Carros 0 km terão sistema obrigatório que concessionárias não sabem arrumar
Nos próximos anos, tecnologias de assistência avançada ao motorista conhecidas como ADAS (Advanced Driver Assistance Systems) se tornarão obrigatórias no Brasil. A primeira fase da implementação começa em 2026, quando sistemas como a frenagem automática de emergência e o alerta de saída de faixa serão exigidos em novos projetos de automóveis. Em 2029, a obrigatoriedade será ampliada para todos os novos veículos no país, incluindo automóveis de passeio e veículos comerciais.
Embora o sistema ainda não seja obrigatório, tecnologias ADAS estão se popularizando, até mesmo em modelos de grande volume, como o Chevrolet Onix e o Hyundai HB20, que já contam com alguns desses recursos desde 2019. Na prática, no entanto, o aproveitamento desse recurso nas ruas encontra um obstáculo: a falta de preparo de muitas concessionárias brasileiras para realizar a calibração do sistema, um serviço essencial recomendado nos manuais dos veículos equipados com esse sistema.
A calibração do ADAS é necessária em diversas situações, como após a troca de componentes (para-brisas e retrovisores), reparos de carroceria, alinhamento de rodas, mudanças na altura do veículo e algumas atualizações de software. O procedimento requer equipamentos especializados e técnicos treinados para garantir que os sensores e câmeras estejam devidamente ajustados.
No entanto, conforme apurado pelo UOL Carros, muitas concessionárias ainda não possuem infraestrutura para realizar esse serviço. A reportagem entrou em contato com 30 lojas de 10 das marcas mais vendidas no Brasil, em São Paulo, Salvador e Belo Horizonte. Em grande parte dos casos, não foi possível agendar a calibração do ADAS, pois as oficinas desconheciam o procedimento ou não possuíam os equipamentos necessários.
Apenas concessionárias da Hyundai e Chevrolet, que têm modelos de volume com ADAS há cinco anos, demonstraram nível de preparo para o serviço. Em algumas lojas, recebemos a orientação de comparecer à oficina para que, pessoalmente, os mecânicos entendessem melhor do que se tratavam, já que nunca tinham ouvido falar do sistema ADAS. Em outros casos, a calibração era conhecida, mas realizada por meio de oficinas parceiras com o equipamento necessário.
Quando questionada, a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) afirmou que não comenta as estratégias específicas de cada montadora.
O que acontece se não calibrar?
A falta de calibração adequada do ADAS representa um risco considerável. Sem a calibração, o sistema pode fornecer informações incorretas ao motorista, levando-o a confiar em alertas imprecisos.
Em situações críticas, como a detecção de um obstáculo na pista, uma falha na calibração pode impedir uma frenagem automática ou resultar em uma resposta tardia, comprometendo a segurança dos ocupantes e dos pedestres. Em outros casos, o sistema pode detectar riscos inexistentes e acionar uma frenagem desnecessária, aumentando o risco de acidentes.
Recentemente, o tema da calibração do ADAS ganhou destaque devido ao crescimento da demanda por esse serviço nas redes de assistência automotiva. A empresa Autoglass, especializada em peças de primeira colisão, observou que cada vez mais veículos equipados com esses sistemas avançados precisam de calibragem após reparos e substituições de componentes.
"No para-brisa é onde fica a maioria dos sensores responsáveis por mapear o trânsito e passar informações como aproximação do carro da frente ou presença de um obstáculo, que pode ser um pedestre. Ao trocar o para-brisa e não calibrar o ADAS, o sistema passará informações incorretas ao condutor, comprometendo sua segurança", explica Flavio Cezario, vice-presidente do Grupo Autoglass.
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