Por que tantas motos circulam de forma irregular e parece que nada é feito
A presença crescente de motocicletas nas ruas de metrópoles como São Paulo reflete uma cultura que vê as motos como uma solução rápida e acessível para o tráfego urbano.
No entanto, essa percepção vem acompanhada de um problema sério: a alta taxa de irregularidade e imprudência entre os motociclistas. Com uma frota que já ultrapassa 33 milhões de veículos, o poder público enfrenta desafios significativos relacionados à segurança no trânsito.
De acordo com dados da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito), 53,8% dos proprietários de motocicletas no Brasil não possuem a habilitação necessária para conduzir esses veículos. Isso equivale a cerca de 17,5 milhões de pessoas sem CNH (Carteira Nacional de Habilitação) válida.
Segundo o Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), atualmente, a quantidade de motocicletas, motociclos e motonetas com licenciamento irregular é de 657.418 veículos.
O conceito da moto como um veículo barato e rápido alimenta essa realidade, onde muitos motoristas consideram a condução irregular como parte do uso cotidiano — seja cortando o trânsito em corredores ou ignorando sinais vermelhos.
A imprudência dos motociclistas é alarmante. Um estudo do Grupo Tecnowise revelou que comportamentos considerados perigosos, como o não uso de capacete (30%) e excesso de velocidade (10,8%), são vistos como comuns entre os condutores.
Além disso, cerca de 44,7% dos motociclistas que trabalham com aplicativos afirmam não ter recebido qualquer tipo de treinamento para suas atividades. Essa falta de formação contribui para uma cultura de desrespeito às regras, especialmente em um cenário onde a pressão por entregas rápidas se intensifica.
Dados do Infosiga, do Detran-SP, apontam que, de janeiro a agosto de 2024, as motocicletas foram responsáveis por 36,9% dos sinistros de trânsito no estado.
Mais preocupante, ainda, é que 32% dos óbitos no trânsito foram de motociclistas, mesmo as motos representando apenas 16,5% da frota total. Nesse período, foram registrados 1.700 óbitos de condutores de motocicletas, um crescimento alarmante de 24,8% em relação ao ano anterior. Esses números não apenas evidenciam a gravidade da situação, mas também destacam uma cultura que muitas vezes ignora as normas estabelecidas.
Dificuldade de fiscalização
Um dos principais fatores que facilitam esse caos é a dificuldade de fiscalização das motos, principalmente a eletrônica, que cobre a maior parte das vias.
A maioria dos radares e dispositivos de monitoramento não foi projetada para detectar veículos menores. Estima-se que apenas 70% dos radares conseguem flagrar motocicletas que desrespeitam os limites de velocidade. Além disso, muitos motociclistas utilizam chapas escondidas ou danificadas e outros truques para esconder a placa, tornando ainda mais difícil sua identificação.
As motos são frequentemente vistas como veículos ágeis e baratos, levando os condutores a adotarem comportamentos imprudentes como cortar o trânsito em corredores e avançar sinais vermelhos como algo natural, inerente ao tipo de locomoção. Essa mentalidade cria um ciclo vicioso onde a irregularidade se torna uma espécie de "norma" aceita por muitos motoristas e condutores de moto.
Para enfrentar essa situação, soluções tecnológicas têm sido implementadas. Câmeras de monitoramento em alta definição e radares mais potentes estão sendo utilizados para detectar infrações em tempo real. Esses dispositivos são capazes de registrar comportamentos imprudentes e identificar motos que circulam sem habilitação ou sem o uso adequado do capacete.
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Questionado, o Detran-SP afirma que realiza constantes ações de fiscalização de veículos, como as chamadas ODSIs (Operações Direção Segura Integrada), que incluem a checagem de motocicletas. As ODSIs tiveram um aumento de 78% das abordagens de janeiro a setembro de 2024, comparadas com igual período de 2023, acrescenta.
O órgão informa, ainda, que valores arrecadados com multas são revertidos em ações e aquisição de equipamentos.
O Fundo de Multas é destinado a ações do Detran-SP e da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) para policiamento ostensivo e preventivo do trânsito. Em 2023, foram R$ 364,5 milhões do Fundo para educação, conscientização, fiscalização e melhorias da segurança viária, acrescenta o Detran-SP.
A SSP-SP informa que, de janeiro a setembro de 2024, o Comando de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (CPTran) fiscalizou mais de 70.628 motocicletas e removeu cerca de 9.661 veículos. Em 2023 foram fiscalizadas mais de 74 mil motocicletas, sendo 13.934 removidas.
"O CPTran desenvolve operações e fiscalização de trânsito no trecho urbano, bem como atividades educativas, na capital e em todo o território estadual, com base no planejamento inteligente, com o objetivo de reduzir os indicadores criminais e os sinistros de trânsito, principalmente os óbitos", diz o órgão.
A SSP-SP acrescenta que ?o Comando de Policiamento Rodoviário intensificou, principalmente nos finais de semana, o policiamento ostensivo e preventivo, com o uso do radar de velocidade em pontos estratégicos nas rodovias estaduais. Dentre as operações desenvolvidas está a Moto Speed, que visa coibir abusos na direção de motocicletas".
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