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REPORTAGEM

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Como é dirigir a 300 km/h em via pública sem o risco de levar uma multa

Vista aérea de uma rodovia na Alemanha (autobahn) - Envato Elements
Vista aérea de uma rodovia na Alemanha (autobahn) Imagem: Envato Elements

Colunista do UOL

09/03/2023 04h00

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A Alemanha é considerada uma referência quando o assunto é produção de carros, especialmente os do segmento de luxo. A maior marca nascida no país é a Volkswagen, mas lá também foram criadas a Audi, a BMW, a Mercedes-Benz e a Porsche. Automóvel alemão tem credibilidade e é sonho de consumo.

Mas muitos poderiam perguntar: de que adianta ter carros tão tecnológicos, equilibrados e rápidos, se não é permitido acelerar? No Brasil, Itália, Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo, não dá para fazer isso mesmo. Só em pista fechada. Mas, na Alemanha, é diferente.

Aliás, é possível que você já saiba disso, principalmente se for um entusiasta do mundo do automóvel. As autobahns, como são chamadas as rodovias alemãs, estão na lista de desejos de quem ama carros. Afinal, quem não quer dirigir sem limite de velocidade sem cometer infração e levar multa?

O parágrafo acima está correto. As rodovias rápidas alemãs não têm limite de velocidade na maior parte de seus trechos. O motorista pode acelerar até o ponto que bem entender, e não estará fazendo nada de errado.

Mas como funcionam as rodovias alemãs? Elas são seguras? Em que locais dá para acelerar até o limite? Tem pedágio caro? Eu já guiei em autobahns diversas vezes. A mais recente foi no mês passado, ocasião em que pude me atualizar sobre as regras e a etiqueta para usar a rodovia. Aqui, compartilho tudo o que você precisa saber sobre as emblemáticas estradas.

O que é autobahn?

Autobahn não é o nome de uma rodovia. Autobahn é a palavra alemã para autoestrada, ou rodovia (assim, como, em inglês, o termo é highway). Por isso você sempre vai ler o termo aqui com a primeira letra minúscula. Afinal, não é nome próprio.

São chamadas de autobahns estradas de mão dupla da Alemanha. Aqui no Brasil, seria equivalente a rodovias como Anhanguera, Bandeirantes e Castelo Branco, entre outras. Mas, diferentemente dessas vias nacionais, as alemãs não têm pedágio.

Já houve estudo para introduzir a cobrança para veículos estrangeiros que rodam na rodovia, e essa questão ainda não foi encerrada. Mas, por enquanto, a passagem continua livre.

A maior parte dos trechos nas autobahns tem três faixas, mas há alguns com apenas duas.

Como é o estado de conservação?

Já rodei em autobahns em regiões diferentes da Alemanha, e nunca vi nenhum trecho com piso irregular. As rodovias são muito bem pavimentadas, algo essencial para que seja permitido trafegar sem limite de velocidade.

Painéis autobahn - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Painéis eletrônicos mostram os trechos limitados
Imagem: Getty Images/iStockphoto
Não há ondulações e superfícies irregulares no piso e, nos trajetos, é bem comum ver muitos trechos em obras. As autobahns estão em manutenção constante. Há estradas com poucas curvas e outras com muitas.

Obviamente, é recomendável reduzir a velocidade em curvas, como em qualquer local. Mas até as curvas da autobahn foram planejadas considerando a alta velocidade.

Onde posso acelerar?

Embora a maior parte dos trechos seja sem limite de velocidade, há aqueles em que se impõe uma máxima permitida, que pode variar de 80 km/h a 120 km/h. Esses locais são saídas e entradas da via, entornos de cidades e também áreas em obra ou com ocorrência de acidentes ou incidentes.

Por isso, além das placas fixas, há diversos painéis que são atualizados, ligados e desligados pela administradora das rodovias. Ou seja: os trechos sem limite de velocidade não são fixos, o que requer atenção.

Um auxílio importante vem dos próprios carros alemães. Atualmente, grande parte sai de fábrica com leitor de faixas, e o sistema realmente funciona. Certifique-se de que o seu tem a tecnologia e fique de olho no painel. Vai ajudar bastante.

A placa que indica os locais com velocidade livre é branca, com listras pretas diagonais. Ver essa indicação é a senha: pode pisar fundo no pedal do acelerador, pois, a partir dali, não há mais limites.

Fiscalização

Se acelerar é livre, sair impune a uma contravenção em trechos com limite limitados é difícil. As autobahns são cheias de radares, e eles estão até nos locais sem limite de velocidade - como expliquei acima, eles não são fixos.

E sabe aqueles filmes americanos em que um Mustang da polícia surge do nada para abordar o motorista contraventor? Na Alemanha é a mesma coisa, e muitas vezes o veículo da autoridade não está nem identificado.

Placa autobahn - Divulgação - Divulgação
Placa indica trecho sem limite de velocidade
Imagem: Divulgação
Já aconteceu comigo: fui abordada pela fiscalização, e isso nem ocorreu por uma infração cometida por mim. Eu estava no limite de velocidade. Porém, um carro de mesmos modelo e cor, e com apenas um número diferente na placa de identificação (ambos pertenciam à mesma empresa), havia ultrapassado os 200 km/h em um local com limite de velocidade.

Felizmente, eu estava acompanhada por uma amiga brasileira que vivia na Alemanha, e falava fluentemente o idioma do país. Ela conseguiu explicar a situação às autoridades e evitar que, na hora, eu fosse penalizada com uma multa.

Por isso, conhecer as regras e a etiqueta nas autobahns é fundamental. Se há liberdade, há também penalidade praticamente certa para quem transgride a lei.

Etiqueta

A regra de permitir velocidade livre, como quase tudo na Alemanha, é guiada não apenas por leis, mas também pelo bom senso e boa fé dos usuários. Lembra do caso do milionário tcheco que acelerou seu Bugatti Chiron a 414 km/h em um trecho sem limite de velocidade em uma rodovia alemã?

O dono do carro postou o vídeo no YouTube e o caso acabou sendo investigado pelas autoridades alemãs. O tcheco corria o risco de ser preso. Porém, a história terminou bem para ele.

O que estava em julgamento ali não era apenas a velocidade de 414 km/h, mas a possibilidade de o motorista ter cometido alguma imprudência que colocasse a vida de outros usuários em risco. A análise do vídeo concluiu que não foi o caso: havia boa visibilidade e poucos carros na via no horário. Além disso, o dono do Bugatti fez todas as ultrapassagens pela esquerda. Ele seguiu tanto as regras, quanto a etiqueta.

E o que dizem as regras e a etiqueta? A faixa da esquerda é para ultrapassagem apenas. O motorista deve ultrapassar e, mesmo que esteja em velocidade alta, tem de se dirigir em seguida para as da direita. Na Alemanha, essa regra funciona muito bem.

Impacientes devem se controlar nas autobahns. É comum ver um carro a 250 km/h ficar "preso", na esquerda, atrás de um a 150 km/h, por exemplo. O que fazer? Tirar o pé e esperar, pois acionar a "luz alta" para pedir passagem é considerado descortesia na Alemanha.

O carro mais lento abrirá passagem, voltando para as faixas da direita, assim que terminar de fazer suas próprias ultrapassagens. Na Alemanha, guardar a faixa da esquerda para si é contra a etiqueta e também contra as regras.

Há uma velocidade máxima tolerada?

O Bugatti de 414 km/h deixa claro que, quando a velocidade está acima do usual, pode haver investigação. Nesse caso, ela provavelmente ocorreu porque o motorista em questão divulgou o vídeo no YouTube - e a história ganhou repercussão.

Mas se não há direção perigosa, nem atitudes que gerem risco a si mesmo e outros usuários, o fato é que, realmente, não há limite. Mas qual é a máxima usual? 250 km/h.

Tanto que, anos atrás, montadoras da Alemanha fizeram uma espécie de acordo de cavalheiros para limitar a velocidade de seus carros a 250 km/h. Mas as próprias envolvidas no pacto têm suas exceções.

É o caso de modelos esportivos como o Porsche 911 e automóveis das divisões de preparação quattro (que faz os RS, da Audi), Motorsport (BMW) e AMG (Mercedes-Benz). Alguns desses modelos abrem mão do limitador, atingem facilmente os 300 km/h e, muitas vezes, ultrapassam essa marca.

Minhas impressões

Qual é a marca máxima que atingi em uma autobahn? 300 km/h, de Audi RS6 Avant. Nesta última experiência, de Audi RS e-tron GT, cheguei a 236 km/h. Outro jornalista, que estava comigo, conseguiu levar o automóvel elétrico à sua máxima, e alcançou 263 km/h.

Por que não consegui? A estrada estava com tráfego, e eu sempre me deparava com outro motorista, mais lento, fazendo ultrapassagem, o que me obrigava a reduzir. Além disso, as curvas, por mais que sejam projetadas para alta velocidade, me intimidavam um pouco, e eu acabava diminuindo a velocidade antes de chegar a elas.

Fato é que, quando atingi os 300 km/h com a perua RS6, era noite e havia poucos carros na via. Mas eu não consegui ficar a essa velocidade por muito tempo. Manter um número tão alto no velocímetro requer uma atenção absurda e, após alguns minutos, é comum se ver cansado, reduzir e mudar para as faixas da direita.

Meu limite para um rodar constante na autobahn fica entre 180 km/h e 200 km/h. A essas velocidades, me sinto segura. E, mesmo nelas, dá para reduzir bastante o tempo de viagem.

Certa vez, de Milão (Itália) a Munique (Alemanha), o GPS do carro apontava seis horas de viagem, e manteve essa previsão enquanto eu passava pela Itália e cruzava a Suíça. Mas, ao chegar à Alemanha e assumir velocidades entre 180 km/h e 200 km/h, o tempo despencou.

Nos 300 km, do total de 500 km, rodados no país das autobahns, eu acabei conseguindo reduzir minha viagem para cerca de quatro horas e meia.

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