Carrões que viram armas: o que explica a enxurrada de acidentes fatais
Nos últimos meses, acidentes com carros de luxo têm causado enormes prejuízos humanos. Pelo menos cinco pessoas foram mortas e uma teve a perna amputada, todas vítimas da combinação entre alta velocidade, motores super potentes e imprudência de influenciadores e empresários.
Em todos os casos, a velocidade foi um fator crítico. No acidente envolvendo o BMW 428 I Cabrio no Rio de Janeiro, que atropelou um noivo no dia do seu casamento, o veículo estava a aproximadamente 105 km/h em uma área urbana, tornando impossível qualquer reação eficaz para evitar a morte de Fábio Toshiro Kikuta.
Rodrigo Kleinubing, perito especialista na análise de sinistro de trânsito, explica que, a essa velocidade, o carro precisaria de pelo menos 135 metros para parar completamente, tornando o acidente fisicamente inevitável.
"Para começar a reagir, ele precisaria de no mínimo 73 metros após ver a vítima atravessando a rua, e isso é apenas a distância para efetivamente pisar no freio. A partir daí, seriam necessários mais 62 metros para parar completamente o veículo", afirma.
Em outros casos, a velocidade era ainda maior, como na ocasião em que o empresário Fernando Sastre Filho dirigia um Porsche 911 Carrera GTS a 156,4 km/h e colidiu com o carro de Ornaldo da Silva Viana, que morreu em seguida.
Segundo levantamento inédito feito pelo UOL, o Brasil registrou ao menos 50 mortes em acidentes com carros de luxo neste ano. A média é de um óbito a cada quatro dias no perímetro urbano e em rodovias brasileiras. A reportagem levou em consideração colisões envolvendo veículos de marcas importadas com valor acima de R$ 300 mil.
No mesmo período analisado, em média, ocorrem 17 mil mortes em acidentes de trânsito no país, segundo dados do Ministério da Saúde.
Quais foram os casos?
BMW no Rio de Janeiro - O trágico acidente no Rio de Janeiro, no dia 13 de julho, envolveu o influenciador Vitor Vieira Belarmino dirigindo um BMW 428 I Cabrio com 245 cavalos de potência. De acordo com a análise do perito Rodrigo Kleinubing.
Porsche em Teresópolis - No dia 1 de agosto, em Teresópolis, Rio de Janeiro, o motorista de um Porsche 718 Boxster com pelo menos 300 cavalos de potência atropelou um lavrador na BR-116. O carro pertence ao influenciador digital Renan Rocha da Silva, que afirma que não estava dirigindo o veículo no momento do acidente. A alta velocidade novamente desempenhou um papel crucial na gravidade do incidente
Porsche em São Paulo - Em 31 de março, o empresário Fernando Sastre Filho dirigia um Porsche 911 Carrera GTS a 156,4 km/h quando colidiu com o carro de Ornaldo da Silva Viana. O impacto resultou na morte do motorista de aplicativo, com o perito Kleinubing destacando que, a essa velocidade, os sistemas de segurança do veículo não conseguem evitar danos severos
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Quero receberMercedes-Benz e BMW em Barueri - Em Barueri, São Paulo, um possível racha entre um Mercedes-Benz e um BMW, no dia 20 de maio, resultou no atropelamento de um mototaxista e sua passageira, Maria Graciete Alves da Silva. A passageira perdeu a perna e o mototaxista sofreu uma hemorragia cerebral. Ambos os veículos estavam em alta velocidade, exemplificando o comportamento irresponsável dos condutores
Audi em Osasco - Em 13 de julho, uma motorista de Audi colidiu com cinco veículos parados em Osasco após perder o controle do carro devido ao consumo de álcool. O velocímetro do carro travou em mais de 120 km/h
Porsche em São Paulo - Igor Ferreira Sauceda dirigia um Porsche 718, em 29 de julho, e atropelou propositalmente o motociclista Pedro Kaique Ventura Figueiredo após uma briga de trânsito. O condutor foi preso por homicídio doloso, com a potência e a velocidade do veículo contribuindo para a fatalidade
Não é culpa do carro
Os veículos envolvidos nesses acidentes possuem motores de alta potência que, quando combinados com alta velocidade, tornam as colisões ainda mais devastadoras. O BMW 428 I Cabrio, com seus 245 cavalos de potência, e o Porsche 911 Carrera GTS, com 480 cv, são exemplos de veículos que oferecem uma performance excepcional, mas que também exigem um nível de responsabilidade correspondente por parte dos condutores.
Tanto a BMW quanto a Porsche oferecem cursos de pilotagem (eu já participei), track days e outras oportunidades para que os proprietários desses veículos usufruam de toda a performance em ambientes controlados e seguros, dentro de autódromos, no entanto, proprietários irresponsáveis preferem testar suas habilidades na rua, colocando vidas em risco.
O uso de álcool, disputas de trânsito (rachas) e comportamentos intencionalmente perigosos são fatores recorrentes nesses acidentes. A motorista do Audi em Osasco, por exemplo, perdeu o controle do veículo após ingerir álcool, resultando em uma colisão em alta velocidade com cinco carros parados. Em todos esses casos, qualquer tentativa de reação por parte das vítimas era quase impossível.
A realidade é que a sociedade está colhendo o fruto de anos de irresponsabilidade e manobras ilegais publicadas e aplaudidas impunemente nas redes sociais por influenciadores que ganharam milhões. O aumento da frota de carros de luxo veio junto com a cultura dos rachas e da ostentação sem limites, quando a morte de alguém é apenas um efeito colateral de uma noite de curtição que deu errado.
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