Paula Gama

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Carro zero desvaloriza 20% ao sair da loja? Por que isso pode ser balela

Quem nunca ouviu que um carro zero-quilômetro desvaloriza 20% apenas ao sair da concessionária? Esse é um dos principais argumentos dos defensores dos seminovos, mas a realidade é que comprar um automóvel com um ano de uso nem sempre é esse "negoção" todo. É o que mostra uma pesquisa da Autoinforme, que atribuiu o selo de maior valor de revenda entre os veículos a combustão ao Honda HR-V, que desvalorizou apenas 2,8% em 12 meses.

Milad Kalume, diretor da Jato Informações Automotivas, explica que a máxima de que o veículo perde 20% de seu preço apenas ao descer a rampa da concessionária é exagerada, mas - para ser justo - esclarece que ela considera outros fatores.

"A análise da Autoinforme considera apenas quanto o carro custava há um ano e por quanto esse mesmo modelo é vendido hoje. Já esses '20%' incluem outros valores pagos pelo comprador, como seguro, IPVA, licenciamento, seguro. Ainda assim, a perda não chega a esse percentual. O aceitável para o primeiro ano - não primeiro dia - , contando tudo isso, é de 10% a 15%. No entanto, carros com baixo volume chegam a 25%", informa.

Para Cássio Pagliarini, sócio da consultora Bright Consulting e ex-executivo de marcas como Ford, Renault e Hyundai, essa máxima, além de exagerada, está ultrapassada. Ele explica que, normalmente, o que se espera é que o carro perca no primeiro ano entre 13% e 15% de seu valor, e mais 8% a cada ano que passa. No entanto, o cenário atual é um pouco diferente, porque o preço do automóvel novo subiu bastante.

"A gente passou por eventos muito diferentes, que foram a pandemia e o programa de incentivos do governo. Isso bagunçou demais a escala de preços. O que aconteceu durante a pandemia é que todos os carros aumentaram expressivamente, os preços subiram 27% acima da inflação. O preço do usado segue o aumento do novo. Tanto que vimos veículos usados com valor de venda mais altos que o zero-quilômetro. Quando você pega veículos com ótima aceitação no mercado, eles têm uma desvalorização menor", avalia o consultor.

Outro impacto da pandemia segue influenciando o preço dos carros seminovos: a redução da produção de veículos em 2021 e 2022. O presidente da Fenauto explica que uma grande parcela dos consumidores, mesmo com poder aquisitivo, prefere comprar um veículo com um ou dois anos de uso do que zero-quilômetro devido à desvalorização, mas estão se decepcionando ao pesquisar preços.

"A questão é que entre 2020 e 2022, devido à crise de semicondutores, faltou veículo no mercado. Isso significa que já há poucos carros fabricados nesse período no mercado. Com a demanda alta por seminovos, os preços sobem. Nos próximos anos, até os estoques de carros com até três anos se estabilizar e a indústria voltar a oferecer carros de entrada, o preço dos usados continuará em tendência de alta", opina o presidente da Fenauto.

Segredo do HR-V

Com exceção do HR-V e do Porsche Cayenne, que desvalorizaram 2,8% e 3,5%, respectivamente, todos os veículos a combustão que venceram em suas categorias perderam entre 4,3% e 11,6% em um ano. Para Kalume, o mérito do SUV compacto está na imagem da marca.

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"Esses carros japoneses têm mecânica simples, testada e confiável. Por isso, têm baixíssima manutenção, o que melhora o valor de revenda. Sem falar em uma rede de concessionárias sólida e, no caso do HR-V, um design que atrai bastante o público", opina.

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