Paula Gama

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ReportagemCarros

Como eleição argentina pode até eliminar venda de alguns carros no Brasil

A eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina pode ter importante impacto na indústria automotiva brasileira. Isto porque o novo mandatário promete rever pontos da relação comercial entre os países - o que, em caso extremo, pode fazer até com que modelos emblemáticos como Ford Ranger, Toyota Hilux, Fiat Cronos e Peugeot 208 deixem de circular em nossas ruas.

Toda tensão envolvendo a eleição de Milei se dá devido a suas propostas e promessas durante a campanha. O político de extrema direita conquistou parte dos votos por afirmar - entre outras coisas - que não negociaria com comunistas e que considerava o presidente Lula um deles.

Milei ainda considera deixar o bloco Mercosul, o que desfaria o acordo de livre comércio com o Brasil. Portanto, ambos os países passariam a pagar imposto de importação ao negociar veículos.

Historicamente, a Argentina é o principal parceiro comercial do Brasil na compra e venda de veículos. Atualmente, em quantidade, o protagonismo é dividido com o México, mas o país vizinho segue muito relevante, principalmente no valor total das transações comerciais.

De acordo com informações da Comex, que faz parte do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), entre janeiro e outubro de 2023, a Argentina foi responsável por 33,2% do valor arrecadado em exportações de veículos de passeio e 17% dos veículos de carga. No quesito importações, 43% do valor gasto em veículos de passeio e 68% dos de carga foram pagos aos hermanos.

Isso sem falar no comércio de peças automotivas, que também é forte e essencial para a produção de veículos nos dois países.

Com o fim do acordo de livre comércio, a depender da nova carga tributária, as negociações podem seguir dois rumos: ficarem "apenas" mais caras ou inviáveis a ponto de deixarem de acontecer. A Anfavea, associação de fabricantes de veículos, afirmou ao UOL Carros, por meio de nota, que "julga que esse fluxo deve continuar a ser fortalecido e incrementado, beneficiando os dois países e as demandas dos seus respectivos mercados".

Preocupações do mercado

Em seu Indicador de Comércio Exterior - ICOMEX, divulgado nesta terça-feira (21), a FGV afirmou que a vitória de Milei poderá trazer riscos para o comércio bilateral do Brasil com o país. "Mesmo que não cumpra a ameaça de sair do Mercosul, a Argentina não deverá colaborar para facilitar acordos que procurem melhorar os canais de comércio de bens e serviços na região", argumenta o relatório.

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A FGV também pontuou que não se trata de interferências a curto prazo, já que o intercâmbio comercial já estava desacelerando com a crise argentina.

"Os riscos surgem com as incertezas trazidas por pronunciamentos durante a campanha presidencial. A saída do país do Mercosul, se ocorrer, traz impactos negativos para as exportações brasileiras beneficiadas com acordos (caso automotivo) e tarifas preferenciais. Além disso, poderá afetar o término das negociações com a União Europeia previstas para 7 de dezembro que, mesmo sendo antes da posse do novo presidente, poderá ser contaminada com um cenário desfavorável".

Fim de um sonho?

Travadas há mais de 20 anos, as negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) avançaram significativamente nos últimos meses. Se fechado, mais de 90% dos bens comercializados entre os blocos teriam imposto de importação zerado (ou reduzido drasticamente) em até 10 anos. Na prática, a expectativa é que o Brasil aumente a exportação de produtos agrícolas e a importação de bens industrializados de países da UE.

Atualmente, a alíquota de imposto de importação para veículos é de 35% para carros a combustão; 4% para híbridos e 0% para elétricos, cenário que vai mudar em janeiro, já que a isenção para eletrificados deve acabar. Com o acordo, em 10 anos, os veículos fabricados em países da União Europeia poderiam chegar ao país sem taxação ou com imposto bem reduzido. A grande questão é que a saída da Argentina do Mercosul pode levar o acordo por água abaixo.

Lembrando que o acordo não é unânime entre todos os agentes econômicos. A maior questão é que a abertura do mercado poderia impactar na redução da produção de carros no país, já que muitas montadoras europeias que produzem carros aqui poderiam deixar de ver vantagem no negócio - o que levaria à extinção de milhares de postos de trabalho.

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