Golpe no posto: por que você pode se dar mal ao abastecer com dinheiro vivo
É comum deparar-se com postos de combustível trazendo preços tentadores, mas com uma condição: o pagamento só pode ser feito com dinheiro vivo.
À primeira vista, a condição pode até fazer sentido, já que o pagamento com cartão de crédito ou débito costuma vir acompanhado de taxas pagas pelos postos às respectivas operadoras. Contudo, entidades do setor de combustíveis alertam: quem paga em espécie corre sério risco de cair em um golpe.
Emerson Kapaz, presidente do Instituto Combustível Legal, explica que a fraude de combustível causa um prejuízo de R$ 29 bilhões por ano - R$ 14 bilhões estão relacionados à sonegação de impostos e o restante, R$ 15 bilhões, corresponde a fraudes operacionais.
"Essas fraudes operacionais podem ser de dois tipos: em relação à qualidade do produto [adulteração] ou à quantidade. Nesse último caso, a bomba registra uma quantidade de produto, mas - na prática - o consumidor leva menos. É muito comum que postos fraudulentos apliquem, até mesmo, os dois golpes ao mesmo tempo", informa.
Para atrair os consumidores, esses postos oferecem preços abaixo do mercado. É como se, hipoteticamente, cobrassem R$ 1,90 por litro de combustível, enquanto os concorrentes estão vendendo por R$ 2,40.
"Promoção com pagamento em dinheiro, principalmente no fim de semana, quando a fiscalização é menor, pode ser cilada. É uma forma de dificultar a comprovação de onde você comprou o combustível problemático. Esse setor é um dos poucos em que ainda se paga mercadoria em dinheiro vivo, e isso atraiu o crime organizado, que usa postos para lavagem de dinheiro e outros crimes, como a fraude de combustível", alerta Kapaz.
Outra recomendação do Instituto, que defende consumidores contra adulteração no combustível, é sempre pedir a nota fiscal, mesmo pagando com cartão.
"Com a nota fiscal e a via do cartão, fica mais fácil comprovar que a compra do combustível problemático foi feita naquele posto e, então, ir atrás dos seus direitos. Se se sentir lesado por combustível de má qualidade, orientamos que entrem em contato com o Instituto Combustível Legal para fazermos a apuração", informa o presidente da entidade.
O que dizem os postos
UOL Carros também entrou em contato com o Sincopetro, que representa os postos de combustíveis. José Alberto Gouveia, presidente da entidade, diz que o sindicato concorda com o posicionamento.
"Em qualquer mercado, o preço muito baixo indica menor qualidade. O consumidor sabe disso. Nossa recomendação é de desconfiar de preço 'milagroso'. A margem de lucro de um posto é de R$ 0,50 a R$ 0,55 por litro, não tem como ter muita diferença de preço entre um e outro", alerta.
Sobre o pagamento em dinheiro, Gouveia afirma que é uma prática comum entre postos com atividades suspeitas, como lavagem de dinheiro.
"Além de fugir de preços muito abaixo do mercado, é importante tomar alguns cuidados, como sempre descer do carro para abastecer. Isso inibe, por exemplo, o frentista de adulterar a bomba [algo que é feito por controle remoto]. Outra dica é conhecer o consumo do seu carro, se baixar repentinamente, você pode ter sido enganado", orienta.
Guerra contra fraudes
Para combater as fraudes em postos de combustível e defender os consumidores, o Instituto Combustível Legal tem apostado em algumas ações, como o uso de "clientes misteriosos", ou seja, de fregueses ocultos que abastecem e depois levam o combustível de postos suspeitos para avaliação em laboratório.
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Quero receberA partir de então, se encontrada fraude, são feitas denúncias aos órgãos fiscalizadores. "No ano passado, fizemos 1.300 denúncias de fraude operacional ou misturas inadequadas", informa Kapaz.
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