Paula Gama

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Por que outubro foi o mês recorde em vendas de carros zero km em uma década

Outubro de 2024 entrou para a história do setor automotivo no Brasil. Segundo dados da Fenabrave, o mês alcançou o maior volume de emplacamentos de veículos em uma década, com 452,8 mil unidades vendidas, um aumento de 9,6% em relação a setembro. Um dos destaques foi o segmento de automóveis e comerciais leves, que somou quase 250 mil unidades.

A questão que fica é: o que motivou essa explosão nas vendas em um ano que, até então, mostrava uma recuperação gradual?

Para entender o fenômeno, analisamos dados do setor, como os números da Fenabrave e o balanço de crédito da B3, além de uma conversa com o consultor automotivo Ricardo Bacellar, que identificou diversos fatores socioeconômicos impulsionando essa alta histórica.

Crédito em alta e menos inadimplência

O crédito tem sido o grande aliado para a recuperação nas vendas de veículos. Em outubro, houve um crescimento de 25,5% nas vendas financiadas em relação ao mesmo período de 2023, segundo a B3. De acordo com Gustavo Ferro, da B3, "foi o melhor resultado desde agosto de 2012".

Além disso, a taxa de inadimplência permaneceu controlada, o que facilitou a aprovação de financiamento: cerca de 75% das propostas foram aprovadas, algo que não era visto desde antes da pandemia.

Ricardo Bacellar destaca que, apesar das altas taxas de juros, o aumento da carteira de crédito direcionado em 11,2% nos últimos 12 meses tem permitido uma maior disponibilidade de financiamento.

"É impressionante ver que, mesmo com a taxa de 25% ao ano, as pessoas estão optando por financiar seus veículos, o que mostra uma demanda reprimida e um apetite renovado pela compra de automóveis", explica o consultor.

Emprego e confiança impulsionam as compras

Outro fator relevante é a recuperação do mercado de trabalho. Bacellar relaciona dados do IBGE com o aumento da demanda por automóveis. Eles mostram que o número de trabalhadores ativos no Brasil atingiu um recorde de 102 milhões de pessoas, com um crescimento de 2,7% em 2024.

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Esse crescimento nos níveis de emprego significa cerca de 2,7 milhões de pessoas a mais no mercado de trabalho em relação ao ano anterior.

Mais notável ainda foi o aumento de empregados no setor público, que atingiu 12,7 milhões, alta de 3,5% no trimestre, ou 424 mil pessoas. Bacellar acredita que essa estabilidade no emprego, com salários em média mais altos e percepção de segurança financeira maior, também contribuiu.

"Quando as pessoas se sentem seguras e têm uma renda estável, elas se sentem mais à vontade para assumir financiamentos longos, como o de um carro", comenta.

Promoções e aumento na oferta

A competição no mercado automotivo, especialmente entre as montadoras de veículos elétricos e híbridos, também desempenhou um papel importante. Com estoques ainda altos, principalmente para os modelos eletrificados, as promoções foram um atrativo a mais para os consumidores em outubro.

Bacellar comenta que "os estoques elevados de elétricos e híbridos mantêm as promoções aquecidas, enquanto os carros a combustão também entram na disputa com boas ofertas".

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Os dados da Fenabrave mostram que as vendas de veículos híbridos e elétricos cresceram significativamente, com o segmento de elétricos puros alcançando 6,1 mil unidades em outubro. Este aumento se deve à maior oferta de modelos e à queda dos preços em algumas marcas, o que tem atraído consumidores dispostos a adotar tecnologias mais sustentáveis.

A expectativa para o restante do ano

Com o fôlego de outubro, a expectativa para novembro e dezembro é positiva. "Novembro e dezembro são meses tradicionalmente fortes em vendas, com 13º salário e promoções de fim de ano, mas o estoque atual está apertado, então as montadoras vão precisar acelerar a produção para evitar desabastecimento", alerta Bacellar.

Ele também lembra que, em janeiro e fevereiro, é comum uma desaceleração natural nas vendas, o que indica que os próximos meses serão um verdadeiro termômetro para o desempenho anual do setor.

Esse otimismo é compartilhado pelo presidente da Fenabrave, Andreta Jr., que afirma: "O mês de outubro foi, de fato, excelente, com crescimento para todos os segmentos. O cenário permanece favorável ao crédito e, por isso, estamos caminhando em direção aos números projetados pela Fenabrave, que prevê alta de 16,8% para todo o setor, no ano de 2024."

Apesar da celebração, Bacellar acredita que ainda há espaço para melhorias. "O apetite do brasileiro por comprar carro está evidente. Se as instituições financeiras reduzissem as taxas de juros e o governo repensasse a carga tributária sobre veículos, estimada em 40%, o setor poderia viver um momento ainda mais espetacular, gerando ganhos não só para a indústria, mas também para a arrecadação, com o aumento do volume de vendas", completa.

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A explosão nas vendas de outubro foi resultado de uma combinação de fatores: maior disponibilidade de crédito, aumento do emprego e estabilidade econômica, promoções, e a expansão do mercado de veículos híbridos e elétricos. Conforme Bacellar explica, "foi como um 'cenário perfeito', com vários fatores convergindo ao mesmo tempo para impulsionar as vendas a um recorde histórico".

Outubro de 2024 deixa uma lição importante: o mercado de automóveis no Brasil tem apetite para crescer, e as condições macroeconômicas, aliadas a uma oferta variada e atraente, são capazes de transformar a demanda em resultados concretos. O desafio agora é manter essa trajetória de crescimento sustentável e acessível para um público mais amplo.

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