Paula Gama

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Carro que estaciona sozinho é solução para quem passa perrengue na baliza?

A tecnologia automotiva evolui a passos largos, e sistemas de estacionamento automático estão cada vez mais comuns no Brasil. Já tive a oportunidade de testar essa função em diversos modelos, desde Chevrolet Onix, GWM Ora e Volkswagen T-Cross até carros de luxo da BMW e Mercedes-Benz, e posso afirmar: é, de fato, surpreendente.

Para quem tem dificuldades com baliza ou simplesmente não gosta da tarefa, o sistema pode ser uma verdadeira bênção. Mas, como tudo, ele também tem suas limitações, principalmente em cenários urbanos brasileiros.

Como o sistema funciona - e onde ele brilha

Na teoria, o sistema de estacionamento automático é bem simples: você ativa a função, e o carro, utilizando sensores e câmeras, identifica uma vaga adequada. A partir daí, ele assume o controle do volante, enquanto você se encarrega apenas de frear e acelerar. Em modelos mais avançados, nem isso é necessário - o carro faz tudo sozinho, literalmente.

Quando testei essa função em estacionamentos bem delimitados, como em shoppings ou garagens de prédios, o sistema funcionou muito bem. Ele encontra vagas com rapidez e estaciona com precisão, mesmo em espaços apertados. Nesses ambientes, a tecnologia é realmente uma solução eficiente, eliminando qualquer preocupação sobre se o veículo vai caber ou não na vaga. Mas a realidade é que ninguém compra um carro que estaciona sozinho pensando em parar no shopping.

A realidade das ruas brasileiras

Quando a gente sai do conforto dos estacionamentos pagos e vai para as ruas brasileiras, o cenário muda de figura. E aqui está a grande questão: as vagas de rua no Brasil, especialmente nas grandes cidades, são um verdadeiro desafio para a tecnologia. Não há um padrão nacional de demarcação de estacionamento no meio-fio, o que complica bastante a vida dos sistemas automáticos - o que em momento nenhum é falha da tecnologia.

Já passei por situações em que o carro tentou estacionar na frente de uma garagem, simplesmente porque não existem marcações no chão informando que o espaço é proibido.

Outra questão aumenta o problema nos sistemas mais simples: mesmo que tenha uma vaga viável mais à frente, ele opta pela melhor opção - mais espaçosa - então é bem provável que ele insista em estacionar no portão da garagem e você perca alguns minutos nesse dilema. Isso gera um desconforto, principalmente em ruas movimentadas, onde o tempo para estacionar é precioso e o fluxo de carros ao redor é constante.

Em uma dessas situações, precisei acionar o sistema três vezes antes que ele finalmente identificasse uma vaga viável. No fim, acabei desistindo e fazendo a baliza manualmente.

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Esse tipo de inconveniente, que transforma uma tecnologia projetada para facilitar a vida em uma fonte de frustração, é mais comum do que se imagina em ruas menos organizadas. O sistema simplesmente não está preparado para lidar com a falta de padronização que enfrentamos nas cidades brasileiras.

Em outros casos, quando surge um veículo em movimento bem próximo à manobra, o sistema se sente 'inseguro', freia, e pede que o motorista assuma o comando.

Ainda assim, preciso dizer: quando se trata de manobrar o carro em uma vaga apertada, o estacionamento automático faz um trabalho impecável. Se você não tem certeza se o carro cabe naquele espaço milimetricamente ajustado entre dois veículos, o sistema é excelente para garantir que tudo ocorra com segurança, evitando batidas nos para-choques e raspões na calçada.

A precisão com que ele movimenta o volante é algo que dificilmente um motorista conseguiria reproduzir com tanta confiança. Isso é especialmente útil em áreas onde o espaço é muito restrito e a margem de erro é mínima.

Vale a pena?

Então, será que o carro que estaciona sozinho é a solução definitiva para o perrengue da baliza? Depende. Se você costuma frequentar lugares com vagas bem delimitadas, como estacionamentos de shopping ou condomínios, o sistema realmente entrega uma experiência confortável e sem estresse. Nesses casos, vale a pena o investimento, especialmente se a baliza não é seu forte.

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Agora, para quem enfrenta diariamente o caos das ruas urbanas brasileiras, o sistema ainda tem limitações importantes. A falta de padronização nas vagas e a incapacidade do carro de 'entender' o contexto ao redor — como uma garagem ou uma placa de proibido estacionar — tornam o uso dessa tecnologia mais frustrante do que eficaz em algumas situações.

O sistema, apesar de promissor, ainda não substitui completamente a habilidade humana de interpretar o ambiente e tomar decisões rápidas, especialmente em cenários urbanos desafiadores.

Resumindo: o carro que estaciona sozinho pode ser uma grande ajuda, mas ainda não é a solução mágica para todos os motoristas. Se você espera uma experiência perfeita, pode acabar se decepcionando em ruas menos organizadas, e não deveria apertar seu orçamento apenas para ter essa função.

Porém, como um assistente para vagas difíceis, ele é um recurso valioso e promete continuar evoluindo. No futuro, espera-se que os sistemas de estacionamento automático se tornem ainda mais inteligentes e autônomos.

A evolução deve incluir maior capacidade de interpretar o ambiente ao redor, como identificar corretamente placas de trânsito, garagens e áreas proibidas, evitando os erros que vemos hoje. Além disso, com o avanço da inteligência artificial e a conectividade entre veículos e infraestrutura urbana, os carros poderão se comunicar diretamente com vagas inteligentes, encontrando espaços disponíveis de forma mais rápida e eficiente. Por enquanto, para quem teme a baliza, as câmeras 360 graus desses modelos podem ajudar muito mais do que o assistente em si.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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