Paula Gama

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Oficinas lucram alto com kits contra defeitos crônicos de carros no Brasil

Diante de tantos carros com defeito crônico de fábricas, oficinas mecânicas estão faturando alto com a venda e instalação de kits de conversão para solucionar os problemas que não são cobertos por recalls oficiais. As adaptações vão de R$ 3,7 mil a R$ 12 mil e prometem resolver ou prevenir falhas que causam prejuízos até quatro vezes maiores.

Não é raro encontrar casos de defeitos de fábrica que não se transformam em um recall oficial, quando todos os carros produzidos em um determinado período são avaliados e corrigidos sem custos para o consumidor.

Um dos exemplos mais famosos é o caso PowerShift, que equipa modelos como EcoSport, Fiesta e Focus, comercializados entre 2013 e 2018. Apesar de a Ford nunca ter feito um recall oficial, o número de reclamações sobre perda de potência e travamento do câmbio em todo o país é expressivo.

A montadora chegou a ampliar para 10 anos a garantia do Módulo Eletrônico de Controle de Transmissão (TCM) em acordo com o Procon-SP, mas clientes ainda reclamam que isso não foi suficiente para resolver o problema.

Paulo Dilmar, conhecido como "profdicaixa" no Instagram, tem viralizado ao mostrar que seus clientes estão substituindo o câmbio automático por manual. Sua oficina em Porto Alegre, juntamente com mais de 20 parceiras no Brasil, realiza essa substituição.

Ele explica que o foco são câmbios automatizados como PowerShift (Ford), Dualogic (Fiat), I-motion (Volkswagen), Easytronic (Chevrolet) e Easy-R (Renault).

"Quando esses câmbios falham, eles trancam as rodas e deixam o motorista travado no meio da rua. É uma experiência terrível. Por isso, muitos proprietários preferem trocar a caixa por uma manual", explica Dilmar, que recebe cerca de 30 ligações diárias de interessados, principalmente de carros com mais de 10 anos ou 100 mil km rodados.

A substituição custa entre R$ 5 mil e R$ 12 mil e, segundo ele, previne problemas cuja solução parte de R$ 20 mil.

Adaptações de mercado

André De Maria, engenheiro mecânico e proprietário da AutoCentro Confiar, vende diariamente cerca de dez kits para resolver o problema no trocador de calor da transmissão AISIN TF72 - AT 6, presente em diversos carros como Fiat Pulse, Toro, Argo, Cronos, Fastback, além de Jeep Renegade, Compass e Commander flex.

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"Já existiam kits de trocador de calor externo para carros de performance. Adaptei uma proposta semelhante para resolver problemas dos veículos da Stellantis, criando uma solução que o fabricante não ofereceu", explica De Maria. O kit custa R$ 3.900, ou R$ 6.900 com instalação e troca de fluidos.

Proprietários de Volkswagen Amarok ou Jeep Grand Cherokee, fabricados entre 2010 e 2021, também vivem uma situação semelhante. Eles enfrentam problemas com a bomba de alta pressão CP4 da Bosch. A peça sofre desgaste prematuro, gerando limalhas que danificam o sistema de combustível.

Ronald Funari, da Funari Automotiva, relata que já atendeu carros com menos de 20 mil km rodados apresentando esse problema. A solução inclui a troca da bomba e peças danificadas, com custos que podem chegar a R$ 50 mil.

A solução de menor custo encontrada por oficinas mecânicas foi o kit "CP4 saver", que adiciona uma peça que redireciona as limalhas para o tanque de combustível, filtrando-as pelos filtros do equipamento, ao custo de R$ 3.700 - sem a mão de obra.

Outra solução é a conversão para a bomba CP3, mais robusta e confiável, por até R$ 6.500. "Essas soluções trazem maior segurança e durabilidade aos produtos, evitando problemas recorrentes que os fabricantes não resolvem", afirma De Maria.

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