Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Fim do carro de entrada? Por que veículos podem ficar ainda mais caros
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"Não é a quantidade de SUVs o que mais me preocupa. É o futuro do carro de entrada." Esta frase, de um executivo de marketing e vendas de uma grande montadora, foi o início de uma conversa com um toque sombrio sobre o futuro dos modelos zero km mais acessíveis do Brasil.
Os carros brasileiros estão com preços em disparada desde o início de 2020. A pandemia, a falta de insumos e as altas do dólar e inflação pioraram um problema que já vinha se desenrolando na indústria há algum tempo.
Atualmente, mês a mês há algum aumento, e o carro zero km mais barato do Brasil já passa dos R$ 60 mil. E há uma má notícia. De acordo com fontes ouvidas pela coluna, as montadoras estão segurando os preços dos modelos de entrada. Para que voltem a gerar margem para suas fabricantes, teriam de custar bem mais.
É que, além do panorama acima, todos os demais custos estão muito altos. O transporte de veículos e peças, por exemplo, ficou quatro vezes mais caro que há cerca de quatro anos. Mas como repassar esse reajuste aos veículos de entrada, se o público-alvo desses automóveis perdeu poder aquisitivo nos últimos cinco anos?
O futuro carro de entrada
No atual panorama de preços, o consumidor se vê obrigado a fazer downgrade. O que isso significa? Para exemplificar na prática, muitos clientes de SUVs de luxo, de marcas como Audi, BMW, Mercedes-Benz e Volvo, migraram para modelos de montadoras generalistas, como Compass e Commander, da Jeep.
Esses carros custam hoje o que um BMW X3 zero-km, por exemplo, valia cinco anos atrás. E, embora o público de modelos de maior valor agregado tenham sofrido menos que os clientes de veículos de entrada, a renda não aumentou na mesma proporção da alta dos carros.
Até porque a inflação é geral. Nos automóveis, ficou até percentualmente menor que em outros produtos, como os alimentos, por exemplo. O custo de vida aumentou.
Mas se existe um downgrade de segmento na indústria automotiva, para "onde" vão os antigos consumidores dos modelos de entrada? A aposta de especialistas é: esses clientes vão voltar aos automóveis usados.
Antes da alta do consumo de zero-km ganhar força, algo que ocorreu a partir do fim da primeira década deste século, os usados eram a resposta para muitos consumidores. Assim, o panorama sugerido é uma volta ao passado, e um grande retrocesso para a indústria nacional em termos de volume.
Mas há um problema: os preços dos usados acompanharam a alta dos novos. Ainda são mais baratos, mas inacessíveis (ao menos, no caso dos seminovos) para alguns dos antigos consumidores de zero-km de entrada.
Carros de entrada vão morrer?
O segmento de modelos de entrada está condenado? Não. Embora tenha perdido participação nos últimos anos, ainda é a principal categoria do Brasil. Se uma montadora a abandona, está abrindo espaço para o ganho de participação de outra.
A Fiat vai lançar em breve o novo Argo. A Volkswagen está tirando o Gol de linha, mas já tem o nome de seu sucessor: Polo Track. A Citroën lança agora o novo C3.
Porém, os carros de entrada de hoje não são como os de antigamente. Uno e up!, por exemplo, saíram de linha. Modelos como Onix, HB20, Argo e Polo já vêm em versões bem equipadas. As razões são inúmeras. Entre elas, está o foco naquele consumidor que comprava SUVs, ou sedãs, e se viu obrigado a fazer o downgrade.
E quanto ao aumento de preços? Eles podem mesmo acontecer nesse novo panorama de mercado. No entanto, por ora, há maneiras de as marcas compensarem essa perda de receita. Entre elas, ajustar o prejuízo no valor de veículos com maior valor agregado (e com maior retorno de lucratividade), como SUVs e picapes médias.
As montadoras, por sua vez, almejam junto ao governo medidas para reverter a situação. O afrouxamento da carga tributária é sempre a principal - e não apenas para o produto, mas para toda a cadeia produtiva.
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