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Saveiro: por que a Volkswagen perdeu a oportunidade de derrotar a Strada

Ela ficou oito anos sem receber mudanças importantes. E, quando elas vieram, a decepção foi inevitável. A Saveiro ganhou um tapinha no visual, versão de topo com outro nome e teve alterações na lista de equipamentos. A concorrência - Fiat e Chevrolet, principalmente - deve ter ficado aliviada.

Mas, no ano das picapes, em que modelos de todos os portes estão sendo lançados nessa categoria, por que a Volkswagen perdeu a oportunidade de criar um produto à altura da Strada, um modelo com reais chances de derrotar a rival da Fiat?

A Strada é o veículo mais vendido do Brasil e trouxe coisas muitos importantes nessa nova geração, como versões com quatro portas e um multimídia que, embora tenha tela menor, traz sistema operacional semelhante ao dos modelos mais modernos da Fiat. Não é um tapinha no visual que vai conseguir colocar a Saveiro em igualdade.

Para conseguir ser páreo para a Strada, a Saveiro teria de passar por uma verdadeira revolução. Seria um desenvolvimento muito caro para a plataforma do produto, a PQ24. Trata-se da mesma arquitetura do Gol e do Voyage, ambos já fora de linha.

Então, por que não começar tudo do zero e criar uma picape sobre uma das plataformas mais tecnológicas do Brasil, a MQB0? Essa é a base de Polo, Virtus, Nivus e T-Cross. A resposta é outra pergunta: quem disse que a Volkswagen não está fazendo isso?

Rival para a Toro

A Saveiro é uma das picapes mais vendidas do Brasil. Com 41 anos de mercado e há oito anos sem mudanças importantes, pode até estar defasada. Porém, ainda vende muito bem. No ano passado, teve cerca de 25 mil exemplares emplacados.

Em julho, foi a segunda picape mais vendida do Brasil, atrás apenas da Strada - claro que a queima de estoque da linha 2023, em preparação para a chegada da 2024, contribuiu para isso.

Por isso, o objetivo da Volks não é acabar com a Saveiro, e sim trazer uma nova picape para somar. A veterana recebeu alterações para ganhar sobrevida e continuar indo bem, mesmo sem conseguir se aproximar da Strada. Enquanto isso, de acordo com fontes, a montadora prepara um terceiro produto para o segmento - que traz também a Amarok.

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Trata-se da picape da plataforma MQB. Uma leitura do que será esse produto já foi vista no Salão de São Paulo de 2018, por meio do protótipo Tarok. O modelo final não será necessariamente aquele carro conceitual.

Porém, na mostra de 2018, a VW já deixou claro o que é capaz de fazer com a plataforma MQB0, que é modular e extremamente flexível: um produto com porte de Toro. É este modelo da Fiat o alvo da nova picape da montadora alemã - não a Strada.

Diferenças ante a Montana

Com a Montana foi diferente. A expectativa era um modelo para concorrer com a Toro. Na prática, veio um produto bem menor que a intermediária da Fiat, mas maior que a Strada. Com porte de Oroch, o veículo acabou sendo posicionado como concorrente das duas picapes da marca italiana.

Nas duas primeiras gerações, a Montana era rival direta da Strada. Nesta nova, feita sobre a base de Onix, Onix Plus e Tracker, a Chevrolet decidiu aproveitar o nome. A Volkswagen não irá pelo mesmo caminho.

A Saveiro continua sendo Saveiro, e sobrevive com a missão de ser a concorrente da Strada. Para o novo produto, deverá ser escolhido outro nome. Mas abandonar uma denominação consagrada?

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Se a Volkswagen fez isso com Gol e Voyage, fica claro que não tem nenhum problema em não adotar o nome Saveiro em sua nova picape. Ela vem completamente nova, e só faz sentido ao se afastar completamente da veterana. Ou seja: não ter nada a ver com a Strada, e sim com a Toro.

Vai vender mais?

Antes existia o imbatível EcoSport, lançado em 2003. Apenas em 2015 vieram dois modelos capaz de superá-lo, o HR-V e o Renegade. A Toro é de 2017 e, até agora, não encontrou uma rival à altura.

Quando um produto é uma estratégia tão certeira quanto o EcoSport e a picape da Fiat, a concorrência se mexe. Mas leva tempo para que consiga criar um produto à altura, ou melhor. E, no caso específico da Toro, a minha análise é de que as demais montadoras não estão procurando, nesse momento, superá-la em vendas.

Isso porque a Toro tem dois trunfos que são difíceis para as concorrentes: a tração 4x4 e o motor a diesel. Sua plataforma, compartilhada com modelos da Jeep e Ram, permite essas duas características. E, como está em diversos modelos que trazem o mesmo atributos, reduz os custos (a Small Wide é também a base do Renegade, Compass, Commander e Rampage).

Por isso, as rivais da Fiat focam nas versões flex da Toro, que têm tração 4x2. O objetivo agora é superar as configurações que usam esse propulsor, não toda a gama. Para a Montana, que é menor, essa missão é mais difícil.

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Mas se a picape da plataforma MQB0 vier mesmo com porte de Toro, pode ser a primeira ameaça real para o modelo da Fiat. Vai ter tração 4x4? Pode ter: afinal, a plataforma é flexível o suficiente. A VW terá de avaliar se isso valerá a pena.

Afinal, só a Toro a diesel é 4x4. E esse tipo de propulsor, embora não impossível para a VW do Brasil, é improvável.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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