Paula Gama

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Nova invasão: por que montadoras chinesas estão tão interessadas no Brasil

Desde que a BYD e a GWM se estabeleceram no país, com planos de construir fábricas e bons resultados de vendas, diversas outras montadoras chinesas também anunciaram que têm intenções com nosso mercado. Entre elas estão Neta, Zeerk, MG, Foton, Omoda & Jaecoo. Afinal, o que o Brasil tem de especial para que tantas marcas do país asiático queiram desembarcar por aqui?

Milad Kalume, consultor automotivo, afirma que uma razão para esse interesse é o sucesso já observado das marcas BYD e GWM no Brasil. "Essas novas chinesas estão surfando no sucesso da BYD e da GWM. Vamos aguardar para entender se realmente vão ter uma estrutura digna de mercado brasileiro, porque só começar a vender aqui e brincar de mercado brasileiro não é bom nem para elas e nem para o Brasil", explica Kalume.

Ele ainda ressalta a importância de uma infraestrutura robusta. "Diversas vieram, saíram, sem deixar assistência técnica para o brasileiro. Testaram o mercado, prometeram e saíram. Disso o país não precisa mais. Precisa ter uma estrutura, investimento em concessionárias, em peças de reposição, um respeito com o consumidor brasileiro."

BYD e GWM, por exemplo, estão estabelecendo uma presença no mercado. Kalume também comenta sobre as barreiras tributárias de entrada de veículos chineses nos mercados dos Estados Unidos e México.

"Nenhuma montadora gostaria de vir para o Brasil sem antes ir para os EUA, mas elas esbarram em diversas restrições, como a tributação em 100% dos eletrificados chineses. Por que não vão para o México? Porque é muito influenciado pelos EUA. O outro mercado relevante é o Brasil, com potencial de crescimento para 3 milhões a 3,5 milhões de veículos por ano."

Tecnologia e custo atraentes

Ricardo Bacellar, também consultor automotivo, destaca o nível de atratividade do mercado brasileiro, que se ajusta entre a oferta e os desejos dos consumidores.

"Já não é de hoje que o brasileiro é um ávido consumidor de tecnologia. Falando de automóveis, quanto mais ele se assemelha a um produto tecnológico, mais valor terá na cabeça do consumidor. O veículo elétrico é um dos fatores. Os produtos chineses estão vindo com um nível de tecnologia absurdo. O consumidor fica maravilhado com a percepção de tecnologia", opina.

Bacellar ainda aponta outros fatores econômicos e tecnológicos que tornam os carros chineses atraentes. "Os chineses estão tirando proveito dos investimentos que fizeram nos últimos 10 anos para ter um custo menor de produção. A BYD, por exemplo, tem um navio próprio. Eles investiram muito em diversos segmentos para ter um carro muito tecnológico e com produção eficiente. Além disso, o veículo elétrico é mais barato de produzir porque tem 60% menos peças do que um veículo à combustão e a manutenção é mais barata."

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Mercado promissor

O Brasil, com suas dimensões continentais e uma população de 215 milhões de pessoas, oferece um mercado promissor para as montadoras chinesas. Bacellar observa: "Temos uma relação carro x habitantes muito baixa em relação à Europa e aos Estados Unidos. Tudo isso justifica qualquer player vir para o Brasil. Além disso, nossa matriz energética, que é a hidrelétrica, é limpa demais. Se o mote é reduzir CO2, o Brasil é o melhor país para ter carro elétrico."

O interesse das montadoras chinesas pelo Brasil é impulsionado por uma combinação de fatores: o sucesso de marcas pioneiras como BYD e GWM, o apelo tecnológico dos veículos chineses, a estrutura de custos eficiente e as barreiras comerciais em outros mercados. Outra questão é que a indústria nacional tem trabalhado nos últimos anos com menor volume de vendas e maior margem de lucro, que é exatamente o contrário do modelo chinês de negócio, com maior volume, menor preço e margem mais enxuta.

Com um mercado em expansão e uma matriz energética favorável para veículos elétricos, o Brasil se apresenta como um destino atraente para as novas montadoras chinesas que buscam crescer e se consolidar na América do Sul.

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