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Road trip: como é viajar 500 km de SP ao RJ de Porsche elétrico
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O trecho da BR-116 entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, batizado de Rodovia Presidente Dutra (ou Via Dutra), é o roteiro rodoviário mais movimentado do Brasil, já que conecta suas duas principais metrópoles. Há quem vá de avião, de carro, de ônibus. Porém, agora há uma experiência muito inovadora para se fazer esse trajeto: de carro elétrico.
Eu viajei de São Paulo ao Rio de Janeiro não com um elétrico qualquer, mas com um carro esportivo a bateria: o Porsche Taycan na versão 4S. O modelo de 435 cv, que pode chegar aos 556 cv com overboost (disponível apenas para arrancadas), está à venda por R$ 699 mil e tem mais de 550 km de autonomia.
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Porém, em rodovias como a Dutra, de pista dupla e alta velocidade, a tendência é de que essa autonomia caia bastante. Carros elétricos têm mais alcance na cidade que na estrada, pois gastam menos bateria com velocidades menores e, ao contrário dos a combustão, gostam do anda-e-para.
Esse processo promove regeneração da bateria e aumenta a autonomia dos veículos. Por isso, viajar de São Paulo ao Rio de Janeiro com um Taycan pode, à primeira vista, ser considerado uma missão arriscada. Entre as duas cidades são cerca de 420 km. Mas, na maioria dos casos, é preciso rodar bastante dentro delas para chegar ao destino final.
No meu caso, saí da sede da Porsche, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo, e terminei a viagem no hotel Emiliano, no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. Total de quilômetros rodados: 500. Mas cheguei, e gastei apenas R$ 60 no trajeto. Como consegui? É essa experiência que compartilho aqui com vocês.
A Via Dutra
De São Paulo ao Rio, só tinha viajado pela Dutra uma vez, aos 7 anos de idade. Obviamente, não me lembro de quase nada. Situação como a minha não é rara. Vivendo em São Paulo, já visitei o Rio de Janeiro tantas vezes que perdi as contas. Mas sempre dei prioridade à facilidade da ponte aérea Congonhas-Santos Dumont.
Após viajar de Porsche elétrico pela Dutra, essa preferência tende a mudar. Mas não pelo trecho entre São Paulo e Taubaté, que confirma a fama: é muito movimentado e repleto de caminhões. A velocidade máxima por ali varia de 80 km/h a 110 km/h, que raramente é alcançada.
Mesmo com pista dupla, ultrapassar por ali é uma missão complicada, seja pela fila de carros que trafegam pela esquerda ou por caminhões nessa faixa, algo bem constante. Mas, após Taubaté, a Via Dutra muda completamente de personalidade.
A estrada vai ficando mais vazia, o que valoriza suas curvas constantes e, em alguns trechos, até desafiadoras. Por quilômetros e mais quilômetros, a via é acompanhada pela bacia do Rio Paraíba do Sul, e dá para avistar partes da Serra da Mantiqueira. O cenário é muito bonito.
Entre as cidades que ficam no trajeto, um dos destaques é Aparecida. Da Dutra, dá para ver a belíssima Catedral Basílica de Nossa Senhora Aparecida, o maior templo do Brasil e segundo maior do mundo. Ela atrai diariamente peregrinos de todo o País à cidade.
O ponto alto da viagem é a Serra das Araras, logo após Piraí (RJ), que termina alguns quilômetros antes da chegada à região metropolitana do Rio de Janeiro. A paisagem serrana é deslumbrante e as curvas, muito gostosas de fazer com o Porsche Taycan 4S. Mas fique atento: a velocidade máxima é de 40 km/h e há diversos radares por todo o trajeto.
Recarregando o Taycan 4S
Com o domínio do mercado por carros flexíveis, é cada vez menor a autonomia dos veículos. Poucos são os que conseguem transpor a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro sem uma parada para reabastecimento. O Taycan 4S mostrou ter até mais autonomia que muitos modelos a combustão.
O problema é que, em automóveis com motor a gasolina, diesel, ou flex, há postos para reabastecimento aos montes - na Dutra, em média a cada 50 km. E quando um carro é elétrico? O que fazer?
A Via Dutra foi escolhida para ter o primeiro corredor elétrico do Brasil, criado pela BMW em parceria com a EDP (em 2018). De São Paulo ao Rio, são três postos, e outros três no sentido inverso. Em média, estão separados por 150 km.
É uma distância longa. O ideal é que um fique a, no máximo, 100 km do outro. Para o Porsche, a realidade não foi um problema, mas os 150 km prejudicam modelos de menor autonomia, como Nissan Leaf, Renault Zoe, Fiat 500e e Mini elétrico, entre outros. Esses modelos, na estrada, dificilmente conseguem rodar 200 km. Eles chegam à recarga no limite.
Eu parei já no primeiro posto, em Guararema (SP), a 85 km de meu ponto inicial, na zona sul de São Paulo. Não precisava, mas parei, por medo de não encontrar a infraestrutura funcionando na estação seguinte.
Cheguei a Guararema com 86% de bateria e, após conectar o carro na estação DC (de carga rápida), o sistema do Taycan informou que seriam 45 minutos para ir a 100%. Os carregadores do corredor da Dutra têm 50 kW, potência baixa para modelos de alta autonomia, como o Porsche, o Volvo XC40 e elétricos da Audi - todos com baterias de mais de 70 kWh.
Se estivesse com carga zero, o Taycan levaria 1h40 para chegar a 80%. Em uma estação ultrarrápida de 150 kW, como a do shopping Serramar, em Caraguatatuba, são 40 minutos nesse mesmo processo. Quatro anos após a instalação, os carregadores da Dutra já estão defasados para os automóveis elétricos mais modernos.
Quinze minutos após o início da recarga, eu já tinha 98% de bateria e mais de 450 km de autonomia no modo de condução Range, que limita a velocidade a 140 km/h, deixa as acelerações um pouco mais lentas e aumenta o alcance do carro. Em modelos elétricos, o fim da recarga é lento. Decidi que 98% já eram suficientes para partir.
Foi o tempo de tomar o café. Em Guararema, a infraestrutura do posto de recarga é ruim. Há apenas um loja de conveniência AM/PM. Não é uma boa parada para aproveitar o processo de recarga para almoçar, por exemplo.
Taycan x Leaf
O segundo posto de recarga fica em Guaratinguetá, ainda em São Paulo, bem no meio do caminho. Por lá, encontrei dois problemas. Logo após estacionar, chegou o dono de um Nissan Leaf, também em busca do carregador.
Foi ali que descobri que dá para carregar apenas um carro por vez, apesar de o carregador ter três saídas (duas DC e uma AC, de carga lenta). Em Guaratinguetá, cheguei à frente do Leaf, mas a realidade seria diferente adiante.
O segundo problema surgiu no processo de desbloqueio do aparelho. O carregador não estava disponível por meio do app EDP EV Charge. Então, tive de procurar o responsável pela estação elétrica no posto, para que o desbloqueio fosse realizado com cartão. Deu certo, mas só estava funcionando a entrada AC.
Decidi conectá-la ao carro. Estava com 76% de bateria e o sistema do Taycan apontou que a recarga completa levaria três horas. Fiquei uma hora apenas, o tempo de um almoço bem lento (ninguém leva tanto tempo para almoçar na estrada. Eu enrolei para ganhar autonomia). Ao menos, a infraestrutura no posto, um Graal, era boa.
Ao final de uma hora, a autonomia aumentou para 85%. Além da hora de almoço, perdi mais uns quarenta minutos no processo de procurar o responsável pelo cartão de desbloqueio e constatar, após várias tentativas, que o carregador DC de fato não funcionava.
Os 85% eram suficientes chegar ao Rio de Janeiro, mas decidi parar mais uma vez para checar como é a última estação, em Piraí, a 150 km de Guaratinguetá. Planejava mais uns 15 minutos, para poder usar o modo esportivo sem culpa nos últimos 80 km de viagem.
O posto de Piraí é menor que o Graal de Guaratinguetá, mas também tem infraestrutura excelente, com restaurante, lanchonete, loja e bons banheiros. Porém, o Leaf que chegou atrás de mim a Guaratinguetá já estava conectado ao carregador. E havia acabado de começar a recarga - levaria 40 minutos para finalizar o processo.
Como eu ainda tinha 200 km de autonomia, achei que não valia esperar e segui viagem tranquilamente até o Rio de Janeiro. Foram 7h30 em um trajeto que, com carro a combustão, levaria de 5h30 a 6h de porta a porta, com uma parada.
Eu não precisava ter parado três vezes, mas não conhecia o carro. Acabei acometida por um fenômeno bem comum na Europa e nos EUA, a ansiedade elétrica. Donos de modelos a bateria acabam parando demais pelo caminho, pois têm medo de não encontrar infraestrutura na estação seguinte.
Controlando a ansiedade
Na volta a São Paulo, já mais confiante na boa autonomia do carro, decidi pular a primeira parada, também em Piraí. A segunda é em Queluz (SP), logo após a divisa entre os Estados. Ali, planejei almoçar (a propriedade é da rede Graal) e recarregar o carro durante 40 minutos.
Porém, encontrei dois problemas naquela estação do meio do caminho (a mais importante em uma viagem de carro elétrico). O primeiro: como em Guaratinguetá, a entrada DC não estava funcionando. Além disso, a AC estava ocupada por um Fiat 500e.
O jeito era seguir viagem até São José dos Campos (SP), a 150 km. Porém, acabei perdendo uns 40 minutos em Queluz, pois decidi almoçar ali mesmo - levaria muito tempo até o destino seguinte.
Ainda bem que tomei essa decisão, pois em São José dos Campos, como em Guararema, a infraestrutura é formada apenas por uma loja de conveniência. Cheguei ao posto com 85 km de autonomia e decidi recarregar o carro por apenas meia hora.
Atingi 170 km de autonomia e cheguei à minha parada final, a sede da Porsche, com 45 km. Mas sem nenhuma ansiedade. Já conhecia o carro o suficiente para saber que o alcance que tinha era suficiente.
A viagem de volta foi feita em 6h30, mas eu poderia a ter concluído em 5h50 sem a parada em Queluz - um tempo razoável para Rio de Janeiro a São Paulo de porta a porta. Ainda assim, tanto na ida quanto na volta houve contratempos suficientes para mostrar que a infraestrutura para modelos elétricos ainda tem muito a evoluir.
O lado positivo é que todas as recargas são gratuitas. Meu gasto na viagem foi apenas o valor dos pedágios - R$ 60 na ida e R$ 60 na volta.
O destino: Rio de Janeiro
Passei quatro dias no Rio de Janeiro como uma proprietária de carro elétrico. Essas pessoas têm carregadores em suas casas mas, quando decidem viajar, sempre fica a dúvida: onde recarregar o automóvel?
Cada vez mais, hotéis oferecem dispositivos de carregamento. Especialmente os de luxo, pois a maioria dos elétricos custa muito e tem como clientes pessoas de alto poder aquisitivo. No aplicativo Plug-Share, descobri duas propriedades no Rio com estações elétricas: Emiliano e Fairmont.
Os carregadores, nos dois hotéis, são da Porsche - algumas montadoras fazem parcerias com estabelecimentos comerciais para a instalação dos aparelhos. Minha primeira parada foi no Emiliano, em Copacabana, que tem duas estações AC.
A recarga é gratuita para hóspedes. Donos de Porsche Taycan podem usar o carregador gratuitamente mesmo que não estejam hospedados.
O Emiliano Rio é a segunda propriedade da pequena rede de hotéis de extremo luxo - a primeira é em São Paulo. Tem design inspirado na orla de Copacabana, criada pelo paisagista Burle Marx. Por todo o hotel, as vistas do mar, do Morro do Pão de Açúcar e da Praia de Copacabana são onipresentes.
Minha hospedagem foi na Ocean Spa Suíte, que fica dentro do spa Santapele e oferece uma experiência relaxante e inusitada. Os clientes são recebidos com escalda-pés e têm direito a massagem de 30 minutos. Além disso, todos os tratamentos do spa podem ser feitos dentro da suíte de 90 m², que tem quatro ambientes.
Um dos destaques é o banheiro de 30 m², com ducha cascata, jacuzzi, sauna e vistas incríveis para praia e suas extremidades. As diárias da suíte custam R$ 5.750.
O Emiliano tem dois restaurantes. O Emile, no térreo, já foi eleito o melhor francês do Rio. O do rooftop é focado em gastronomia saudável e oferece muitos pratos que combinam ingredientes da culinária brasileira a frutos do mar. Ambos são abertos ao público.
No Emiliano, os carregadores estão na garagem, no subterrâneo. No Fairmont, as duas estações estão na entrada do hotel, bem à vista, mas as regras são as mesmas: livre para hóspedes e para donos de Porsche Taycan.
O Fairmont fica bem na ponta da Praia de Copacabana, quase no Arpoador. Sua posição permite vistas ainda mais incríveis que as do Emiliano, embora o requintado hotel da rede Accor esteja um nível abaixo em sofisticação.
O Emiliano é mais exclusivo e voltado a experiências personalizadas. O Fairmont é mais focado na badalação e na vida social (leia mais abaixo).
No sexto andar do Fairmont Rio, além da recepção, estão a piscina, o restaurante Marine Restô (considerado atualmente um dos melhores do Rio de Janeiro) e o bar Spirit. Por ali, dá para avistar, além do Morro do Pão de Açúcar e do forte, toda a extensão das praias de Copacabana e do Leme.
O Fairmont se tornou, em pouco tempo, um epicentro de badalação no Rio de Janeiro. A piscina está aberta para day use e os bares e o restaurante são frequentados constantemente por não hóspedes. Se o Emiliano é a paz, esse hotel é puro agito.
Minha hospedagem foi na suíte One Bedroom Gold, com 70 m². Os destaques são as vistas panorâmicas. Há duas sacadas na sala e duas no quarto da suíte de canto, que garantem um visual deslumbrante do cartão-postal mais famoso do Rio de Janeiro.
A suíte tem três ambientes espaçosos (quatro com closet, sala e banheiro), cama king size e o café da manhã (buffet) para seus hóspedes é incluído. Os preços das diárias partem de R$ 3.220. No Emiliano, os hóspedes da Ocean Spa pagam R$ 120 pelo café da manhã a la carte.
Os carregadores de ambos os hotéis são de 22 kW, mas o hóspede não precisa se preocupar. Basta deixar o carro com a equipe da recepção, que providencia a recarga do veículo. As diárias no estacionamento do Fairmont custam R$ 100. No Emiliano, são R$ 85.
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