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Como uma grande jogada salvou o maior salão de automóvel do mundo

A pandemia reforçou um fenômeno que já vinha se preparando para ocorrer mesmo antes dela: a decadência dos salões automotivos pelo mundo. Após o IAA 2017, em Frankfurt (Alemanha), cada vez mais montadoras foram abandonando essas feiras.

Com a popularização das redes sociais, entre outros fatores, o público foi perdendo o interesse pelos salões de automóvel. E as montadoras passaram a investir menos nesses eventos coletivos - que consomem alto investimento - , para promover experiências individuais, bem como reforçar seus conteúdos no universo digital.

Quando cheguei ao dia de imprensa do IAA 2023 (uma prévia do evento antes da abertura ao público), meu pensamento foi: é o fim. Em vez dos estandes hollywoodianos de outrora, pequenos espaços com carros não muito interessantes. Até havia muitas marcas presentes e o crescimento da participação de chinesas, como a BYD, chamou a atenção.

Muitos estandes expunham soluções tecnológicas e até de TI. O espaço, no centro de exposições Messe München, estava feio, frio, sem brilho. Como um evento assim iria despertar o interesse do público?

Minha primeira conclusão foi: o IAA - agora IAA Mobility - não é mais uma feira para o consumidor, e sim para o próprio negócio. Um espaço para concessionárias, fornecedores e outros profissionais da cadeia automotiva.

Estande da Mercedes-Benz
Estande da Mercedes-Benz Imagem: Rafaela Borges/UOL

Mas no dia seguinte à prévia para a imprensa, quando o IAA Mobility abriu as portas para o público, em 5 de setembro, ficou claro que eu estava certa, mas também errada. E eu entendi porque, após décadas sendo realizado tradicionalmente em Frankfurt, o evento trocou, em 2021, essa cidade por Munique. A substituição foi o primeiro passo para a Alemanha salvar o maior salão de automóvel do mundo.


Troca de cidades

Frankfurt é uma das capitais financeiras da Alemanha e sede do maior aeroporto do país. Não é, porém, um local muito atraente para turistas. Diferentemente de Munique, a mais importante cidade do sul do país e um de seus destinos mais visitados.

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Munique tem um centro histórico vibrante, repleto de história e de construções seculares bem preservadas. É a capital da cerveja e sede da famosa feira Oktoberfest, em que essa bebida é a atração.

Muitos vão à cidade para viajar por pouco mais de uma hora até o Neuschwanstein Castle, também conhecido como castelo da Cinderela - que teria inspirado a famosa atração da Disney. Trata-se de um dos locais mais visitados da Alemanha.

Volkswagen: 'cidade do automóvel' para crianças
Volkswagen: 'cidade do automóvel' para crianças Imagem: Rafaela Borges/UOL

Turistas lotam a região central à procura de restaurantes, cervejas, atrações históricas... E encontram um salão de automóvel a céu aberto.

A presença das montadoras é ampla. Estão lá todas as alemãs importantes - Volkswagen, Audi, BMW, Mercedes-Benz e Porsche -, a maioria mostrando novos carros ou protótipos inéditos. Mas as estrangeiras, como Ford, Renault, BYD e Tesla, também participam.

Diante dos esvaziados salões de Paris e Detroit do ano passado, sem adesão de quase nenhuma montadora importante, o IAA foi é uma verdadeira volta aos velhos tempos. Mas com uma roupagem completamente nova.

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Salão do povo

Os estandes hollywoodianos estão de volta, mas não apenas com carros. Eles trazem diversas outras atrações e ativações. Imagine testar um Porsche, BMW ou Mercedes-Benz. Para isso, basta se inscrever nos estandes dessas marcas, e escolher entre os modelos disponíveis para dar uma voltinha por Munique.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

Na Mercedes-Benz, a apresentação do Concept CLA Class, conceito considerado o mais bonito do IAA, é um incrível show de luzes que atraiu muitos visitantes e turistas no primeiro dia do evento. As sessões estavam sempre lotadas. Ao final, a audiência pode desfrutar um bar com café e refrigerantes. Tudo gratuito.

Aliás, nesse novo salão, quem visita não paga nada. Não há cobrança de ingresso para entrada no estande nem para os test-drives.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL
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Passado encontra o futuro

Uma das grandes sacadas do IAA 2023 foi usar os pontos históricos mais importantes de Munique para instalar estandes para lá de futuristas. A Odeonplatz, construída no início do século XIX, é como um portal para a área em que estão os estandes da Volkswagen, Renault e BYD. Logo à frente, a Residenz, maior palácio urbano da Alemanha, já foi residência de duques e reis da Baviera - região em que está a cidade.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

BMW e Audi, por sua vez, dividem o espaço na famosa Maximiliam Platz, enquanto BMW e MIni ocupam a Max-Joseph Platz, que marca o início da mais sofisticada rua da cidade, a Maximiliam. Claro que muitas pessoas estão em Munique exclusivamente para ver os carros do salão. A cidade está cheia e os hotéis, com preços bem mais altos que o normal, algo comum quando aumenta a demanda em decorrência de um evento.

Por outro lado, muitos visitantes não são entusiastas. São turistas e moradores que estão passando pelas ruas da cidade e aproveitam o passeio para conhecer as novidades da indústria automotiva. Afinal, os entusiastas que frequentavam as mostras em pavilhões são apenas um nicho de cliente.

A maior parte dos consumidores é formada por pessoas que não são apaixonadas por carros, mas precisam deles como um meio de locomoção. Se esse cliente não quer ir ao pavilhão, nada mais sensato do que levar o estande a ele.

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O IAA 2023 nem terminou e já pode ser considerado um sucesso. Os estandes estavam lotados de pessoas interessadas naquilo que as montadoras têm a mostrar. Essa grande jogada marca a reação - e talvez a salvação - dos salões de automóvel em geral e da maior mostra de carros do mundo em particular. Até então, esses eventos pareciam condenados à morte.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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