Oiapoque ao Chuí de bike: ele cruzou o Brasil e encarou 55ºC de temperatura
Uma travessia audaciosa, de bicicleta, do extremo norte do país aos confins da região sul brasileira. Foi com essa ideia que o cicloviajante Nestor Freire, 53 anos, deixou a cidade de São Paulo rumo ao estado do Amapá no começo de setembro. O objetivo de ligar as cidades de Oiapoque (AP) e Chuí (RS) virou realidade depois de 72 dias de muitos desafios, como o de enfrentar uma temperatura de 55ºC no Tocantins, por exemplo.
Acostumado a esse tipo de aventura e desafio, Nestor, que há oito anos passou a fazer travessias de bike, dedicou-se a três meses de preparação, depois que a pandemia do novo coronavírus resultou na mudança de planos: inicialmente, ele iria à Islândia. Sem essa possibilidade, ele decidiu explorar o interior brasileiro.
No minucioso plano, feito com base em mapas e incluindo 75 paradas entre um ponto e outro, Nestor traçou um trajeto que serviu de base para vencer os quase 6.500 km de distância entre o Oiapoque e o Chuí. Com o caminho em mãos, ele conseguiu atravessar o Brasil em 72 dias, em um total de 6.475 km, com o apoio de pessoas desconhecidas, que cederam espaço para descanso em muitos dias — ele também ficou em pousadas pelo caminho.
Para superar o desafio, Nestor pedalou pelo Amapá, atravessou o Rio Amazonas de barco de Santana (AP) a Belém (PA) e iniciou a travessia da Transbrasiliana, a rodovia mais longa do país. O cicloviajante chegou a pedalar por um pedaço da Transamazônica, com asfalto, mas sem acostamento, muito tráfego de caminhão.
O maio desafio, porém, não foi encarar esse tipo de companhia na estrada. Ainda no norte do país, Nestor precisou lidar com o clima extremamente quente, potencializado por uma onda de calor que assolou o país em outubro, acompanhado de algumas queimadas na região da Amazônia que agravaram o cenário.
"A maior dificuldade que tive foi em relação à temperatura. No norte do Amapá é muito quente e úmido, diferente do norte do Tocantins, que é quente e seco. No norte do Amapá, peguei 50ºC, o maior desafio foi cruzar a BR-156, que sai do Oiapoque e vai até Macapá. Tive um tombo feio ainda, na estrada de terra", disse Nestor em entrevista à Coluna Pedala.
"Quando entrei no Tocantins eu passei mal, eu desidratei, o corpo não conseguia metabolizar o que eu estava tomando. Peguei 55ºC lá. Teve um dia que a mata estava pegando fogo e eu não conseguia respirar porque a cidade de Lajeado, a 50 km de Palmas, ficou encoberta por fuligem", completou.
Passado esse trecho mais complicado, Nestor teve mais tranquilidade para curtir a parte mais prazerosa de uma cicloviagem longa. Receber ajuda de brasileiros desconhecidos, mesmo diante da pandemia, com o máximo de segurança possível.
"O encontro das pessoas foi a melhor parte. Passar por nove estados, mais o Distrito Federal. As pessoas não sabiam o que fazer para me auxiliar, mas ofereciam camisa, água, comida, a casa para eu dormir. Eram casas muito simples. Essa solidariedade do povo brasileiro me marcou demais", contou Nestor.
O cicloviajante chegou ao Chuí no dia 17 de novembro, depois de mais um trecho complicado na BR-471, lugar de muito vento. Ao todo, passou pelos seguintes estados: Amapá, Pará, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal.
O projeto de Nestor se chama Giraventura e é composto por 15 etapas. Ele inclui passagens por Islândia, Austrália, Equador, África do Sul, Turquia/Irã, Butão, Peru e Israel. A ideia é finalizá-lo em 2027, ano em que ele completará 60 anos. Em 2019, por exemplo, o cicloviajante colocou em prática a passagem pelos extremos do mundo. Primeiro, pedalou no Chile e na Argentina, até a região do Ushuaia. Depois, foi até o norte, onde pedalou pelo território norueguês.
No Instagram, Nestor está no perfil projetogiraventura.
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