Desbravando a Rota 66: como é viajar na estrada mais famosa do mundo
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A Rota 66, nos Estados Unidos, já foi cenário de diversos filmes e até da animação "Carros". Já batizou música. Símbolo da liberdade dos jovens nos anos 50 e 60, é a estrada mais famosa do mundo e corta o país de leste a oeste. Qualquer apaixonado por carros e motos sonha em percorrer essa via.
Não é fácil, porém, percorrer a Rota 66. A estrada atualmente é mais um elemento turístico que uma via movimentada dos EUA. Com a proliferação das grandes rodovias, foi perdendo seu fluxo, o que gerou as famosas "cidades fantasmas" ao seu redor.
Essas cidades, cuja economia dependia da rota, foram sendo abandonadas pela população. Essa história, aliás, é contada no início do filme "Carros".
As "cidades fantasmas" estão agora entre as maiores atrações turísticas para quem quer conhecer a Rota 66. Mas, para percorrer a estrada por completo, é preciso ter muito tempo. Afinal, a via nasce em Chicago e termina em Santa Mônica, na Califórnia. São nada menos que 4 mil km.
No trecho, a Rota 66 passa pelos estados de Illinois, Missouri, Kansas, Oklahoma, Texas, Novo México, Arizona e Califórnia. Por lá, surgiram o primeiro McDonald's e o primeiro motel (os hotéis de rodovias dos EUA) da história.
Não a percorri inteira. Embora seja grande fã de road trips - já rodei 4 mil km entre Alemanha, Suíça, Áustria, Itália e França, entre outras aventuras sobre rodas -, desta vez meu tempo não era longo. Então optei pelo trecho mais famoso, aquele que pode ser feito em um dia.
Trata-se do trecho entre Las Vegas (Nevada) e Los Angeles (Califórnia). Muitas pessoas preferem fazer o caminho oposto. Porém, preferi o simbolismo de terminar no ponto final da rodovia. Afinal, era a Califórnia que os jovens de outros tempos, partindo da costa leste dos EUA, queriam alcançar, em busca da liberdade representada por aquele estado.
Encontrar a Rota 66: missão complicada
Convencer qualquer GPS a nos levar de Las Vegas a Los Angeles pela Rota 66 (são cerca de 450 km) não é uma missão fácil. O aparelho (e eu estava usando dois, o do telefone e um alugado na locadora de veículos) insistia em querer me manter na rápida e reta I15, rodovia de pista dupla e sem pedágios.
O segredo é ignorar o GPS e saber quando deixar essa rodovia. Para chegar à Rota 66, é preciso, necessariamente, passar no meio do deserto do Mohave. Isso porque a estrada não passa por Nevada.
Então é preciso percorrer cerca de 50 km até a divisa com a Califórnia pela I15, seguindo indicação do GPS. É uma rodovia rápida, com velocidade máxima de 75 milhas por hora - 120 km/h.
Após entrar na Califórnia, segui, ao volante de um Volkswagen Beetle que aluguei no hotel em Las Vegas, a indicação para o Mohave National Preserve, parque que passa pelo meio do deserto. Essa é a maneira mais fácil de chegar à Rota 66 a partir de Las Vegas. Além disso, a paisagem é sensacional.
No entanto, o trecho é bastante deserto. É raríssimo ver algum outro carro durante a maior parte do trajeto. E algumas partes da estrada são mal conservadas. Exigem um cuidado para não ter um pneu furado, por exemplo. Verifique se o carro está em boas condições antes de se aventurar no parque. Celular por lá não funciona.
Por isso, uma dica é, antes de entrar no parque, programar o GPS para a cidade de Amboy. A Rota 66 passa por ela. Porém, eu saí antes, na I40. A famosa estrada é paralela a essa rodovia de pista dupla.
Poucos quilômetros depois, surgiu a placa para a "Histórica Rota 66". E, dali em diante, segui viagem pela estrada de pista simples.
Trajeto e cidades
A Rota 66, nesse trecho, é muito bem preservada. A pista é bastante ondulada. Carros muito baixos, portanto, podem não se dar tão bem nela. Com o Beetle, porém, não tive problemas.
Para quem espera uma rota cheia de curvas, esqueça. A estrada é praticamente inteira reta, e a maior parte da pista é bastante larga.
A cada milha, um arrepio de emoção: você pode ver, no chão, a lendária inscrição "Rota 66". A via também é identificada por placas azuis durante todo o trajeto, que continua tendo o deserto do Mohave como paisagem marginal (mas já não mais no parque de preservação).
As principais atrações nesse trecho são postos abandonados, com carros antigos, e as "cidades fantasmas". Delas, a mais famosa é Calico Ghost Town, uma verdadeira viagem ao velho Oeste.
Mais à frente está Barstow. A rota passa bem no meio da cidade que, diz a lenda, serviu de inspiração para Radiator Springs (cenário de "Carros").
Em Barstow, que se parece mesmo com Radiator, está o museu da Rota 66. Logo à frente, Oro Grande também encanta. Por lá, vi uma Kombi que parecia a versão real de Fillmore, personagem de "Carros".
Alternando rotas
Percorri mais alguns quilômetros após Oro Grande, com a I40 sempre bem próxima. Depois, decidi voltar à via principal para chegar a Los Angeles. Logo a seguir surgiu a região de San Bernardino, com montanhas que deixam a paisagem espetacular.
Dava para ficar mais na Rota 66, e seguir por ela até Santa Mônica, seu final. Inclusive, pretendo fazer isso em outra ocasião.
Naquele dia, a viagem já havia sido muito longa, com as paradas e a rota pelo parque do Mohave. No trecho do deserto, uma chuva forte causou alagamento em uma parte baixa da via e, junto com algumas outras pessoas que estavam na região, tive de esperar cerca de uma hora até o nível da água baixar a ponto de o carro conseguir passar.
Ao todo, levei cerca de nove horas nessa viagem, que foi lenta, sem pressa, parando sempre que dava vontade. Um dia longo, mas incrível e inesquecível, por ser a realização de um sonho.
Quem quiser ir direto de Las Vegas a Los Angeles pelas rodovias rápidas I15 e a I10 vai levar cerca de quatro horas e meia. Mas perderá a oportunidade de conhecer uma parte importante da história dos Estados Unidos e ser levado a um mundo que parece de cinema.
Aluguel do carro
Tentei alugar um Mustang para fazer a rota. Porém, por esse carro, o preço para retirada em Las Vegas e devolução em Los Angeles era muito alto. Acabei optando por usar o Ford no dia anterior, em um bate e volta de Vegas ao Grand Canyon, experiência que contarei em outra oportunidade.
Já para os carros considerados mais simples para o mercado norte-americano, como o Toyota Corolla, o Nissan Sentra ou o Beetle que escolhi, não havia diferença de custo para devolução em Los Angeles.
A locadora era no hotel, o Aria (leia mais abaixo). Quase todos os grandes hotéis da Strip, via principal de Las Vegas, oferecem esse serviço. Como saí da cidade de Nevada antes das 8h, consegui chegar a Los Angeles a tempo de devolver o veículo em uma filial da mesma locadora próxima a meu hotel na cidade da Califórnia.
E valeu muito a pena, pois a pernoite de estacionamento em meu hotel, como a maioria em locais como Beverly Hills, Hollywood, West Hollywood e Santa Mônica, mais comuns para hospedagem em Los Angeles, era caríssima. Eu teria de desembolsar US$ 50.
Onde se hospedar em Las Vegas e Los Angeles
Em Las Vegas, escolhi o Aria por duas razões. Ele está bem no miolo da Strip, o epicentro de Las Vegas, ao lado de outros hotéis que também concentram as principais atrações da cidade. Além disso, não tem tema (como reproduções de Paris, Veneza, Nova York ou a Inglaterra da Idade Média). Assim, não atrai tantos turistas como os outros hotéis das redondezas.
O Aria se destaca por quartos a partir de 50 metros quadrados, uma imensa academia, por reunir alguns dos mais badalados restaurantes de Las Vegas (como o Sage, o Brasserie Bardot e o Jean-Georges Steakhouse) e ter piscinas exclusivas para hóspedes, separadas das destinadas às famosas pool parties de Vegas.
Na primeira metade de abril, sai por cerca de US$ 140 a diária. Na mesma região, também no epicentro da Strip, há opções mais econômicas, como o temático quatro-estrelas New York, New York (US$ 70) e o famoso MGM Grand (US$ 65). Um dos poucos hotéis sem cassino, o Trump Las Vegas sai por US$ 110.
Em Los Angeles, qualquer uma das quatro regiões citadas acima é uma boa escolha. Santa Mônica é para quem quer ficar na praia. Beverly Hills tem alguns dos hotéis mais famosos (e caros) da cidade, como o Beverly Wilshire, da rede Four Seasons, que ficou famoso no filme "Uma Linda Mulher".
Hollywood e West Hollywood são bairros um pouco mais em conta, e com vida noturna mais agitada que em Beverly Hills. Escolhi a segunda região, que concentra algumas casas noturnas que revelaram grandes astros do rock norte-americano. Mas não gostei do hotel que escolhi.
Trata-se do moderninho The Standard, famoso também em Nova York. É muito caro (cerca de US$ 230 na primeira metade de abril) para o que oferece: camas e travesseiros desconfortáveis, banheiro mal equipado e opções gastronômicas limitadas. Atende melhor o público jovem, pois aos finais de semana oferece barulhentas festas durante todo o dia (inclusive na pequena piscina, limitando o espaço dos hóspedes) e noite.
Em West Hollywood, o Andaz (a partir de US$ 300) e o Mondrian (US$ 210) são opções melhores, e ficam na mesma avenida do The Standard, a famosa Sunset Boulevard.
Se quiser um hotel moderninho que vale a visita, o Dream Hollywood (cerca de US$ 320) tem um bar rooftop com vista para o letreiro de Hollywood. Por lá, também está o famoso restaurante asiático TAO.
Em Santa Mônica, o Viceroy tem quartos amplos com decoração contemporânea, banheiros grandes, modernos e bem equipados e uma área de piscina com camas confortáveis. Fica a poucos passos da praia. Diárias a partir de cerca de US$ 380.
Independentemente do local escolhido, carro, táxi, Uber ou outros aplicativos ou mesmo ônibus são essenciais em Los Angeles. Os locais são distantes uns dos outros - mesmo aqueles que, no mapa, parecem próximos.
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