Carros do RS sofrem com má fama e vendedores querem selo contra rejeição
As enchentes no Rio Grande do Sul representam uma tragédia sem precedentes para os brasileiros. No entanto, observando desastres naturais que afetaram outros países, como o furacão Katrina que devastou Nova Orleans em 2005, é possível prever algumas das consequências das cheias - em especial no mercado automotivo, no qual a desconfiança sobre carros emplacados no estado pode durar anos.
Estimativas apontam que cerca de 200 mil carros foram atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Embora esses veículos representem apenas 4% da frota do estado, eles podem manchar a reputação de gerações de automóveis.
Esse foi o caso na Louisiana, estado onde fica Nova Orleans, nos Estados Unidos. Por anos, os carros de lá foram vendidos por preços mais baixos em relação aos de outras regiões. Alguns motoristas optaram por trocar seus veículos de estado para evitar o estigma na hora da venda. Na época, cerca de 400 mil automóveis foram afetados.
Automóveis de enchente: por que são vistos como problema
Veículos atingidos por enchentes são vistos como problemáticos devido ao potencial de danos ocultos. A água pode causar corrosão, problemas elétricos e danos estruturais que não são imediatamente visíveis. Mesmo com reparos, os efeitos da inundação podem aparecer a longo prazo.
De acordo com Jefferson Furstenau, presidente do Sincodiv-RS, sindicato dos revendedores de veículos, a entidade está pensando em criar um selo para informar que o veículo não foi alagado.
"A estimativa é de que 200 mil carros tenham sido afetados no Estado, em um universo de quase 5 milhões de automóveis, é menos de 5%. Além disso, 50 mil carros desse montante devem ir para leilão com registro de alagamento. Representativamente, são poucos veículos que sobram, mas ainda assim sabemos que existirá a preocupação de comprar um carro alagado. Estamos pensando em formas de dar segurança ao consumidor", explica Furstenau.
O que acontece se os carros mudarem de estado?
Identificar a procedência de um veículo antes da compra é a melhor maneira de evitar surpresas desagradáveis. Marco Fabrício Vieira, assessor da presidência da CET-Santos, enfatiza que "na ânsia de adquirir um veículo barato, o comprador desprevenido poderá assumir um problema que só descobrirá tarde demais". Por isso, pesquisar a origem e o histórico do veículo de revenda é fundamental.
Existem meios para verificar a origem e o histórico de um veículo:
1. Sequência de letras: Cada estado tem um conjunto de sequências de três letras atribuídas pelo Renavam. No Rio Grande do Sul, as sequências variam de IAQ a JDO. Essa sequência acompanha o veículo para sempre, mesmo após o sucateamento.
2. Histórico do veículo: Solicitar um laudo de transferência pode garantir tranquilidade. A vistoria irá verificar os itens de segurança e os documentos dos veículos, dessa forma, atendendo a legislação vigente para os procedimentos de compra e venda. O laudo também é emitido quando há a transferência de estado ou município do veículo. Ele pode garantir que a estrutura do veículo esteja de acordo para que esse possa trafegar.
3. Pesquisa online da placa: É possível realizar pesquisas online para verificar o histórico, restrições e débitos do veículo. Estas pesquisas podem ser gratuitas ou pagas, dependendo da quantidade de informações buscadas.
Transferir o registro de um veículo para outro estado é permitido, desde que siga as exigências legais. "Em caso de fraude para acobertar situações desvalorizantes, como veículos atingidos pela tragédia gaúcha, o interessado pode facilmente descobrir a origem do veículo", explica Vieira. Nem todos os veículos gaúchos foram afetados pelas enchentes, por isso, pesquisar antes da compra é crucial para evitar perder boas oportunidades.
Também é importante lembrar que nem todos os veículos afetados são do Rio Grande do Sul. Carros de locadoras, por exemplo, são comumente registrados em estados como Minas Gerais e São Paulo, e circulam por todo o território nacional. Isso reforça a importância de uma pesquisa minuciosa antes de qualquer negociação.
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