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Futuro é chinês? Por que país lidera corrida por elétrico barato no Brasil

O carro elétrico mais barato do Brasil foi lançado no ano passado. E também no retrasado. Antes, era o JAC e-JS1. Depois, vieram o Renault Kwid e-tech e o Caoa Chery iCar. Esses modelos foram marcos no mercado de veículos 100% a eletricidade. Antes, todos passavam de R$ 200 mil. Os três produtos, então, reduziram o patamar de preços para R$ 150 mil.

Com isso, os carros elétricos passaram a custar o mesmo que as versões intermediárias de SUVs a combustão - que, em muitos casos, são as mais vendidas das gamas no segmento de maior volume do Brasil. Mas isso não foi suficiente.

Afinal, o que vale mais? Pagar R$ 150 mil por um SUV repleto de itens de série e boas tecnologias ou o mesmo valor por hatches de entrada, espartanos, de baixa autonomia e que só custam tudo isso por serem elétricos? A resposta é óbvia, certo? Mas, se não for, lá vai: racionalmente, claro que o utilitário-esportivo vale mais a pena.

Este ano, porém, outros dois modelos vieram brigar pelo posto de carros elétricos mais baratos do Brasil. Em comum, há o fato de ambos serem chineses. Um é o BYD Dolphin, lançado no início do mês de julho.

O outro foi apresentado na semana passada, durante o Festival Interlagos, evento que reuniu diversas montadoras em São Paulo. Trata-se do GWM Ora.

Protagonismo chinês

O Kwid é o carro de passeio mais barato do Brasil. Por isso, nada mais natural que sua versão elétrica também brigar por esse posto entre seus concorrentes. Isso faz do Renault o único não chinês a integrar a briga pela posição de automóvel elétrico mais em conta do País. Certo? Não é bem assim.

Apesar de ser um Renault, o Kwid elétrico também é importado da China. Isso coloca os carros do país asiático como protagonistas em um futuro mercado a eletricidade de volume - se esse cenário um dia, de fato, se tornar realidade no Brasil.

Existem algumas razões para o protagonismo chinês. Os modelos produzidos no país evoluíram bastante nas últimas décadas e trazem qualidade agora. Porém, ainda são mais baratos que os brasileiros, europeus, americanos e os feitos em outros locais da Ásia.

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Além disso, a China domina a tecnologia e a produção mundial de baterias para automóveis, o que dá vantagem ao país nessa corrida. Tanto que não é apenas no segmento de entrada que há bons automóveis elétricos chineses. A BYD, por exemplo, atua em várias categorias de carros, inclusive as de luxo - com veículos Han e Tan, ambos por mais de R$ 500 mil.

Outro fator é a posição das montadoras com grandes fábricas no Brasil em relação a modelos elétricos. Volkswagen e Stellantis (Fiat, Jeep, Ram, Peugeot e Citroën) vão caminhar para a eletrificação de alto volume com modelos nacionais híbridos flex. Os 100% elétricos deverão ficar restritos a nichos, por meio de produtos importados e com preços mais altos.

A Chevrolet defende um futuro elétrico e não descarta a possibilidade de produzir modelos 100% a eletricidade no Brasil. Porém, já dá a entender que, no mercado nacional, pelo menos no curto e médio prazo, os carros a combustão devem continuar sendo os protagonistas.

Se as grandes montadoras não estão dispostas a gastarem energia com carros elétricos mais baratos e de potencial volume, criam espaço para que as chinesas assumam esse protagonismo.

Em tempo: para tentar quebrar a hierarquia da China, a Peugeot reduziu em R$ 50 mil o preço de seu e-2008. Agora, o SUV elétrico sai por R$ 210 mil na categoria e-commerce. Porém, ainda custa bem mais que os chineses (veja lista abaixo).

Futuro é chinês?

Isso não quer dizer, no entanto, que a China será protagonista na indústria automobilística brasileira. Nem que o futuro será chinês. A aposta das grandes fabricantes do Brasil no híbrido flex foi minuciosamente estudada, considerando fatores como preço e outros entraves ao automóvel a eletricidade.

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Os elétricos mais em conta podem estar chegando, mas isso não quer dizer que custem pouco. Nem que a tecnologia esteja mais barata. O que está surgindo são modelos simples movidos a bateria. Muito simples. Talvez a exceção seja o Dolphin, que traz um pouco mais de sofisticação que os rivais disponíveis até então.

Além disso, mesmo sendo modelos de entrada, eles custam o mesmo que SUVs intermediários. Enfrentam também o problema da baixa autonomia, algo em comum entre a maioria dos elétricos mais baratos do Brasil.

São modelos limitados, bons para rodar na cidade. Cair na estrada com esses veículos não é uma missão simples - ainda mais considerando a infraestrutura de recarga do país, ainda embrionária.

Por isso, o carro elétrico, mesmo na categoria de entrada, continua sendo, para o consumidor pessoa física, um segundo automóvel. Aquele para pessoas que já têm um modelo, geralmente mais sofisticado, e querem adquirir esses produtos apenas para rodar na cidade. Ou seja, é para clientes de bom poder aquisitivo.

Outro grupo de potenciais consumidores são frotistas, que já vêm há alguns anos protagonizando a lista de clientes de carros elétricos que não são do segmento de luxo.

Preços dos carros elétricos mais baratos do Brasil

JAC e-JS1 - R$ 139.900
Caoa Chery iCar - R$ 139.990
BYD Dolphin - R$ 149.800
Renault Kwid e-Tech - R$ 149.990
GWM Ora - R$ 160 mil (estimado)*

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*Ainda não chegou às concessionárias do Brasil

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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