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Brasil terá dois novos SUVs para ameaçar o reinado do Jeep Compass

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Há cerca de dez dias, Fabian Bruzon, seguidor em meu perfil no Instagram, enviou a foto de um Honda camuflado rodando Sumaré, no interior de São Paulo - cidade que é sede da montadora japonesa. A princípio, pela traseira, imaginei que fosse uma versão do City com saída de escape mais bonitinha - o do carro é pendurada, como a do Corolla Cross.

Mas Bruzon contou que o modelo flagrado parecia tão alto quanto seu SUV, que tem 1,65 m. A resposta: Honda ZR-V. Mas quem é esse "cara"?

É mais um produto da ofensiva que as marcas estão fazendo contra o Jeep Compass, um rei no segmento de SUVs médios desde 2016.

Há dois anos, foram lançados no Brasil dois rivais importantes do Compass: Corolla Cross e Taos. Os dois modelos têm vendas consideráveis - principalmente o Toyota. No entanto, eles não afetaram o volume de emplacamentos do Jeep.

O Compass continua sendo não apenas o SUV médio mais vendido do Brasil (com folga), como também um dos utilitários-esportivos mais emplacados. Ele supera, inclusive, a maioria dos compactos.

E por falar em compactos, o mercado já está saturado. Atualmente, todas as principais marcas do Brasil têm representantes no segmento. O momento é de voltar os esforços para outras categorias. A de picapes está em alta, e a de SUVs médios ainda tem muito espaço para ser explorada.

Não é à toa que a novata GWM (Great Wall Motors) escolheu essa categoria para entrar no mercado brasileiro. Seu Haval H6 tem três versões. A de entrada, que deverá ser a de maior volume, foi a escolhida para encarar o Compass, bem como o Corolla Cross e o Taos.

Aqui, a análise é sobre as chances do Haval H6 e o ZR-V, os próximos concorrentes do Jeep Compass.

Haval H6 pode fazer frente ao Compass?

Será o Haval H6 o produto que vai tirar volume de vendas do rei do segmento, o Jeep? Eu cravo a resposta: não! E isso não tem nada a ver com a qualidade do produto, da qual falaremos adiante. São outros dois fatores que me levam a essa certeza.

No mercado de luxo, a experiência da BMW mostra que ter fábrica no Brasil, atualmente, é fundamental para marcas que querem volumes mais altos. Nesse caso, depender das importações, ainda mais em uma época em que a crise de produção mundial ainda é uma realidade - embora mais amena agora -, não é uma boa ideia.

Haval H6 HEV dianteira - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
E o Haval H6 é importado da China. A GWM terá fábrica no Brasil a partir de 2024. Ainda não está confirmado se o SUV médio será um dos carros nacionais. Mas, independentemente disso, por pelo menos um ano o modelo será trazido do país asiático.

A GWM informa que tem alto volume garantido, embora não revele números. É esperar para ver. Mas há o segundo fator. Embora o Haval H6 tenha três versões, apenas a de entrada, HEV, é concorrente de Compass, Corolla Cross e Taos.

O HEV é o único híbrido paralelo, ou por regeneração. É a mesma tecnologia usada pelo Corolla Cross. As demais versões, bem mais caras, são plug-in.

O modelo está posicionado para concorrer apenas com as versões topo de linha de Compass flex, Corolla Cross e Taos. E a linha variada, que o chinês não tem, é um dos fatores que levam ao sucesso dos três modelos.

Por isso, o Haval H6 HEV alcançará um público mais limitado que o dos três concorrentes. Se for um dos escolhidos pela GWM para a produção no Brasil, a marca pode optar por maior flexibilidade de versões, mais ou menos equipados. Aí, a partir de 2024, esta análise pode mudar.

Os méritos do Haval H6 HEV

O Haval H6 HEV custa R$ 209 mil. Há Compass, Corolla Cross e Taos a partir da casa dos R$ 170 mil. Porém, nas versões topo de linha, os três (todos produzidos no Brasil) são mais caros e menos equipados que o modelo chinês.

Haval H6 HEV interior - Divulgação - Divulgação
Interior do Haval H6
Imagem: Divulgação
Um dos diferenciais do Haval é a potência de seu motor. São 243 cv entregues pelo conjunto híbrido. Outro ponto forte é a lista de equipamentos. Por ora, ele vem de série com teto solar panorâmico, Wi-Fi a bordo gratuito (por dois anos), comando de voz capaz de controlar diversas funções (mas sem inteligência artificial) e muitos sistemas de assistência à condução.

Esse pacote inclui ACC e leitor de faixas com função de correção, que formam o sistema semiautônomo de condução de nível 2. O mais legal? O auxílio ao estacionamento é 100% autônomo. O motorista não precisa nem mesmo acionar as funções "Drive" e ré no botão giratório do câmbio.

O espaço interno é superior ao de todos os concorrentes, principalmente por causa do assoalho plano. O Haval H6 HEV é o que mais bem acomoda três pessoas.

E o ZR-V?

O ZR-V tem mais chances que o Haval H6 de ser uma verdadeira ameaça ao Compass. Ao menos por enquanto. A principal razão: a Honda.

Enquanto a GWM é uma marca que nem estreou no Brasil ainda (os primeiros carros serão entregues em abril), a Honda tem uma reputação quase tão alta quanto a da Toyota.

O Honda ZR-V será lançado no mercado brasileiro ainda este ano. Trata-se de um modelo 16 cm maior que o HR-V. Ele tem 4,57 metros de comprimento, o que o coloca em mais de 10 cm de vantagem ante o seu principal rival, o Compass.

Honda ZR-V traseira - Honda/Divulgação - Honda/Divulgação
Imagem: Honda/Divulgação
Mas a distância entre-eixos não é tão superior assim. São 2,65 m. Isso significa que o espaço traseiro será semelhante ao do Jeep? Não necessariamente. Não é apenas esse parâmetro que define a boa acomodação dos passageiros de trás. E a Honda costuma se destacar nesse aspecto, independentemente do segmento.

As dimensões acima são, na verdade, do HR-V. Mas não o brasileiro, e sim o oferecido aos norte-americanos. É que o ZR-V a ser vendido no Brasil é o HR-V feito para os Estados Unidos, diferente do brasileiro.

O HR-V produzido no Brasil é menor e esteticamente diferente. O ZR-V (HR-V dos EUA) não tem, por exemplo, as lanternas interligadas. A grade frontal também traz um visual que nada traz em comum com a do SUV compacto nacional.

Motor e procedência

O HR-V dos norte-americanos é produzido no México. E é deste país que deverá vir o ZR-V oferecido no mercado nacional. Nesse caso, ele será praticamente o mesmo vendido nos EUA.

Por lá, entre os motores, há um 2.0 aspirado. Por aqui, não dá para apostar algo diferente: o carro virá com o 1.5 turbo. Afinal, esse propulsor está até nas versões topo de linha do HR-V brasileiro.

E há possibilidade de o ZR-V se tornar nacional? Não é algo tão simples. Atualmente, os modelos brasileiros da Honda (linha City e HR-V) usam a mesma plataforma. Já a do rival do Compass é diferente. É a base do Civic, que deixou de ser produzido no Brasil.

A nova geração do sedã chegou no início do ano, importada da Tailândia. Ter uma plataforma já em operação é um passo importante, se não fundamental, para determinar a produção de um carro em um país como o Brasil. Não é o caso do ZR-V.

E é justamente a importação do México que pode afetar os planos do ZR-V. O país tem acordo de comércio livre de impostos alfandegários com o Brasil, diferentemente da China.

Porém, a produção do México tem como principal alvo os Estados Unidos. Sem um produto nacional, a Honda não consegue garantir um volume para encarar o carro da Jeep, cuja média mensal é de pelo menos 5 mil exemplares.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado, o comprimento do Honda ZR-V é de 4,57 m, e não 2,57 m. A informação foi corrigida.