Polo GTS não é único: veja outros 3 carros que causaram espanto por preços
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As redes sociais deram voz às pessoas. Analisando comentários e outros parâmetros em plataformas como YouTube, Facebook e Instagram, entre outras, se observa o que pensa um grupo. No mundo do automóvel, a polêmica do momento nas redes é o preço do Volkswagen Polo GTS.
Em diversas esferas virtualmente sociais, há um inconformismo. Como pode um Polo custar R$ 100 mil? Não é a primeira vez que isso ocorre. Na história recente do mercado automobilístico, modelos como os Honda WR-V e HR-V Touring, além do novo Hyundai Santa Fe, foram lançamentos cujos preços geraram polêmica no universo virtual.
O consumidor médio - aquele que não faz parte do nicho de entusiastas automotivos - não se apega a fatores que podem interferir no preço de um carro. Entre eles estão estratégia da marca, o fato de ele ser importado (e recolher 35% de imposto na alfândega) e o pacote tecnológico que o modelo oferece. Fora do universo das marcas de luxo, para quem compra o que vale é o preço a ser pago pelo produto.
No geral, o brasileiro considera caro qualquer veículo vendido no País. Mas, quando o preço de um automóvel gera comoção além da normal no período de lançamento, é por causa de alguns fatores. O mais importante é a comparação de sua tabela com a dos concorrentes.
Além disso, há uma tendência a se analisar o preço do carro ante o dos demais veículos da mesma marca. No caso da Honda, por exemplo, as principais reações negativas foram desencadeadas por esse parâmetro.
Há ainda a dificuldade de percepção sobre uma versão de nicho de um modelo mais popular. O Polo se enquadra exatamente nesse caso.
Aqui, vou analisar os carros com preços de lançamento que geraram comoção. E como essa reação negativa impactou - ou ainda pode impactar - em suas carreiras no mercado.
Polo GTS assusta
O Polo de R$ 100 mil está comovendo o consumidor brasileiro. É comum no universo virtual ler comentários indignados com o fato de um dos carros mais populares da linha Volkswagen ter preço de Corolla e Civic, entre outros modelos de construção superior.
A tabela exata do Polo GTS é R$ 99.470. Com opcionais (pacote de som Beats e pintura metálica), vai a R$ 103.440. Abaixo da opção com apelo esportivo, agora topo de linha, há a Highline (1.0 turbo de 128 cv), que parte de R$ 76.990.
Com todos os opcionais, o Polo Highline vai a R$ 86.340, R$ 17.100 a menos que o GTS completão.
Quando se compara o Polo GTS com a versão mais barata, o abismo é ainda maior. Essa opção do hatch sai por R$ 53.590. Quase a metade do preço.
Para o consumidor comum isso é inconcebível. E fatores como o Polo GTS ser o mais barato modelo com o excelente motor 1.4 turbo de 150 cv do Grupo Volkswagen - acima dele, há o T-Cross Highline, a partir de R$ 109.990 - parecem não ter impacto nenhum nessa posição.
Nem mesmo as mudanças feitas na suspensão e a introdução de modos de condução têm sido capazes de convencer o brasileiro que o Polo GTS vale o que custa. Afinal, entram na conta da compra racional fatores como desvalorização - e existe a tendência a se pensar que a da versão com apelo esportivo será bem mais alta que a das convencionais - e o status que quem paga caro espera receber. Um Polo garante status?
A comoção negativa seria um termômetro de que o Polo GTS está fadado ao fracasso? A minha opinião: ocorrerá o contrário.
Polo GTS é carro de nicho
Aquele que esbraveja nas redes sociais sobre o preço do Polo GTS possivelmente não é o cliente que a Volkswagen almeja para o carro. O hatch com apelo esportivo é herdeiro de uma tradição histórica. Ele nasce para substituir o emblemático Golf GTI, que acaba de deixar o mercado brasileiro.
Além disso, carrega o peso da sigla GTS, e tudo o que ela representou na linha Gol. Há também quem a associe ao saudoso Gol GTI, sonho de consumo de uma juventude hoje com maior poder aquisitivo.
O cliente que, em minha análise, a Volkswagen almeja, é o maior dos entusiastas. Aquele que é conectado à história do automóvel, e que considera o prazer de dirigir e a emoção de estar ao volante do herdeiro de uma tradição, muito mais importantes que fatores racionais, como preço e desvalorização.
Esse consumidor deixa de comprar um Corolla ou Civic, ou um SUV compacto que seja unanimidade, para ter um carro como o Polo GTS. É o cliente que quer fugir do senso comum em prol de uma identidade: a de grande entusiasta.
Se o vizinho disser o negócio ruim, ele não se importa. Entusiasta que é entusiasta é movido pela paixão, não pela razão nem por opinião generalista. Vale mais a percepção de seu grupo de apaixonados por carros.
O consumidor emocional é a minoria da minoria, ainda mais fora do universo das marcas premium. Em contrapartida, se o Polo GTS fizer sucesso entre clientes que são também formadores de opinião de pequenos grupos, vai potencializar a credibilidade das demais versões do Polo entre o grande público.
E garantir ao carro, hoje o mais vendido da marca, o primeiro passo para ter um peso histórico, quem sabe, um dia próximo ao do agora do Gol.
Santa Fe foge do padrão da concorrência
O novo Santa Fe custa R$ 297 mil. A referência do segmento, o VW Tiguan - na versão de topo R-Line, parte de R$ 187.990 e chega a R$ 195.625. O modelo da Hyundai não é superior a ele nem em números, nem em equipamentos.
O Santa Fe é 7 cm mais comprido que o Tiguan, mas oferece o mesmo entre-eixos e porta-malas bem inferior. Traz motor V6 com 60 cv a mais que o 2.0 turbo do VW, mas com menor torque. É bem mais lento no 0 a 100 km/h - cerca de 1,5 segundo.
O preço do Tiguan é o padrão do praticado para as versões de topo dos SUVs médios. O VW é até um pouquinho mais caro. Ou seja: o Santa Fe custa mais de R$ 100 mil a mais que a concorrência.
É difícil compreender a estratégia da Hyundai. Talvez a marca queira vendê-lo como um SUV grande, não médio, por suas dimensões de carroceria. Ou talvez o imposto de importação (o Santa Fe vem da Coreia do Sul e recolhe 35%; os mexicanos Tiguan e Equinox são isentos dessa taxa) tenha inviabilizado um preço mais competitivo.
Nesse caso, a estratégia da Hyundai deverá ser semelhante à da Honda, com o novo CR-V. Como o modelo deixou de vir do México e passou a ser trazido dos EUA, a marca o transformou em um carro de nicho, com expectativa de vendas anunciada no lançamento (há pouco menos de dois anos) de 50 unidades ao mês, no máximo - número conivente com seu volume de importação.
E é importante ressaltar que o sucesso não depende do ranking de vendas, e sim da expectativa traçada pela marca em ralação a um produto. Vale lembrar que o CR-V custa R$ 194.900. Apesar da boa tecnologia embarcada, seu 1.5 turbo gera 190 cv, 90 cv a menos que o Santa Fe.
As polêmicas da Honda
Os preços de lançamento de modelos Honda que mais geraram polêmica foram os comparados aos de carros da própria marca. No universo das redes sociais, ninguém entendeu o fato de o HR-V Touring ser lançado por R$ 11 mil a mais que o Civic Touring.
Apesar do conjunto motor-câmbio idêntico, o sedã tem plataforma mais moderna, suspensão independente nas quatro rodas, porta-malas maior e lista de equipamentos mais tecnológica.
E realmente é difícil explicar essa diferença. Analisando o contexto do mercado, dá para apostar que o preço superior do SUV de topo foi justificado, na estratégia da Honda, pelo fato de os utilitários-esportivos terem muito mais apelo junto ao consumidor que os sedãs médios.
Atualmente, a diferença diminuiu. O sedã ficou apenas R$ 3.200 mais caro. Sai por R$ 137.700. Mas não houve nenhuma redução no preço do HR-V Touring, que mantém os R$ 139.900 do lançamento, no primeiro semestre de 2019. Foi o Civic que ficou bem mais caro.
Quanto ao WR-V, a polêmica surgiu por ele ter sido lançado com o mesmo preço do HR-V, à época o SUV mais vendido do País. O modelo menor, com um motor pior, saía pelos mesmos R$ 80 mil iniciais.
A estratégia da Honda foi lançar o WR-V só com câmbio automático. O preço era semelhante ao do manual do HR-V, que segundo informações da marca tinha apenas 1% das vendas da gama.
Quando se comparava o WR-V de entrada com o HR-V automático mais barato, a diferença aumentava para quase R$ 6 mil. Porém, o modelo de entrada ainda perdia feio. Além de trazer motor inferior, oferecia menos equipamentos.
Estratégias à parte, as redes sociais não aceitaram o preço inicial semelhante. Até pela grande semelhança entre o WR-V e o hatch compacto Fit.
Preço muito alto nem sempre intimida
Modelos criticados pelo preço alto em redes sociais não estão fadados ao fracasso no mercado. Há vários exemplos, e o principal é o Tiguan.
O SUV médio chegou com boa variação de versões. Mas, na opção topo de linha, veio à época mais caro que o Chevrolet Equinox Premier 2.0, que é 42 cv mais potente. Ainda assim, o modelo da VW faz imenso sucesso desde seu lançamento, inclusive na configuração mais cara.
Para comparação, em 2019 foram vendidos 13.074 Tiguan e 4.630 Equinox. Em segmentos de maior valor agregado, o senso comum do mundo virtual parece não ter nenhum apelo. Que o diga o caríssimo Toyota SW4, que frequentemente aparece na lista dos dez SUVs vendidos do Brasil.
No caso do WR-V, no entanto, as críticas foram coniventes com o desempenho de mercado do carro. A Honda nunca divulgou sua expectativa de vendas para o modelo. Ainda assim, ele nunca teve grande participação no segmento.
Além disso, a medida que foram chegando mais concorrentes, perdeu cada vez mais espaço. Em 2019, foi apenas o 14º SUV mais vendido do País.
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