Paula Gama

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'Invasão mexicana' de carros deve crescer no Brasil e até Tesla pode chegar

Em 2023, a "invasão de carros chineses" foi o grande assunto da indústria automotiva. De um lado, as novas marcas BYD e GWM chegaram com preços competitivos, de outro, as montadoras locais começaram a pressionar o governo pela volta do imposto de importação para carros eletrificados - que será implementado a partir de janeiro. No entanto, há alguns anos o país vive outra "invasão" de modelos sem alíquotas de importação, a mexicana, que tende a crescer nos próximos anos.

A grande diferença dos veículos importados dos dois países é que boa parte dos modelos que vêm da China são fabricados por marcas de lá, que são "entrantes" no mercado brasileiro. Já os modelos produzidos no México são de montadoras tradicionais no nosso mercado. Outro destaque é que enquanto uma parcela dos modelos chineses, mesmo eletrificados, focam em volume, os carros mexicanos têm maior valor agregado. Fabricantes como Ford, Chevrolet, Nissan, Volkswagen, Kia, Ram, Audi e Mercedes-Benz importam carros de lá.

Neste ano, foram 26,8 mil unidades importadas do México, contra 14,9 mil do ano passado. Da China, acusada de "invadir" o país, foram trazidos 32 mil carros, de acordo com a Anfavea. O consultor automotivo Cássio Pagliarini explica que o México é, hoje, o terceiro país de onde o Brasil mais importa carros, atrás de Argentina e China. "O país tem uma excelente eficiência na produtividade, primeiro, pelo custo México, que é baixo. Tanto salários quanto impostos são feitos de tal maneira a não onerar os veículos de exportação. Outra razão é a produção de escala: parte dos veículos vendidos na América do Norte são oriundos do México, eles conseguem fabricar grandes volumes a preços baixos", esclarece.

Outro motivo para o México ter a maior indústria da América Latina, de acordo com Milad Kalume, da Jato Informações Automotivas, é o fato de possuir diversos acordos comerciais, incluindo o Brasil (regulado pelo ACE 55 e internalizado pelo Decreto no 4.458/2002). É por isso que os carros chegam aqui sem imposto de importação, o que o torna a melhor saída para muitas montadoras diversificarem seu portfólio no país.

Kalume informa que os carros mexicanos têm 1,2% de participação no mercado brasileiro. No entanto, de acordo com o especialista, a participação de valor é sempre mais alta que a participação de mercado, indicando o alto valor agregado dos produtos mexicanos que chegam até nós. No acumulado de 2023, o México teve 1,7% de participação no valor total de carros vendidos no país. "Acredito que o México deva recuperar o patamar de suas exportações para o Brasil para níveis entre 2% e 2,5% em volume e em relação a valor entre 2,5 e 3%", opina.

Elétricos sem imposto

A partir de janeiro, o imposto de importação para carros híbridos e elétricos começa a ser retomado gradualmente até voltar ao patamar de 35%. Os modelos do México, no entanto, permanecem com benefícios por conta do acordo de Livre Comércio com o Brasil. É de lá que a Ford traz o Mustang Mach-E, por exemplo. Marcas como BMW e Volkswagen também já anunciaram a produção de carros inéditos a bateria no país.

Mas o que tem mais chamado atenção é que a Tesla prometeu construir em solo mexicano a maior fábrica de carros elétricos do mundo, um investimento de um bilhão de dólares. Os negócios ainda estão no papel, mas quando concretizado, o Brasil poderá ver os modelos da marca americana chegarem sem imposto de importação.

Reportagem

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