Como a seca do Amazonas pode deixar as motos mais caras no Brasil
O mercado brasileiro de motocicletas vive, em 2023, o melhor momento dos últimos dez anos. Para se ter ideia, as fabricantes instaladas no PIM (Polo Industrial de Manaus) produziram 1.323.004 unidades no acumulado do ano. Segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares - Abraciclo, o volume é 10,4% superior ao registrado no mesmo período de 2022.
A boa fase, no entanto, está sendo abalada pela seca na Região Amazônica, levando quatro fábricas (Yamaha, Triumph, Kawasaki e JTZ) a darem férias coletivas aos seus funcionários e outras gastarem mais para produzir os seus modelos. Por isso, em outubro, foram produzidas 131.331 motocicletas, retração de 4,4% na comparação com o mesmo mês de 2022 (137.346 unidades) e de 6,4% em relação a setembro (140.251 motocicletas).
Afrânio Barão, diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, explica que o grande gargalo hoje é que, com a baixa vazão dos rios, os insumos para a fabricação de motos não estão chegando às fábricas.
"Quem teve insumo suficiente e está respirando é a Honda, as outras não conseguiram e precisaram antecipar as férias coletivas de dezembro para novembro para evitar demissões", explica.
De acordo com Barão, toda a logística da região teve que ser repensada, o que aumentou o custo de produção. "Muitos navios ficaram encalhados e os insumos foram retirados via avião ou carretas, ou seja, a logística ficou muito mais cara. Vamos sentir o impacto no preço dos produtos em breve", avalia o líder sindical.
Na última vez que houve escassez de peças para a construção de veículos automotores, durante a pandemia de Covid-19, o mercado assistiu os preços dos carros subirem 27% acima da inflação. A boa notícia é que a situação das motos deve ser mais branda, já que os rios devem voltar a subir em breve, mas isso não impede reajuste nos preços, ainda que mais tênues.
Para o consultor automotivo Marcelo Cavalcante, as motos já estão com preços bem salgados. "O setor de duas rodas aproveitou o momento de crescimento. Não tem milagre, quando a procura é maior do que a oferta, o preço sobe", opina.
Cavalcante explica que a seca ainda não está afetando tanto o setor porque o mercado está bem abastecido, principalmente os estoques das concessionárias, mas alerta que dezembro é tradicionalmente o melhor mês para o mercado de motos.
"Em dezembro, teremos uma ideia melhor do impacto das secas. O mercado de motos está apresentando volumes inacreditáveis depois da pandemia, por causa da demanda do setor de entregas e porque muitos substituíram a moto por carro", explica.
Abraciclo diz que momento é de atenção
A Abraciclo confirmou ao UOL Carros que, como consequência da grave estiagem que atinge a Região Amazônica, quatro associadas foram impactadas e, como solução, anteciparam o período de férias coletivas para o mês de novembro. A associação explica que, embora a projeção de produção da entidade - de 1,56 milhão de unidades - permaneça mantida para 2023, o cenário atual é de atenção e todas as associadas realizam monitoramento diário da situação.
"A entidade informa ainda que as fabricantes estão buscando alternativas logísticas dentro do próprio transporte fluvial, ou pela utilização de outros modais, como o rodoviário e o aéreo", disse por meio de nota.
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