Por que o BYD Dolphin Mini não ficará mais barato com fabricação no Brasil
Desde que a BYD começou a importar carros para o mercado brasileiro, causou um efeito cascata de redução nos preços dos carros elétricos no país.
Até o final do ano, a marca pretende começar a produzir veículos em solo nacional, e o primeiro deles será o 100% elétrico Dolphin Mini, modelo mais barato da montadora chinesa. A nacionalização do compacto, hoje comercializado por R$ 115,8 mil, fará com que seu preço caia para a faixa de R$ 100 mil, como foi especulado antes do respectivo lançamento, no final de fevereiro?
De fato, um exercício de lógica poderia nos levar a acreditar nisso. Contudo, no mundo real, a resposta é não - ainda que a fabricação local reduza os custos de transporte, pois o carro hoje é trazido da China, e acabe com incidência do Imposto de Importação - que, a partir desta segunda-feira (1º), sobe de 10% para 18% no caso de veículos totalmente elétricos.
Segundo o consultor automotivo Ricardo Bacellar, a questão não é tão simples, pois vários fatores influenciam a composição do preço de um veículo - historicamente, carros não ficam mais baratos pelo simples fato de sua produção passar a ser localizada.
"O mercado chinês é muito maior do que o brasileiro e, portanto, tem muito mais escala, o que influencia muito no custo de produção e, portanto, no preço. A menor escala no Brasil traz uma influência negativa quando se pensa no valor final do produto", explica o especialista.
Custo Brasil
Outro elemento é a carga tributária, já que cerca de 40% do valor de um veículo é imposto. Bacellar lembra que, no Brasil, temos impostos e benefícios trabalhistas que não existem no mercado chinês.
"Trabalhadores brasileiros contratados no regime de CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] têm direitos e benefícios que encarecem demais o custo da produção", destaca.
Além disso, Bacellar destaca que os veículos produzidos localmente estão sujeitos a uma série de tributos como IPI, ICMS e PIS/Cofins, que podem onerar o preço mais do que as reduções de custos decorrentes da fabricação local.
"A logística também desempenha um papel importante no custo final dos veículos. Nossa malha de transportes é essencialmente composta pelo modal rodoviário, então é mais cara. A dependência de componentes importados e a necessidade de adaptação às normas e regulamentos locais adicionam camadas de complexidade e custo", prossegue.
Outro ponto destacado pelo consultor é a estratégia de mercado adotada pelas montadoras.
"Se você produz um carro onde há concorrência acirrada, você reduz sua margem porque quer concorrer. Quando o carro tem pouca ou nenhuma concorrência, você tem menos apetite para baixar a margem, ou seja, vende o carro um pouco mais caro porque tem uma disputa menor", explica. No caso do Dolphin Mini, sendo o modelo mais acessível da BYD, a montadora pode optar por manter uma margem de lucro maior para sustentar seus investimentos e operações no país.
Além disso, a produção local de um veículo envolve investimentos em desenvolvimento e adaptação tecnológica. Esses aportes iniciais são consideráveis e, inevitavelmente, serão repassados ao consumidor final, acrescenta.
"É interessante para a montadora a longo prazo produzir no país, é importante para a criação de emprego e renda, mas o foco não é a redução no preço. Nessa perspectiva, a discussão sobre redução da cadeia de impostos para quem produz no país é muito mais importante do que a elevação para quem traz produtos importados".
Newsletter
CARROS DO FUTURO
Energia, preço, tecnologia: tudo o que a indústria está planejando para os novos carros. Toda quarta
Quero receberQuer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.