Petrobras segura preço da gasolina; crise do governo Dilma pode se repetir?
Quem acompanhou de perto a crise da maior estatal brasileira em 2014 tem motivos para temer o represamento do preço da gasolina nas refinarias. Atualmente, a Petrobras completa 175 dias sem reajuste. A decisão leva a uma defasagem média de 15% acima dos principais polos de importação do país, de acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Afinal, o cenário de uma década atrás pode se repetir?
De acordo com o depoimento de Mauro Rodrigues da Cunha, à época conselheiro da estatal, na CPI sobre a Petrobras, em 2015, a contenção de preços do governo Dilma gerou uma perda de R$ 100 bilhões - considerando o que deixou de ganhar e gastos em despesa financeira.
Tudo isso aconteceu no mesmo período das grandes obras que não deram o retorno esperado, mais tarde investigadas pela Lava-Jato. Reunindo todas as baixas, a Petrobras passou por sua maior crise, e os brasileiro viram o preço do combustível subir de forma abrupta.
O cenário mudou completamente quando, em 2016, durante o governo Temer, foi implantada a Política de Preços por Paridade de Importação (PPI). Ou seja, a Petrobras passou a compor o preço da gasolina e do diesel considerando o custo internacional de produção.
A PPI recebeu muitas críticas porque, em um contexto de dólar alto e elevação do barril de petróleo, o combustível seguiu em alta no Brasil. Por outro lado, trouxe lucros como nunca para a Petrobras.
O que está acontecendo?
Desde maio do ano passado, a Petrobras, sob gestão de Jean Paul Prates, abandonou a PPI, por entender que os preços internacionais estavam fora da realidade da companhia. Por isso, é natural existirem defasagens em relação ao preço cobrado por refinarias privadas, o que preocupa no momento, no entanto, é a discrepância acima de dois dígitos.
O economista Igor Lucena explica que o contexto atual é parecido com o de 2014, mas não idêntico. "A atual gestão da Petrobras, apesar de ter visão mais à esquerda, entende bastante de petróleo, e está tentando criar uma suavização entre os preços de mercado internacional e também atender o governo - o que significa reduzir margem de lucro para manter o preço", explica.
Na análise de Lucena, o governo acredita que o valor da gasolina poderia ser ainda menor, mas a Petrobras pensa que não. "Se a gestão da Petrobras seguir como está, é provável que tenhamos pequenos aumentos, saudáveis, devido à alta do barril de petróleo e desvalorização do real em relação ao dólar. Se outro indicado pelo governo assumir, é possível que o preço caia, mas isso poderia trazer prejuízos para a companhia como vimos antes", pondera.
Em uma avaliação do mercado internacional de petróleo, Lucena explica que a expectativa é que o preço aumente mais. "Estamos vendo tendência de aumento do barril de petróleo e estamos na iminência do ataque do Irã contra Israel, o que pressionaria ainda mais os preços para cima e, portanto, a Petrobras", alerta.
De onde vem a pressão?
Atualmente, a Petrobras vem sofrendo pressão de dois lados: dos acionistas, que poderiam estar ganhando mais, e das importadoras privadas - regidas pelo preço internacional, e que estão sofrendo com a concorrência da estatal.
Cibele Vieira, coordenadora do Sindipetro Unificado e diretora da FUP (Federação Única dos Petroleiros), entende a pressão como natural.
"É compreensível que as empresas privadas façam o questionamento deles, eles querem uma Petrobras que não concorra com eles, igual vinha acontecendo antes", afirma Vieira, que não vê justificativa para a "dolarização" do preço da gasolina, já que toda produção é feita no Brasil.
"Temos uma empresa de petróleo integrada, que tem poços, dutos, refinaria e a transpetro para logística. Toda produção é integrada, então não tem que seguir parâmetros de preço internacional e não usar essa diferença competitiva. Todas as empresas fazem preço mais baixo dentro do possível para ser mais competitiva. Por que a Petrobras seria diferente?"
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Quero receberPara os petroleiros, a PPI forçava uma alta de preços para tornar o mercado mais atrativo para as importadoras.
"Não faz sentido uma empresa aumentar o preço para abrir o mercado para seus concorrentes. E tem outra questão, estamos falando de uma estatal, que tem que olhar para o desenvolvimento do Brasil. Se precisa segurar o preço para ajudar a barrar a inflação dos alimentos, é papel da estatal fazer isso, sem que fique inviável. Defendemos que a Petrobras tem que ser uma empresa sólida, lucrativa, mas sem maximizar o lucro em todas as etapas de produção", opina Cibele Vieira.
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