Paula Gama

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ReportagemCarros

Maior frota da história: como locadoras viraram a salvação das montadoras

Quase 25% de todos automóveis e comerciais leves vendidos entre janeiro e outubro foram comprados por locadoras, o que representa um adicional de 436.579 veículos zero-quilômetro destinados à locação. Até dezembro, o número deve crescer para 540 mil carros comprados em 2023. Com as novas aquisições, o setor fecha o ano com uma frota de mais de 1,5 milhão de carros, a maior já registrada na história do segmento no país.

De acordo com a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), o setor é, historicamente, responsável por absorver mais de 20% das vendas anuais de automóveis e comerciais leves. Elas são tradicionalmente responsáveis por "salvar" a indústria automotiva em momentos de crise, quando o varejo está em baixa. Foi exatamente o que aconteceu neste ano.

Paulo Miguel Júnior, conselheiro da Abla, explica que o apetite das locadoras é grande porque o mercado de locação no Brasil tem muito espaço para crescer, por isso, as empresas capitalizadas têm sempre interesse em aumentar a frota.

"Com o varejo em baixa, as locadoras compraram mais para renovar e aumentar a frota. As fábricas de carros sempre dão prioridade para vender para o varejo, mas em períodos como esse colocam mais carros à nossa disposição. A título de comparação, em períodos de varejo em alta, como na pandemia, esperávamos oito meses pelo pedido, hoje, os carros chegam em até 30 dias. Então, as empresas aproveitaram para comprar mais", explica.

Apesar de as compras em volume representarem uma salvação para as montadoras, segundo Paulo Miguel Júnior, os descontos não são tão atrativos como os do passado, quando chegavam a 20% do preço do carro. Atualmente, segundo ele, giram entre 8% e 10%.

Para onde vão tantos carros?

Apesar de 1,5 milhão de carros parecer muito, de acordo com Paulo Miguel Júnior, o setor de locação no Brasil ainda é muito pequeno. Para se ter uma ideia, entre 50% e 70% das frotas de empresas da Europa são terceirizadas para as locadoras, de acordo com a Abla - no Brasil, esse número ainda está em 20%.

"Por aqui, temos em torno de 650 mil carros para locação diária, nos Estados Unidos são 2,3 milhões. Fazendo uma comparação internacional a gente vê que ainda tem um grande espaço para crescimento. A tendência para os próximos 10 anos é essa", avalia.

Os principais responsáveis pelo aquecimento da demanda por carros alugados serão os nichos de terceirização de frotas e carros por assinatura.

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No carro por assinatura, conforme a Abla, havia aproximadamente 80 mil veículos na modalidade até o fim de 2020; em outubro de 2023, o volume dobrou para 160 mil veículos. Já com relação ao turismo, o ainda elevado custo das passagens aéreas e variações cambiais também deverão seguir provocando estímulos às viagens com veículos alugados, conforme a associação setorial.

Vale a pena comprar esses carros?

Apesar de a frota ter crescido, é natural que boa parte dos veículos de montadora também sejam revendidos para viabilizar a compra de novos. É exatamente por isso que muitas empresas têm o seu próprio braço de seminovos. Por um lado, esses carros provavelmente serão oferecidos por preços abaixo do mercado e, em média, entre um e três anos de fabricação. Por outro, costumam ser muito mais rodados do que um veículo de pessoa física.

Segundo Cássio Pagliarini, consultor automotivo na Bright Consulting, é um mercado que sempre vale a pena considerar. "São empresas que, de fato, cuidam do carro, pois esse é o negócio delas. Muitas dão garantia própria para os veículos. Por isso, se o carro não estiver com uma quilometragem muito alta vale a pena, porque as locadoras precisam vender rápido para desmobilizar o dinheiro e comprar carros novos. Os valores costumam ser interessantes."

Pagliarini pondera que neste tipo de compra também é necessário ter os cuidados comuns a qualquer negociação de carros usados. "É importante avaliar o nível de desgaste do carro, se está em dia com a manutenção e revisões, se houve alguma batida. Mas via de regras as empresas tomam o devido cuidado."

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