Paula Gama

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ReportagemCarros

Mito ou verdade? Saiba se a chuva afeta a autonomia dos carros elétricos

Nas redes sociais é comum encontrar vídeos de influenciadores que mostram suas experiências com carros elétricos, muitas vezes destacando que a autonomia real ficou aquém da prometida pelo fabricante. Condições adversas do clima desempenham um papel importante nesse cenário, mas será que a chuva afeta o consumo deste tipo de veículo, como também ocorre com modelos a combustão?

De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), a autonomia de veículos elétricos pode ser reduzida em até 30% em condições de chuva intensa. Os motivos desta perda são:

1. Resistência ao rolamento: quando a pista está molhada, a resistência ao rolamento dos pneus aumenta. Isso acontece porque os compostos precisam vencer a camada de água para manter aderência e tração, exigindo mais esforço do motor elétrico e, consequentemente, mais energia da bateria.

2. Sistemas auxiliares em uso: chuva significa faróis ligados, limpadores de para-brisa em ação e, muitas vezes, o desembaçador de vidros funcionando continuamente. Esses sistemas consomem energia adicional, reduzindo a quilometragem que o carro consegue percorrer com uma única carga.

3. Condução cautelosa: chuva também significa dirigir com mais cuidado, o que pode implicar acelerações e frenagens mais frequentes, aumentando o consumo de energia. Além disso, a frenagem regenerativa - um dos trunfos dos carros elétricos para recarregar parcialmente a bateria - é menos eficiente em superfícies molhadas, já que a aderência dos pneus diminui.

A sensibilidade às temperaturas

Estudos com mais de 4.200 veículos elétricos e 5,2 milhões de viagens, como os analisados pela Geotab, confirmam que a autonomia de veículos elétricos é sensível a fatores ambientais, especialmente à temperatura, exercendo uma influência significativa tanto no desempenho da bateria quanto no consumo de energia pelos sistemas auxiliares do veículo.

Em condições ideais, como 21,5ºC, os veículos elétricos demonstram um desempenho notável, alcançando até 115% de sua autonomia nominal. Isso significa que, ao contrário do que muitos pensam, os carros elétricos podem superar a autonomia anunciada em temperaturas moderadas.

Esse ponto de eficiência máxima ocorre porque tanto as baterias quanto os ocupantes do carro não demandam energia adicional para aquecimento ou refrigeração, seja do habitáculo ou do sistema de gerenciamento térmico das baterias.

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Clima frio: o maior vilão da autonomia

À medida que as temperaturas caem, especialmente abaixo de 0ºC, a autonomia dos veículos elétricos começa a sofrer uma queda acentuada. A análise da Geotab mostrou que, em -15 ºC, um carro com autonomia nominal de 400 km pode percorrer, em média, apenas 217 km — uma redução de 54%. Essa perda ocorre por dois motivos principais:

Aquecimento da cabine e da bateria: em climas frios, grande parte da energia da bateria é direcionada para aquecer o habitáculo e manter a bateria na faixa de temperatura ideal de operação. O aquecimento do ar da cabine, por exemplo, pode consumir entre 3.000 e 5.000 watts.

Eficiência reduzida da bateria: os modelos compostos por íons de lítio têm menor capacidade de armazenar e liberar energia em temperaturas extremamente baixas. Embora os veículos modernos sejam equipados com sistemas de gerenciamento térmico para minimizar esse efeito, essa solução consome ainda mais energia.

Clima quente: menos impacto, mas ainda significativo

Embora o calor extremo tenha um impacto menor em comparação com o frio, temperaturas elevadas também reduzem a autonomia. Isso ocorre principalmente porque o sistema de ar-condicionado e o gerenciamento térmico da bateria trabalham continuamente para resfriar o habitáculo e evitar o superaquecimento da bateria. Em dias com temperaturas acima de 35 ºC, a autonomia pode cair cerca de 10% a 20%, dependendo do modelo do veículo.

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Curiosamente, as temperaturas altas têm um impacto mais abrupto, mas a redução total na autonomia é menos severa do que em climas frios, porque a Terra raramente atinge extremos superiores a 50 ºC. Além disso, veículos equipados com bombas de calor para gerenciamento térmico apresentam melhor desempenho em climas quentes, suavizando essas perdas.

Como minimizar os impactos climáticos na autonomia

  • Calibre os pneus regularmente: isso reduz a resistência ao rolamento, especialmente em superfícies molhadas.
  • Use o modo Eco: muitos carros elétricos têm opções de condução econômica que otimizam o consumo de energia, limitando recursos auxiliares e suavizando a entrega de potência.
  • Evite acelerações bruscas: uma condução mais suave preserva a energia e melhora a eficiência.
  • Planeje carregamentos: identifique postos de carregamento rápido próximos ao seu trajeto, especialmente em dias de chuva ou temperaturas extremas.

Conclusão: mito ou verdade?

A chuva não 'detona' a bateria dos carros elétricos, mas assim como ocorre com modelos a combustão, afeta sua autonomia. Além disso, temperaturas extremas — tanto o calor quanto o frio intenso — são fatores ainda mais determinantes. Entender esses impactos ajuda os motoristas a planejar suas viagens, adotar hábitos mais eficientes e aproveitar ao máximo seus veículos elétricos em qualquer condição climática.

Com preparo e planejamento, os desafios impostos pelo clima tornam-se apenas mais uma parte da experiência de dirigir com sustentabilidade.

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