Paula Gama

Paula Gama

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
ReportagemCarros

Até 44 km/l? Como teste do Inmetro 'mente' sobre autonomia de carro híbrido

A etiqueta do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) do Inmetro tem sido ferramenta crucial para os consumidores brasileiros avaliarem a eficiência energética dos veículos à venda no país. Contudo, quando se trata de modelos híbridos plug-in, essa ferramenta pode gerar mais dúvidas do que esclarecimentos e passar a impressão de que o carro é mais econômico do que na vida real.

Os híbridos plug-in - carros que possuem motor a combustão e outro elétrico que pode ser carregado na tomada- são medidos em dois cenários distintos: o consumo apenas com o motor a combustão e com o propulsor elétrico, sendo este último convertido em uma equivalência com km/l.

No entanto, a maior parte do tempo de uso desses veículos se dá em uma combinação dos dois motores - uma situação que o teste do Inmetro não captura. Essa lacuna na metodologia pode levar os consumidores a acreditarem que o híbrido plug-in é mais econômico do que realmente é na prática.

Um exemplo claro dessa discrepância pode ser visto no Mini Countryman Híbrido Plug-In. Quando analisamos os números, o consumo a combustão é de 10,1 km/l na cidade e 10,2 km/l na estrada. Já no modo puramente elétrico, o consumo equivalente impressiona, alcançando 23,4 km/l na cidade e 27,9 km/l na estrada, com um consumo de energia de 0,80 MJ/km. No entanto, esses números não refletem a realidade do uso combinado dos motores.

Outro caso é o do BYD King Híbrido Plug-In, que apresenta um consumo a combustão de 16,8 km/l na cidade e 14,7 km/l na estrada. No modo puramente elétrico, o consumo equivalente é ainda mais baixo, chegando a 44,2 km/l na cidade e 36,7 km/l na estrada, com um consumo de energia de 0,50 MJ/km. Mais uma vez, a combinação dos dois motores no uso diário dificilmente atingirá esses valores tão otimistas.

Por que o consumo dos motores elétricos é medido em km/l?

Historicamente, a etiqueta do Inmetro precisava oferecer uma base de comparação entre diferentes tipos de combustíveis, como gasolina, diesel e etanol. Para isso, foi utilizada a unidade de energia Joule, que permite a medição de quanto de energia é gasto para percorrer um quilômetro. Essa métrica foi então convertida para km/l, facilitando a comparação entre veículos de diferentes tecnologias.

No caso dos veículos elétricos, o mesmo princípio foi aplicado. A unidade elétrica é convertida para megajoule (MJ) e, a partir disso, se obtém uma equivalência em km/l. Isso permitiu que os consumidores comparassem a eficiência dos veículos elétricos com os tradicionais. No entanto, com a evolução do mercado e a maior compreensão pública sobre os veículos elétricos, essa forma de medição está se tornando cada vez menos relevante.

Victor Simão, coordenador do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), explica a complexidade por trás da medição dos híbridos plug-in.

Continua após a publicidade

"Existe uma metodologia complicadíssima, que demora de três a quatro dias para ser realizada. Primeiro, entendemos o comportamento do veículo, como ele aciona o motor elétrico - seja por velocidade, demanda ou faixa de rotação. Em seguida, medimos a autonomia total do veículo e depois realizamos testes com a bateria vazia e no modo puramente elétrico", afirma.

Simão ressalta que, na prática, o consumidor não alcança os valores máximos indicados na etiqueta, pois ela é mais uma forma de comparação do que uma expectativa de consumo.

"A realidade é que o consumo apresentado na etiqueta é um cenário ideal, baseado em testes controlados, mas o uso cotidiano envolve muitos fatores que alteram esse consumo. Por outro lado, os dados são relevantes na comparação de um modelo com outro", opina.

Ele ainda aponta que a forma de comunicação dessa eficiência pode ser revisada. "Hoje, que o consumidor já entendeu que o veículo elétrico é mais eficiente, estamos discutindo como classificar de uma forma que faça mais sentido, talvez usando diretamente o MJ/km."

A etiqueta do Inmetro continua sendo uma ferramenta importante a título de comparação e classificação dos produtos, mas, no caso dos híbridos plug-in, ela pode pintar um quadro mais otimista do que a realidade do consumo no dia a dia. Isso reflete a necessidade contínua de evoluir os critérios e as metodologias de avaliação, especialmente à medida que novas tecnologias ganham espaço no mercado automotivo brasileiro.

Quer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.

Continua após a publicidade
Siga o UOL Carros no

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes