Montadoras preparam 'atestado de saúde' para situação da bateria do carro
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Qual é a primeira coisa que se pergunta na hora de comprar um celular usado? "E a bateria, como está a saúde da bateria", não é? Afinal, ela é o coração do aparelho - e ninguém quer um smartphone que não segura carga, certo?
Com os carros elétricos a lógica é parecida, mas o impacto no bolso é infinitamente maior. A saúde da bateria é uma das principais preocupações de quem pensa em comprar um elétrico ou híbrido usado, e a ausência de uma avaliação clara e acessível desse componente pode transformar uma boa oportunidade em um baita problema - ou ao menos causar uma bela desvalorização na hora da revenda.
Para aplacar essa dor e trazer mais segurança ao consumidor, algumas montadoras estão se movimentando para oferecer um verdadeiro atestado de saúde da bateria. Uma espécie de "check-up" elétrico, que permita ao comprador saber exatamente o estado de conservação da peça mais cara e sensível de um carro eletrificado.
Certificado da bateria
A Volvo, por exemplo, já dá os primeiros passos nessa direção. No Brasil, alguns modelos da marca, como o EX30, já oferecem informações sobre o estado da bateria diretamente na central multimídia do carro. Além disso, a fabricante confirmou que está desenvolvendo um Certificado de Bateria, que será anunciado oficialmente quando o sistema estiver totalmente operacional.
Na Europa, esse tipo de transparência já virou prática: a Volvo lançou um certificado de estado da bateria como parte do programa Volvo Selekt, voltado para modelos usados. A proposta é entregar uma avaliação clara e objetiva da capacidade e do funcionamento da bateria, analisando fatores como idade, ciclos de carga, comportamento de condução e até condições climáticas ao longo do tempo.
A BYD é outra que se prepara para oferecer esse tipo de solução. Atualmente, seus carros mostram apenas dados de condução em tempo real e de carga da bateria na central multimídia, o diagnóstico mais profundo precisa ser feito via equipamento específico da marca, o VDS (Sistema de Diagnóstico Veicular), disponível nas concessionárias.
Segundo a montadora, ainda este ano será lançado um serviço de diagnóstico de saúde da bateria, acompanhado de um programa de veículos usados que também dará suporte às revendas multimarcas. A ideia é emitir um laudo atestando a capacidade da bateria para certificar o veículo.
A Toyota, por sua vez, ainda não oferece um certificado formal de saúde da bateria, mas afirma que sua rede de concessionárias tem a tecnologia e a expertise necessárias para avaliar os componentes do sistema híbrido.
A marca também conta com o programa Toyota Seminovos Certificados, que realiza uma inspeção criteriosa do sistema de eletrificação, e com o Toyota 10, que oferece até 10 anos de garantia para veículos híbridos fabricados a partir de 2020 - incluindo a bateria. Apesar disso, o estado da bateria não pode ser consultado diretamente pelo motorista, como fazemos com a bateria do celular.
Outras empresas também estão de olho nesse novo padrão de transparência. A Caoa Seminovos, por exemplo, utiliza uma ferramenta de diagnóstico que permite avaliar todo o ciclo de vida dos veículos eletrificados, analisando idade, ciclos de carga e comportamento de condução.
Embora não forneça um certificado formal, a empresa afirma que todas essas informações são disponibilizadas ao comprador no momento da venda. E todos os seminovos vendidos pela Caoa contam com um ano de garantia.
Nem todas, no entanto, já embarcaram nessa tendência. A GWM informou que suas concessionárias não realizam avaliações do estado da bateria e que, atualmente, os veículos da marca não possuem recursos internos que permitam esse tipo de diagnóstico para o cliente.
Por que isso importa tanto?
Esse movimento em direção à maior transparência é cada vez mais necessário. O mercado de usados eletrificados está crescendo. Mas, como explicam especialistas, a cautela ainda é fundamental. Paulo Korn, conhecido como "caçador de usados de luxo", lembra que o sistema elétrico dos veículos é altamente protegido e que não é qualquer ferramenta de diagnóstico que consegue acessar todas as informações. Por isso, ele só compra modelos ainda dentro da garantia.
"Se o carro estiver fora da garantia, o preço tem que ser muito menor", alerta Korn.
E se a bateria acabar? A boa notícia é que o custo tem caído bastante. Segundo Wanderlei Marinho, da SAE Brasil, em 2010 era de mil dólares por kWh. Hoje, está em torno de US$ 110 - o que já reduz bastante o preço de um eventual reparo. Além disso, a substituição costuma ser feita por módulos, e não pela troca completa, o que alivia o custo.
A bateria pode durar cerca de 15 anos no carro, e mais sete em seu segundo ciclo de vida, como bateria estacionária - podendo até ser usada como parte de pagamento na compra de uma nova, como já acontece com as baterias de chumbo dos carros a combustão.
Com diagnósticos mais claros e certificados acessíveis, os carros elétricos usados podem finalmente perder o estigma de "caixa-preta". E aí, voltando à pergunta inicial: você compraria um celular usado sem saber o estado da bateria? Com carro elétrico, cada vez mais, essa resposta tende a ser "não".
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