Paula Gama

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'Tesla do Nordeste' acumula dívida milionária e deixa clientes sem motos

A startup pernambucana Voltz Motors, que chegou a ser conhecida como a 'Tesla do Nordeste', enfrenta crise financeira que vai de atraso na entrega das motos, com reclamações de clientes que aguardam há quase três anos pela entrega do produto, até uma dívida acima de R$ 300 milhões - que fez com que a empresa entrasse em recuperação judicial.

Nas redes sociais e no site "Reclame Aqui", acumulam-se quase 500 reclamações sobre atrasos na entrega das motos. Os relatos de consumidores frustrados são comuns. Um desses clientes é Felipe Chaves, empresário que começou a acompanhar a marca em 2019 e decidiu comprar uma EVS, atraído pela promessa de uma moto que alcança 120 km/h e tem uma autonomia de até 180 km por recarga.

"O prazo que me deram foi de 20 semanas, ou seja, março de 2022. Na data, me chamaram para quitar a moto, que, na época, custava R$ 20.490 e me disseram que a entrega seria em mais 10 semanas, no mês de junho. Paguei e fiquei aguardando, mas nunca recebi", lembra Chaves.

Outro cliente, Jamil Souza, relata uma situação semelhante. Ele fez seu pedido em julho de 2021 e quitou a moto em setembro do mesmo ano, mas até hoje não a recebeu.

"A empresa não tem transparência nenhuma com o cliente, que sabe das coisas por outros meios e não diretamente por ela, o que causaria menos danos à sua imagem", reclama.

Gustavo Thomé já entrou com processo contra a empresa e venceu na Justiça, mas ainda não recebeu seu dinheiro de volta. "Foi feita a procura por bens no nome do Renato Villar (o fundador da Voltz) e nada foi encontrado", lamenta. Apesar da insatisfação, a maioria dos compradores afirma que aceitaria receber a moto, se ela fosse, de fato, fabricada.

No Telegram, um grupo com mais de 1.500 participantes compartilha histórias idênticas de atrasos e falta de informações. Alguns clientes aguardam suas motos desde abril de 2021. UOL Carros procurou Renato Villar, CEO da Voltz, que respondeu que "a empresa encontra-se em recuperação judicial, onde todos têm acesso ao plano de pagamentos".

Recuperação judicial

A história da Voltz começou em 2017. Quatro anos depois, a empresa recebeu aporte de R$ 100 milhões liderado pela Creditas e com participação do fundo corporate venture capital (CVC) do Grupo Ultra. O investimento seria destinado à construção de uma fábrica em Manaus (AM) e para acelerar sua expansão.

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Em 2022, quando a coluna fez a primeira reportagem sobre o assunto, a Voltz afirmou que havia 10 mil motos na fila de espera e que os atrasos foram causados pelas paralisações da pandemia. Prometeram resolver o problema até junho de 2023, mas nada saiu como esperado.

Em novembro do ano passado, a Voltz iniciou seu processo de recuperação judicial. A startup obteve uma proteção contra credores por 30 dias junto à Justiça de Pernambuco no dia 9 de novembro até que o plano de recuperação judicial fosse apresentado.

O juiz Julio Cezar Santos da Silva, da 3ª Vara Cível de Recife, indicou que a situação financeira da Voltz é deficitária, embora a empresa alegue que será "passageira". Ele destacou a existência de um grande número de ações de protesto de títulos e de cumprimentos de sentença/execuções promovidas contra a empresa, que são aptas a demonstrar as dificuldades financeiras, especialmente considerando o montante da dívida, que está na casa dos R$ 335,2 milhões.

No plano de recuperação judicial, a marca atribui a situação a fatores externos e internos. No primeiro caso, ao histórico de recessões econômicas no Brasil, alta da inflação e preços de commodities, variação cambial e aumento do spread bancário, além de dificuldades no recebimento de peças de fornecedores chineses, aumentando o tempo de entrega de 10 para 180 dias.

No caso dos fatores internos, a marca enumerou a queda na margem bruta devido ao aumento do custo de vendas, inadimplência de clientes, adiamentos nas operações de entrega, aumento das obrigações fiscais e trabalhistas, e elevação da taxa Selic nos últimos cinco anos.

Plano de pagamento

UOL Carros teve acesso ao plano de recuperação judicial da Voltz, que inclui várias medidas para reestruturar suas finanças e retomar suas operações. Entre as principais ações estão:

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Pagamentos salariais: os créditos salariais vencidos nos três meses anteriores ao pedido de recuperação judicial, limitados a cinco salários mínimos por trabalhador, serão pagos em até 30 dias a partir da homologação do plano. Outros créditos trabalhistas serão pagos em até 12 meses, com um percentual de 40% sobre certas verbas rescisórias, sem a incidência de juros ou correção monetária.

Redução de multas e juros: o plano prevê exclusão de 100% das multas e juros sobre créditos trabalhistas e redução significativa em créditos de horas extras, adicionais noturnos, de periculosidade e insalubridade.

Negócios jurídicos: a empresa poderá promover negociações com credores para antecipação de pagamentos e captação de recursos para incrementar seus serviços. Isso inclui formar parcerias, obter financiamentos e adotar procedimentos de capitalização.

Adquirentes de motocicletas: para os credores que compraram motocicletas e quitarem os valores em aberto, a entrega poderá ser feita, mas dependerá da capacidade e viabilidade da empresa.

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