Paula Gama

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Jogo no lixo? O que acontece com o carro elétrico quando a bateria 'morre'

Apesar de o mercado de elétricos estar crescendo no país, os possíveis consumidores ainda têm muitas dúvidas em relação ao produto.

As maiores delas envolvem a bateria: afinal, o carro fica imprestável ao final da vida útil? A bateria fica "viciada" com o passar do tempo? Ela se deteriora como a de um celular? Pode custar o valor do carro usado? Fizemos todas essas perguntas a especialistas e vamos respondê-las nas próximas linhas.

Wanderlei Marinho, integrante da Comissão Técnica de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE Brasil, destaca que o preço da bateria não é nada barato, mas que vem caindo com o passar do tempo. Ele explica que, em 2010, a média era de US$ 1 mil por kWh (cerca de R$ 5.000) - considerando que a bateria dos carros atuais tem entre 30 e 100 kWh, custaria entre R$ 145 mil e R$ 480 mil, aproximadamente.

Atualmente, segundo o especialista, o valor está na casa de US$ 110 por kWh (R$ 550), uma redução gigante, que faz com que o pack custe hoje entre R$ 16 mil e 53 mil, a depender da marca e da capacidade, é claro.

Segundo Marinho, a expectativa é de que o custo caia para US$ 80 por kWh em poucos anos, deixando o custo da troca completa entre R$ 11,5 mil e R$ 39 mil. Mas a realidade é que, na prática, em vez de trocar toda a bateria do veículo de uma vez, a substituição é feita por módulos, ajustando apenas o que está danificado, o que reduz o preço da manutenção.

"A bateria do veículo elétrico entrega dois parâmetros: um é autonomia e o outro é potência. É isso que ela vai perder com o passar dos anos, mas demora até que o usuário tenha essa percepção. Em oito anos de uso, por exemplo, o tempo que as montadoras costumam dar de garantia, normalmente, ela ainda não dá sinais de deterioração", explica.

Para o integrante da SAE, o caminho natural é que, com o tempo, as montadoras passem a aceitar a bateria usada como parte do pagamento da nova, uma vez que elas possuem valor de revenda e outras serventias, além de tracionar um veículo.

Como a bateria vai se deteriorando

Pack de baterias de um automóvel totalmente elétrico; custo atual ainda é bastante elevado
Pack de baterias de um automóvel totalmente elétrico; custo atual ainda é bastante elevado Imagem: Divulgação
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Uma dúvida comum entre pessoas não familiarizadas com a tecnologia, é se, com o tempo de uso, a bateria do carro pode "viciar", como acontecia com os celulares antigos. A resposta é não, mas, com o passar do tempo, é natural que ela perca a sua capacidade gradualmente.

O engenheiro Raul Beck, coordenador do comitê de veículos elétricos e híbridos da SAE Brasil e especialista em baterias, explica que as unidades que equipam os carros elétricos não são apenas uma versão gigante das baterias de celulares e de outros eletrônicos.

As baterias LCO (lítio - óxido de cobalto) usadas em celulares, por exemplo, apresentam maior densidade de energia (autonomia), mas reduzido número de ciclos de vida (cerca de 500 ciclos de recarga e descarga), sendo utilizadas em aparelhos portáteis e smartphones devido ao seu peso e tamanho reduzidos.

"Devido à questão da vida útil curta e ao alto risco de incêndio, estas baterias LCO não são usadas em veículos elétricos. Para essa aplicação, geralmente, são utilizadas baterias de lítio-íon dos tipos NMC ou NCA pois, apesar de terem menor densidade de energia do que as LCO, têm vida útil muito maior (cerca de 2.000 a 3.000 ciclos de recarga/descarga) e menor risco de avalanche térmica", explica.

Atualmente, várias montadoras estão utilizando as baterias do tipo LFP pois, apesar de ter densidade de energia (autonomia) um pouco inferior do que as do tipo NMC e NCA, apresentam densidade de potência superior a todos os outros tipos e vida útil muito superior (cerca de 6.000 a 10.000 ciclos de recarga/descarga), garantindo o desempenho por muitos anos, esclarece o especialista.

Experiência do usuário

Leonardo Celli Coelho, dono de carro elétrico
Leonardo Celli Coelho, dono de carro elétrico Imagem: Arquivo pessoal
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Leonardo Celli, da Abravei (Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores), é proprietário de um BMW i3 há sete anos,- o modelo foi um dos primeiros carros elétricos à venda no país. Nesse tempo, ele rodou quase 150 mil km, uma média aproximada de 20 mil km por ano - quilometragem maior do que a de um brasileiro médio, é bom registrar.

Segundo Celli, seu veículo já começa a dar sinais de desgaste da bateria, mas ele estima que a troca só seja necessária em dez anos. "Quando era novo, ele rodava entre 130 e 140 km com facilidade, agora, não chega mais a 110 km. É uma perda de cerca de 25% da capacidade. Na prática, não teve perda de potência, só preciso recarregar mais vezes. Lembrando que meu carro tem uma capacidade energética pequena, é mais antigo, são 18 kWh. Ainda assim, acredito que a troca só será imprescindível, de fato, quanto o carro completar uma década de fabricação", avalia.

Leandro explica que acompanhando a experiência de outros membros da associação de proprietários de veículos elétricos, percebe que os carros mais novos tendem a ter uma degradação menor, porque, com mais autonomia, a quantidade de ciclos de recarga é menor. "Os carros têm vida útil maior quando trabalham entre 30% e 70% de carga, para isso ser viável, precisam de uma autonomia maior."

Reúso da bateria

David Noronha, Fundador e CEO, Energy Source, empresa que remanufatura, repara, reutiliza e recicla baterias, explica que, se for utilizada corretamente, uma bateria pode durar cerca de 15 anos em um veículo elétrico. Depois disso, ela pode seguir por alguns caminhos: ser útil por, no mínimo, durante mais sete anos em seu segundo ciclo de vida, como bateria estacionária; ser remanufaturada e vendida entre 60% e 70% do valor de uma nova; ou ser reciclada para uso dos metais em outras indústrias.

"Em alguns anos, quando os carros elétricos vendidos hoje precisarem substituir a bateria, possivelmente as pessoas vão vender ou, o mais provável, usá-la como parte do pagamento de uma nova, como acontece na bateria de chumbo dos veículos convencionais", afirma.

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O cenário futuro parece favorável aos elétricos: a bateria deve baratear, haverá opção de peças remanufaturadas no mercado, custando 60% do valor, e ainda será possível vender o seu equipamento usado. Mas a realidade é que promessas sobre o que virá sempre causarão insegurança em quem vive no presente.

A escolha por um carro elétrico, ao menos por enquanto, não deve ser feita na ponta do lápis, pensando puramente na viabilidade econômica, pois a resposta ainda não é definitiva.

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Reportagem

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