Paula Gama

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Quatro minutos: furto relâmpago de peças é novo terror de motoristas em SP

Quatro minutos. Esse é o tempo que um criminoso leva para arrombar um veículo, desinstalar a central multimídia e fugir do local com a peça. A cena, que foi registrada a menos de 3 km de uma delegacia no Brooklin, zona sul de São Paulo, está se tornando cada vez mais comum nas ruas de capital paulista. E o motivo é simples: abastecer o mercado ilegal é um negócio extremamente vantajoso.

Para se ter uma ideia, na internet é possível encontrar anúncios entre R$ 900 e R$ 2 mil para a peça roubada no vídeo. De acordo com Rodrigo Boutti, especialista em avaliação de risco para veículo, esse tipo de furto está cada vez mais comum.

"Isso acontece bastante, a ideia é roubar a central multimídia ou o próprio módulo ECU (computador central do carro), que são peças de grande valia no mercado paralelo", explica.

O policial federal e instrutor de defesa pessoal Fábio Henriques explica que, devido ao alto nível de especialização dessas quadrilhas, o crime é difícil de ser evitado, mas é possível tomar alguns cuidados.

"Não tem nada que você possa fazer no carro para impedir o cara de depená-lo, o que se pode fazer é evitar lugares desertos. Esses criminosos ficam rondando ruas assim buscando uma oportunidade. Essa área é de risco, não dá para passar mais de 15 minutos longe do carro que isso pode acontecer", opina.

De fato, os dados mostram que a zona sul de São Paulo se tornou um local de atenção quando o assunto é roubos e furtos de veículos. De acordo com um levantamento da Ituran, empresa de rastreamento de veículos, considerando apenas a capital de São Paulo, o aumento nos casos de roubo ou furto foi de 9,3% em 2023 (32.257 casos em 2022 ante 35.248 em 2023).

O bairro mais afetado, que representou 20,9% das ocorrências, fica na zona sul: o Ipiranga. Ele é seguido por Tatuapé e Itaquera, ambos na zona leste.

Cuidado para não comprar peça ilegal

Existe uma relação direta entre o furto de peças de carro e o mercado ilegal, e quem compra também está cometendo um crime. O Código Penal brasileiro trata como receptação culposa a falta de cuidado quanto à origem do objeto comprado ou recebido que tenha origem criminosa.

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Ou seja, se alguém compra a peça de um automóvel na internet por um preço mais interessante, sem nota fiscal ou garantia de procedência, pode estar cometendo esse crime, mesmo que não tenha a intenção de fazê-lo.

A lei fala em "adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte". A pena é de um a quatro anos de reclusão e multa.

No caso de "adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime", a pena é de reclusão de três a oito anos.

E ainda há pena de mês a um ano e multa para quem "adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso".

Como identificar se a peça é ilegal

Antonio Fiola, presidente do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos, explica que o primeiro passo para se livrar de problemas com a Justiça é, ao adquirir a peça, exigir nota fiscal.

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"No documento haverá comprovação da procedência da peça. Agora, quando a pessoa encontra uma peça muito abaixo do preço de mercado em uma plataforma de e-commerce e não pede comprovação nenhuma ao vendedor, fica difícil provar inocência", alerta.

Fiola explica que existem desmanches legais, que recondicionam peças usadas de outros veículos, mas eles são cadastrados pelo Detran e seguem os protocolos de segurança. Ele alerta também que peças de segurança como freio, ABS, direção, airbags, entre outras, jamais podem ser reutilizadas. Ou seja, se não for nova e estiver à venda, provavelmente é produto de crime.

Para reduzir os crimes e, consequentemente, a oferta de peças roubadas no mercado, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirma que "trabalha diuturnamente para coibir todas as modalidades criminosas", com vistorias em locais que comercializam peças automotivas. Também há monitoramento de endereços eletrônicos.

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