Paula Gama

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Mão inglesa: confusão ao volante teria causado acidente com brasileiros

Um grave acidente envolvendo um casal de brasileiros na estrada Otavi-Otjiwarongo, na região de Otjozondjupa, na Namíbia, tem chamado atenção pela gravidade da colisão, que matou nove pessoas. Segundo relatos da polícia local, os turistas teriam tentado uma ultrapassagem momentos antes da batida, o que resultou em uma colisão frontal.

Uma das possíveis causas apontadas para o acidente seria o fato de o país africano adotar o sistema conhecido como 'mão inglesa', em que os veículos trafegam pelo lado esquerdo da via e o volante do carro fica à direita. Essa configuração pode ser um desafio significativo para motoristas de países com 'mão direita', como o Brasil, exigindo um período de adaptação para evitar acidentes.

Rodrigo Kleinubing, perito especializado em análises de sinistros, explicou que a adaptação à mão inglesa pode ser impactante e variar de pessoa para pessoa.

"Essa mudança repentina aumenta a possibilidade de colisões frontais - como a que aconteceu. Elas são as mais graves, porque soma a energia dos dois veículos. A colisão frontal é a modalidade de acidente que causa mais mortes nas estradas. Pode induzir o condutor a cometer erros que podem resultar, inclusive, na invasão da faixa contrária, não por intenção, mas por um erro", afirmou.

Erros comuns na mão inglesa

Ao todo, 55 países adotam a mão inglesa no trânsito
Ao todo, 55 países adotam a mão inglesa no trânsito Imagem: Foto: pxhere.com

Dirigir em um país que adota a mão inglesa pode ser desafiador para motoristas acostumados à mão direita. A mudança na dinâmica da direção e na percepção espacial requer atenção e adaptação.

  1. Ultrapassagens: a tendência de ultrapassar pela direita em vez da esquerda pode levar a movimentos perigosos e inesperados, resultando em colisões frontais.

  2. Rotatórias: em países de mão inglesa, as rotatórias são percorridas no sentido horário. Motoristas de mão direita podem instintivamente tentar entrar e circular no sentido anti-horário, causando confusão e aumentando o risco de acidentes.

  3. Mudança de faixa: a mudança de faixa sem uma compreensão clara de que os veículos vêm pela direita pode resultar em colisões laterais.

  4. Reflexos em situações de emergência: em situações de emergência, os reflexos naturais de um motorista de mão direita podem levá-lo a se mover na direção errada para evitar um obstáculo, aumentando o risco de colisão.

  5. Sinalização e placas de Trânsito: a leitura e interpretação das sinalizações de trânsito podem ser comprometidas, especialmente se o motorista estiver confuso sobre a direção correta do tráfego.

Rodrigo Kleinubing reforça que a adaptação depende de cada indivíduo, mas uma mudança repentina, como a que ocorre durante férias, pode aumentar significativamente a possibilidade de erros.

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"É uma situação de risco potencial, ainda mais porque as pessoas estão de férias e talvez não estejam tão atentas quanto deveriam. A mudança para a mão inglesa pode induzir o condutor a cometer erros que resultem, inclusive, na invasão da faixa contrária", concluiu o perito.

O acidente

A grave batida resultou na morte da cirurgiã plástica Natale Gontijo-de-Amorim e de oito ocupantes do outro veículo. O médico Charles Sá, que estava ao volante no momento da colisão, foi o único sobrevivente. Ele, que ficou desacordado após o impacto, escreveu a um amigo nas redes sociais expressando sua incredulidade por ter sobrevivido.

"Não entendi ainda o porquê fiquei vivo, mas Deus deve estar com alguns planos para mim. Este acidente aconteceu no nosso deslocamento na rodovia. Aqui é mão inglesa. Na batida, fiquei desacordado, não lembro de muita coisa", escreveu.

Charles e Natale planejavam uma viagem de 15 dias pela África, cruzando diversos parques e reservas naturais em um SUV 4x4, sem a companhia de um guia. "Vamos cruzar a África em SUV 4x4, só nos dois, sem guia, passaremos por vários parques e reservas contemplando a natureza primitiva", contou o médico em uma de suas redes sociais antes do trágico acidente.

Charles lamentou a morte das oito pessoas que estavam no outro veículo e enfatizou que nunca havia se envolvido em um acidente de carro antes. "Nunca tinha batido de carro em toda a minha vida. Esta foi a primeira vez. Bafômetro foi negativo."

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O médico brasileiro está sob guarda policial em um hospital na cidade de Otjiwarongo, e a primeira audiência sobre o caso está marcada para a próxima quinta-feira (27). O Itamaraty acompanha de perto a situação.

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