os preços voltam a subir. O que está acontecendo, afinal?

De acordo com dados da AutoAvaliar, que mesclam informações da Fenabrave com números de vendas em sua plataforma, setembro foi o mês mais lucrativo do ano neste mercado. No entanto, enquanto o ticket médio dos usados cresceu, as vendas caíram.

As vendas de automóveis usados e seminovos em setembro registraram uma margem bruta de 12,3%, recorde no ano. Em 2023, a melhor performance havia sido registrada em fevereiro (11,5%). Este também é o segundo mês consecutivo de alta do tíquete médio de carros vendidos nas 2.492 concessionárias avaliadas, que passou de R$ 77.578 em agosto para R$ 78.767

O resultado chama a atenção devido à queda nas vendas que, segundo a Fenabrave, foram 14% menores que em agosto - 875 mil unidades vendidas em setembro contra 1 milhão no mês anterior. Apesar da alta do tíquete médio, o valor praticado no mercado ainda está abaixo de junho (R$ 81.693).

"Há uma tendência de recuperação dos preços com a volta da normalidade após o impacto do programa de governo que estimulou a venda de carros novos por um curto período e desestabilizou o mercado de usados", explica J.R. Caporal, CEO da Auto Avaliar.

Vai e vem de preços

Presidente da Federação dos Revendedores de Veículos Usados, Enilson Sales explica que o mercado foi afetado durante os meses de julho e agosto pelo incentivo do governo federal à venda de veículos novos de até R$ 120 mil. Isso fez com que preço dos seminovos baixasse também.

"Nesse período, os carros novos de ticket mais baixos começaram a competir mais com os seminovos. O cenário afetou drasticamente o cliente que gosta de comprar carros entre um a três anos de uso para fugir da desvalorização inicial. Durante a ação do governo, boa parte desse grupo preferiu comprar o carro novo, e quem tinha carros entre 2021 e 2023 para vender teve que baixar preço para acompanhar. Mas acabou a 'promoção', tudo voltou ao normal."

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De acordo com Enilson, esse movimento explica a queda brusca seguida pelo aumento do preço dos seminovos.

Outro fator que tem influenciado no preço dos usados, de acordo com Sales, é o fato de a indústria ter optado por oferecer modelos e versões mais caras, em detrimento dos "carros populares" de outrora. "A indústria prefere montar carros cada vez mais completos e de maior valor agregado. Isso valoriza os seminovos porque o zero-quilômetro fica inacessível para muitos, então cresce a procura pelos usados."

Crise dos semicondutores ainda assombra o mercado

Um mercado importante que tem sido muito impactado pela alta dos preços dos carros seminovos, ou seja, com até três anos de uso, é o do "segundo dono". O presidente da Fenauto explica que uma grande parcela dos consumidores, mesmo com poder aquisitivo, prefere comprar um carro com um ou dois anos de uso do que zero-quilômetro, já que um modelo novo tende a perder até 20% de seu valor ao sair da concessionária.

"A questão é que entre 2020 e 2022, devido à crise de semicondutores, faltou veículo no mercado. Isso significa que já há poucos carros fabricados nesse período no mercado. Com a demanda alta por seminovos, os preços sobem. Nos próximos anos, até os estoques de carros com até 3 anos se estabilizar e a indústria voltar a oferecer carros de entrada, o preço dos usados continuará em tendência de alta", opina o presidente da Fenauto.

Vendas caíram mesmo?

Apesar de quase 14% das vendas em setembro chamar atenção, um detalhe precisa ser levado em consideração: o mês teve três dias úteis a menos que agosto. Quando se compara o resultado de vendas por dia útil, entre setembro e agosto, a variação de vendas ficou negativa em apenas 1,0%.

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O cenário deve se inverter nos últimos meses do ano, que costumam ser os melhores para o comércio devido ao décimo terceiro salário e bonificações recebidas pelos trabalhadores - o que pode impactar ainda mais nos preços.

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