Apagão em SP expõe fragilidade de semáforos e causa caos no trânsito
Desde a manhã de segunda-feira, São Paulo viveu um verdadeiro caos no trânsito. Três dias após o apagão que atingiu a capital devido às tempestades intensas, 135 semáforos ainda estavam apagados. Com mais de 6.700 cruzamentos controlados por sinais, a falta de operação transformou a cidade em um cenário de desordem, especialmente nos horários de pico.
Esse não é um fenômeno isolado: os paulistanos já vivenciaram cenas semelhantes há quase um ano, em novembro de 2023, quando outro apagão causado por chuvas fortes levou o sistema semafórico ao colapso.
Problema crônico
O problema em São Paulo vai além das condições climáticas extremas. Embora o temporal recente, com ventos de mais de 107 km/h, tenha sido o gatilho, a cidade há tempos lida com a fragilidade do sistema de trânsito. De acordo com especialistas, as falhas recorrentes não podem ser atribuídas apenas ao impacto das chuvas.
Em entrevista prévia ao UOL Carros, Sérgio Ribeiro Augusto, do Instituto Mauá de Tecnologia, destacou que os furtos de cabos, usados para venda ilegal do cobre têm fragilizado a infraestrutura dos semáforos.
A prática criminosa de roubar cabos prejudica diretamente a manutenção e aumenta a vulnerabilidade dos equipamentos. Quando fortes chuvas ou ventos atingem a cidade, os semáforos, já prejudicados por emendas nas fiações, ficam ainda mais suscetíveis a curtos-circuitos e falhas operacionais. O resultado: semáforos apagados ou operando em "amarelo piscante", levando ao caos viário em diversos pontos da cidade.
Situação atual e as medidas tomadas
Os dois apagões trouxeram à tona essas fragilidades, com mais de 600 semáforos fora de operação em alguns momentos críticos. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) afirmou ao UOL que tem intensificado as manutenções e introduzido medidas de modernização para tentar mitigar esses impactos.
A instalação dos chamados semáforos inteligentes é uma dessas soluções. Em cerca de 661 cruzamentos, essa tecnologia, capaz de ajustar o tempo de abertura dos sinais conforme o volume de trânsito, já está em uso. Além disso, sistemas com nobreaks, que garantem até 4 horas de autonomia em caso de falta de energia, foram implementados em 600 cruzamentos do Minianel Viário, áreas de grande fluxo.
"Desde o último apagão, houve investimentos em novos equipamentos e infraestrutura, o que resultou na redução significativa da indisponibilidade média diária do parque semafórico. Entretanto, falha no fornecimento de energia pela concessionária da cidade por um período longo supera a capacidade desses dispositivos", disse ao UOL Carros.
No entanto, mesmo com esses avanços, as falhas ainda são frequentes quando há interrupções prolongadas no fornecimento de energia, como o recente apagão. A manutenção mais ágil do sistema semafórico — com a redução do tempo médio de conserto de 7 para 4 horas entre 2022 e 2023— não foi suficiente para evitar o caos que se instalou nos últimos dias.
A Enel, concessionária de energia, não respondeu às perguntas do UOL Carros sobre o impacto do apagão no trânsito. Disse apenas, por meio de nota, que "tem trabalhado incessantemente, desde a noite da sexta-feira passada, quando a área de concessão foi atingida por rajadas de vento de até 107 km/h provocando danos severos na rede elétrica. A companhia reforçou as equipes próprias em campo, recebeu apoio de técnicos de outras distribuidoras e deslocou profissionais de outros Estados. "
Para quem vive na cidade, a sensação de "déjà vu" é inevitável. Basta uma chuva mais forte para que as cenas de engarrafamentos quilométricos, buzinas incessantes e motociclistas arriscando manobras em meio ao trânsito lento voltem a acontecer. São Paulo, com sua frota de mais de 8 milhões de veículos, não tem o luxo de esperar que esses problemas se resolvam sozinhos.
A ausência de semáforos operantes não só provoca lentidão, mas também eleva o risco de acidentes. O sistema de "amarelo piscante", que entra em operação quando há falhas, evita que semáforos de sentidos opostos fiquem verdes ao mesmo tempo, mas a operação de emergência compromete a fluidez do trânsito. Semáforos apagados em cruzamentos movimentados geram confusão entre os motoristas, que muitas vezes precisam improvisar.
A Prefeitura de São Paulo afirma que o processo de modernização continuará, com o objetivo de instalar semáforos inteligentes em mais de 2.500 cruzamentos até o fim do projeto. No entanto, enquanto o fornecimento de energia seguir vulnerável a eventos climáticos extremos, e os furtos de cabos continuarem a ser uma ameaça constante, o caos no trânsito paulista em dias de temporal parece inevitável.
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