Paula Gama

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Por que as vendas de carros estão subindo se muita gente está sem dinheiro?

Se existe um consenso na classe média é de que 'está todo mundo sem dinheiro'. A quantidade de famílias brasileiras endividadas chegou a 78,8% em maio, um crescimento em comparação com abril. Este número representa a maior porcentagem já registrada no país desde novembro de 2022, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

No entanto, apesar do aumento das dívidas, as vendas de automóveis tiveram um ótimo desempenho no primeiro semestre de 2024. De acordo com dados da Fenabrave, os segmentos de autos e leves encerraram o 1° semestre de 2024 com um crescimento expressivo de 15,26% na comparação com o mesmo período de 2023.

Se o seu palpite é de que as vendas diretas cresceram, está enganado. No primeiro semestre deste ano, elas representaram 46,1% dos automóveis e comerciais leves negociados, mas esse percentual era maior no ano passado, chegando a 53,27%. Ou seja, de fato, é o público geral que está comprando mais.

Segundo o presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), José Maurício Andreta Júnior, essa alta está diretamente relacionada à disponibilidade de crédito para financiamentos. "Houve um aumento médio estimado em mais de 11% na oferta de crédito pelos bancos e isso impulsiona o consumo, atrelado à maior confiança do consumidor e empresário na economia do país", afirma.

Considerando o desempenho dos segmentos neste primeiro semestre, a Fenabrave revisou suas estimativas para o ano de 2024. O setor como um todo deve crescer 16,7% ante os 13,5% estimados em janeiro pela entidade. Em razão dos resultados apresentados até o momento e das condições favoráveis de mercado, os segmentos de automóveis e comerciais leves somados deverão apresentar alta de 15%, contra uma expectativa inicial de 12%.

De acordo com a Anfavea, as vendas internas são por ora o indicador mais positivo do setor automotivo. Mês passado foi o melhor junho desde 2019 em emplacamentos, e teve a maior média diária deste ano, com 10.715 unidades, volume bem próximo ao que se verificava antes da pandemia. A questão, segundo a associação, é que boa parte desse crescimento vem sendo absorvida por veículos importados, em especial da China.

Transformações e novas necessidades

Ricardo Bacellar, consultor automotivo, explica que uma convergência de motivos está influenciado no aumento das vendas. Um deles é um fator social: o retorno definitivo às atividades presenciais pós-pandemia.

"Estamos vendo o caminho inverso, pessoas têm novas necessidades de mobilidade. A maioria das empresas está voltando ao modelo de trabalho presencial. Isso impacta na necessidade de transporte e também na dependência dos carros. Normalmente, transformações sociais levam a mudanças de necessidade de mobilidade e do perfil de compra", avalia o especialista.

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Outro fator importante é o aumento da concorrência. "Temos uma oferta de produtos muito maior, mais empresas jogando esse jogo. Sempre que a concorrência aumenta, leva a um reflexo de preços mais atrativos. Isso é uma lei natural de mercados e isso está acontecendo. Em um mercado em que todo mundo reclama que o produto está caro, qualquer redução faz diferença", explica Bacellar.

O aumento da taxação de importação também fez com que houvesse uma antecipação da chegada de carros estrangeiros no Brasil, aumentando a oferta e reduzindo o preço.

Crédito e financiamentos

A disponibilidade de crédito no mercado também teve um papel fundamental. "Vivemos o ano passado com uma expectativa gerada pelo governo de redução da taxa Selic. Mas travou, parou de cair. E existem sinais de que ela pode até voltar a crescer. Quem estava esperando uma redução de juros e queria comprar um carro viu que não adiantava esperar mais e preferiu realizar a compra", afirma Bacellar.

Com os bancos mais abertos a oferecer crédito, especialmente com a perspectiva de aumento da Selic, há um incentivo adicional para a compra de veículos.

Um elemento histórico que também favorece o aumento das vendas é o volume de vendas diretas, mas ela anda bem tímida nesse primeiro semestre em relação a períodos anteriores. A expectativa é de que o volume de vendas diretas suba no segundo semestre. Isso vai engordar mais ainda esses números.

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E não é só o mercado de zero-quilômetro que está em crescimento, o setor de usados também está indo bem. A venda de veículos usados está com alta de mais de 7%, chegando a 7,3 milhões de carros vendidos, caminhando para bater o recorde absoluto.

A faixa de idade com maior crescimento é a de carros com mais de 13 anos de uso, com um aumento de 8,8%, mostrando que a busca por automóveis está em diversas classes sociais.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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